*Nota
introdutória: Originalmente, a ideia era postar o artigo inteiro de uma vez
só, mas como essa primeira parte ficou bem maior que eu imaginava, com quase 60
páginas, decidi postar aqui em separado e deixar para postar o restante quando acabar
de escrever. Boa leitura!
***
Recentemente tive dois debates
com o ateu Vinícius Sena, onde abordamos, entre outros assuntos, a origem de Yahweh
(que se você não viu, pode assistir aqui e aqui). Nos dois debates
(principalmente no segundo) ele citou tantas vezes o filólogo alemão Thomas
Römer que eu até perdi as contas, mas provavelmente foi mais do que o Galvão
disse “lá vem eles de novo” em 2014. Fiquei com a impressão de que Römer é o
papa dos teólogos liberais, escrevendo do alto de sua cátedra de
infalibilidade. Essa impressão foi confirmada após o meu debatedor ir chorar as
mágoas cinco minutos após o debate no canal de certo professorzinho da caverna que
passou 4h espumando pela boca ataques à minha pessoa e, é claro, citando Thomas
Römer.
O leitor que me acompanha há
mais tempo sabe que eu nunca me importei em refutar as teorias liberais, porque
elas são tão estupidamente esdrúxulas que para refutá-las não é preciso uma
extensa bibliografia, basta ter um cérebro e saber usá-lo. Isso porque
virtualmente todos os argumentos deles se baseiam em pressupostos absurdos e na
distorção pavorosa de textos bíblicos, o que ficou claro nos debates quando ele
tentou usar a Bíblia para endossar suas opiniões delirantes. Como qualquer
pessoa que saiba interpretar um texto simples já está apta a refutá-los, nunca
julguei importante me dar ao trabalho de elaborar uma resenha crítica aos seus
autores. A única razão por que abri uma exceção ao livro de Römer é porque um
papa tem lá seus privilégios.
Em poucas linhas, a tese que Römer
defende em seu tão aclamado livro “A Origem de Javé” (que tem um título um
tanto quanto mais pretensioso na versão original francesa, “L'invention de Dieu”)
é que YHWH é um deus importado de Edom, Midiã ou de tribos nômades do deserto
do Egito (ele realmente não se decide), que originalmente era mais um entre
vários deuses adorados pelos israelitas, um deus da tempestade e da guerra que
estava abaixo do deus supremo El e que tinha uma consorte chamada Aserá, mas que
com o passar do tempo foi alcançando um status cada vez maior até ser alçado a
“deus único”, no período persa.
Como um bom teólogo liberal
adepto do método histórico-crítico (que já parte do pressuposto que a Bíblia é uma
fraude e que intervenções sobrenaturais são impossíveis), ele sempre se refere
a Deus com “d” minúsculo e nunca escreve “a.C” ou “d.C” (em vez de “antes de
Cristo”, ele prefere “antes da era comum”... que se inicia em Cristo). Mas,
afinal, teria Römer boas evidências em favor de sua tese para ser tão exaustivamente
citado como autoridade no assunto?
Antes de entrarmos no mérito da
questão, creio ser preciso discutir primeiro se os ateus que o citam estão
citando direito. Isso porque eles cometem dois erros graves ao citar Römer: em
primeiro lugar, tomam como certeza aquilo que para Römer é apenas uma
hipótese razoável (uma especulação, em suas próprias palavras), e em
segundo, ignoram completamente os trechos em que mesmo ele – como liberal e
crítico da Bíblia – rechaça várias teorias conspiratórias populares no meio
anticristão de internet e endossa a historicidade de muitos relatos bíblicos (ainda
que tenha as suas próprias conspirações que não ficam por menos).
• O Antigo
Testamento é um “conto da carochinha”?
David Ribeiro, um militante ateu
com quem também debati recentemente (veja aqui), é um dos que
afirmam que a Bíblia “é um conto da carochinha, da
Idade do Bronze, que não serve pra nada” (às 4h e 7m dessa live). Ele é
seguido de perto por uma legião de ateus que atacam a Bíblia nos mesmos termos
– “conto da carochinha”, “Idade do Bronze” e “gibíblia” fazem parte do
vocabulário cotidiano deles. A ideia é que a Bíblia, sobretudo o Antigo
Testamento, é pura invenção, uma fábula, um conto de fadas não essencialmente
diferente das estórias da Branca de Neve, da Cinderela ou dos Três Porquinhos.
Não é isso o que Römer defende. Apesar
dele já partir do pressuposto de que a Bíblia é um livro humano cheio de falhas
e retoques, ele está longe de fazer coro à narrativa de que tudo ali é
inventado, como pensam aqueles que o citam inadvertidamente. Contra aqueles que
pensam que as histórias da Bíblia foram frutos da súbita imaginação de alguém
em algum momento, ele escreve:
Ao falar
de "invenção de Deus", não imaginamos que alguns beduínos se
reuniram, um dia, num oásis, para criar seu deus ou que, mais tarde, escribas
forjaram integralmente Javé como um deus tutelar. Deve-se, de preferência,
compreender essa “invenção” como uma construção progressiva proveniente de
tradições sedimentadas cuja história desordenou os estratos até fazer emergir
uma forma inédita.
Ele critica a «posição
minimalista» (de que tudo na Bíblia é falso a priori) justamente porque “a posição minimalista despreza o fato de que os textos
bíblicos, por mais ideológicos que sejam, podem, entretanto, guardar traços de
acontecimentos históricos e de tradições antigas”.
Portanto, o que ele defende não é que um bando de inescrupulosos se reuniu num
determinado dia e começou a pensar nas estórias que poderia inventar, mas que as
histórias da Bíblia provêm de «acontecimentos históricos e de tradições antigas»
que foram sendo transmitidas adiante geração a geração e de certa forma
preservadas na memória popular.
Como veremos mais adiante, ele crê
que parte desses relatos foram manipulados pelos redatores, mas isso não
significa que para ele as histórias do AT não tenham ao menos um fundo de
verdade. Nem mesmo Moisés, aquele que é o mais ridicularizado e tratado como puro
mito pelos conspiracionistas que se apoiam em Römer, tem sua historicidade
abertamente rejeitada pelo mesmo. Mais uma vez, ele recorre ao “fundo de
verdade” e diz que
a
narrativa da fuga e da acolhida entre os midianitas é muito romanceada, e é
difícil reconstruir um acontecimento histórico por trás desse episódio. Ele
se baseia, talvez, sobre uma lembrança histórica da importância dos midianitas
e de um contato estreito entre eles e Moisés.
Mas como poderia haver uma «lembrança
histórica» de um «contato estreito» entre os midianitas e Moisés se este é
apenas o fruto da pena de um redator escrevendo um milênio mais tarde? Em outro
momento, Römer volta a trabalhar com a possibilidade da historicidade de Moisés
quando diz que “Moisés foi, talvez, o chefe de um
grupo de apiru que, saído do Egito, encontrou YHWH em Midiã e o deu a
conhecer, em seguida, a outras tribos do sul”.
Aqui vemos novamente o caráter altamente especulativo de suas conclusões, algo
que norteia o livro como um todo.
Curiosamente, nas poucas vezes
em que Römer afirma algo que não seja em caráter especulativo, é quando fala
das descobertas arqueológicas que comprovam a Bíblia – ou pelo menos trechos
dela, como ele prefere entender. Em mais um belo contraste com a teoria do
“conto da carochinha”, ele alega que um “bom número
de acontecimentos relatados nos livros dos Reis se encontra, com outra
perspectiva, nos anais ou inscrições assírias e babilônicas”.
Também escreve que há
numerosos
traços nas narrativas dos livros de Samuel e dos Reis que não podem ser pura
invenção. A passagem do Ferro I para o Ferro II (a partir de cerca de 1000
antes de nossa era) coincide com a origem dos reinos no Levante (Moabe, Amon,
os reinos aramaicos). O fato de que o nascimento de um “reino israelita” se dê
na zona de influência dos filisteus é, certamente, um dado histórico.
Note que estamos falando de
eventos que, para ele, só foram colocados por escrito mais de meio milênio mais
tarde, e mesmo assim preservam com exatidão os fatos históricos que podem ser
corroborados em fontes externas à Bíblia. Um dos que são mais bem corroborados
historicamente é o rei Ezequias, que reinou por três décadas no reino do sul a
partir de 715 a.C. Römer assegura que “o progresso
de Jerusalém começa sob o rei Ezequias, a quem a Bíblia atribui numerosas obras
atestadas pela arqueologia, como o famoso túnel de Siloé”.
Outra comprovação arqueológica
relacionada a Ezequias é sua guerra com Senaqueribe, o rei da Assíria, narrada
em vários capítulos de três livros diferentes (2º Reis 18-19, 2º Crônicas 32 e
Isaías 36-37):
Em 701,
Senaqueribe empreende uma campanha contra a Palestina, que é muito bem
atestada, no plano arqueológico, especialmente em Laquis. Além do mais, os relevos
assírios em Nínive põem em cena o cerco e a queda de Laquis. Outros testemunhos
são os anais de Senaqueribe, os oráculos nos livros de Isaías e duas narrativas
diferentes do cerco abortado de Jerusalém no segundo livro dos Reis (v. 18-20).
Nos anais de Senaqueribe, lemos
que «quanto a ele [Ezequias], eu o aprisionei em Ursalimmu, sua cidade real,
como um pássaro na sua gaiola... eu suprimi de sua terra as cidades que eu
tinha saqueado... e eu reduzi sua terra». Diante disso, Römer comenta que
essa
inscrição admite que Jerusalém não foi conquistada, o que na narrativa bíblica
é explicado por uma intervenção miraculosa de YHWH. Em troca, numerosas cidades
foram tomadas, especialmente a cidade de Laquis. Os anais e o texto bíblico
concordam com a afirmação de que Ezequias teve de pagar um pesado tributo que,
segundo a Bíblia, implica até a destruição de certas portas do templo de
Jerusalém (2Rs 18:13-16).
Até mesmo o discurso do
comandante assírio às portas de Jerusalém, tão destacado nos textos bíblicos,
também é atestada historicamente, segundo Römer:
Segundo
a narrativa bíblica, um alto funcionário assírio tinha em mãos, por ocasião do
cerco de Jerusalém, um discurso de propaganda diante da porta de Jerusalém, o
que pode corresponder a uma prática assíria real, tal como é atestada em um
relevo que mostra um personagem em um carro, segurando um rolo contendo, sem
dúvida, o discurso a ser lido para os habitantes da cidade.
Observe como todos os detalhes
do relato bíblico se encaixam perfeitamente com o registro histórico: em ambos,
Senaqueribe consegue conquistar Laquis e outras cidades do sul, exige um pesado
tributo de Ezequias, cerca Jerusalém mas não chega a conquistá-la, e anuncia o
que faria à cidade através do discurso público de um comandante real. Além
disso, em ambos os casos somos informados que o cerco à cidade fracassou e que
o exército assírio pereceu misteriosamente, o que é atribuído na Bíblia a uma
intervenção divina, e nas fontes históricas a
uma praga que dizimou o exército.
Sem querer ser repetitivo,
estamos falando aqui de eventos que ocorreram séculos antes do suposto
“redator” passar por escrito baseado apenas na “tradição oral”, uma coisa
incrível, para dizer o mínimo. Até mesmo a popularidade do Egito em Judá no
século VIII, afirmada em muitos textos bíblicos e no próprio discurso do
comandante assírio (2Rs 18:21), é “atestada por um
importante número de sinetes egípcios”,
de acordo com Römer. Ele também acredita na historicidade da reforma de Josias,
contrariando muitos de seus pares, a qual aliás está na base de sua teoria
sobre quando YHWH foi lançado ao patamar de Deus único:
E a
famosa reforma de Josias? Trata-se de pura ficção dos redatores bíblicos, como
afirmam inúmeros exegetas? É verdade que não temos provas de primeira mão de
qualquer “reforma josiânica” atestando a existência de uma reorganização
política ou cultual. Existe, entretanto, um número muito importante de indícios
que tornam muito plausível o fato de que o reinado de Josias corresponde a
mudanças maiores relativas à veneração de YHWH.
No final do livro de 2º Reis,
lemos que Joaquim, rei de Judá, foi levado em cativeiro para a Babilônia (2Rs
24:11-15), e Römer diz que “um documento babilônico
menciona rações de alimento para o rei Joaquim, prisioneiro do rei da
Babilônia”.
A própria conquista babilônica de Jerusalém, bem como a deportação do povo, são
bem atestadas arqueologicamente:
Em 587,
os babilônicos se apossam de Jerusalém, destroem a cidade e o templo, e
decretam uma segunda vaga de deportação. Instalam Gedalias como governador em
Masfa, em Benjamim. A arqueologia apresenta traços de destruições importantes
no território de Judá, bem como significativa diminuição da população.
Da mesma forma, após a
deportação do reino do norte para a Assíria, a Bíblia diz que o culto a YHWH
continuou em Samaria apesar da adoração a outros deuses (2Rs 17:41), que é
precisamente o que foi confirmado pelos arqueólogos:
No texto
de 2Rs 17, Betel designa claramente o santuário do antigo reino do norte. O
autor dessa passagem admite que o culto de YHWH continua em Samaria, malgrado a
importação de outas divindades, algumas das quais são difíceis de ser
identificadas. Infelizmente temos muito poucas informações, e as fontes de que
dispomos parecem muitas vezes sob forma polêmica. Mas a existência de um
santuário javista no monte Garizim, que é atestado arqueologicamente desde a
época persa, confirma essa continuidade.
É interessante notar que mesmo
numa ocasião em que as crônicas bíblicas diferem-se das crônicas assírias (o
que em tese seria um prato cheio para os liberais concluírem pelo “erro” dos
autores bíblicos), Römer admite que diante das evidências é mais provável que a
Bíblia esteja certa e os anais assírios errados:
Segundo
os anais de Sargão II, esse seria o Sargão que teria tomado a cidade, ao passo
que, segundo a Bíblia hebraica e as crônicas babilônicas, a queda de Samaria
teria ainda sido obra de Salmanasar V. Dadas as dificuldades de Sargão para
assumir o poder, parece plausível que ele se tenha atribuído a tomada de
Samaria por razões ideológicas.
Por falar nisso, esse é um dos
erros de principiante que frequentemente vemos na boca de ateus e teólogos
liberais pouco sérios: sempre que um relato bíblico se difere em algum grau dos
registros de qualquer outro povo, eles rapidamente concluem que foi a Bíblia
que errou, como se os registros dos outros povos fossem infalíveis ou não
tivessem nenhuma razão para omitir ou distorcer informações, apenas a Bíblia.
Eles são rápidos em fazer a “crítica das fontes” dos escritos bíblicos, mas não
ousam fazer o mesmo com as obras extrabíblicas do mesmo período.
Pelo menos aqui Römer é
suficientemente honesto para reconhecer que uma divergência nas fontes não é
prova de que quem errou foi a Bíblia, o que aqui é corroborado pelo fato das
crônicas babilônicas concordarem com a Bíblia e não com as crônicas assírias.
Mesmo assim, devemos nos perguntar o quanto isso não teria sido usado contra a
Bíblia se as crônicas babilônicas não tivessem sido encontradas, e tivéssemos
apenas a Bíblia de um lado e as crônicas assírias do outro.
Até mesmo a historicidade de
Salomão, considerado por muitos tão mitológico quanto Moisés, não é
desacreditada por Römer, apesar dele especular (como lhe é de costume) uma
origem diferente para o mesmo:
Não
entramos, aqui, no debate sobre a historicidade de Salomão, que, ao contrário
de Davi, não é mencionado fora da Bíblia. Há, entretanto, alguns argumentos a
seu favor, especialmente a história escabrosa de seu nascimento: segundo Timo
Veijola e Ernst Axel Knauf, é possível que Salomão tenha sido, de fato,
um usurpador e que se tenha inventado a história do adultério com Betsabeia
para mostrar que ele descendia de Davi, mesmo que não fosse via as mulheres
“oficiais” do rei.
Por fim, vale dizer que Römer
concorda com a autenticidade de todas as descobertas arqueológicas que foram
por muito tempo (e em alguns casos, até hoje) postas em dúvida por aqueles que
mais tem interesse que elas não sejam autênticas ou que sejam interpretadas de
outra maneira. Por exemplo, ele concorda que a Estela de Merneptá realmente se
refere a Israel, quando diz que
Israel
se acha mencionado, por volta de 1210, na estela de vitória do faraó Merneptá.
Esse “Israel” deve constituir um grupo importante, visto que o rei egípcio o julga
digno de ser mencionado entre as povoações que ele se gaba de ter vencido.
Ele também concorda que a Estela
de Tel Dan fala da «casa de Davi», não obstante as tentativas de reinterpretar
a inscrição de outras formas. Assim, em resposta à objeção de Athas, de que a
expressão se refere na verdade a Jerusalém, ele diz que “o paralelismo com a ‘casa de Omri’ torna a opinião majoritária mais
plausível”.
Finalmente, outro importante achado arqueológico que confirmou o relato
bíblico, a Estela de Mesa (onde não só YHWH é confirmado como o Deus de Israel,
como toda a inscrição relata a guerra de Moabe precisamente como narrado em 2º Reis
3:4-27), foi por muito tempo colocada em dúvida pelos críticos simplesmente por
confirmar a história bíblica, mas “hoje a
autenticidade da estela não é posta muito em questão”.
É bastante irônico que, apesar
do intuito do livro ser refutar as crenças tradicionais no Deus bíblico, na
prática quase sempre que Römer fala de alguma coisa concreta é em favor da
autenticidade dos textos bíblicos, ao passo em que todas as suas críticas, como
veremos, são alegadamente baseadas em hipóteses e especulações recheadas de
pressuposições. Também chama a atenção que, embora ele cite várias descobertas
arqueológicas em seu livro, praticamente todas corroboram o relato bíblico (a
exceção são os achados em que YHWH aparece ao lado de “sua Aserá”, a respeito
dos quais falaremos mais adiante).
• Quem
foram os shasus e os habirus?
Um dos temas tratados no meu último
debate com o ateu Vinícius foi a identidade dos shasus e dos habirus (também
chamados de “hapirus” ou “apirus”), onde eu mostrei várias evidências de que fossem
os hebreus (e ele não mostrou nenhuma de que não eram). Enquanto eu mostrava textos
das Cartas de Amarna que efetivamente provam a identificação entre os hebreus
(israelitas) e os habirus, ele se limitava a repetir os jargões populares dos
teólogos liberais que ele leu, especialmente, é claro, Thomas Römer.
O problema é que o próprio Römer
não considera essa associação ridícula, como ele repete tantas vezes ao longo do
debate. Bem longe disso, ele diz que a identificação dos israelitas com os
habirus «é debatida», indicando que isso é sim tratado com seriedade no meio
acadêmico e que ele ao menos está aberto à possibilidade:
O termo hebreus
aparece, na Bíblia, como uma designação arcaizante dos israelitas ou dos
judaítas e, depois, dos judeus. A relação desse termo com os apiru, termo
sociológico que designa as populações marginais nos diferentes textos egípcios,
hititas e outros, do segundo milênio antes de nossa era, é debatida.
Em outro lugar, ele diz que apiru
é um termo “a ser posto, talvez, em relação com
a palavra ‘hebreu’”,
e que “Moisés foi, talvez, o chefe de um grupo de apiru
que, saído do Egito, encontrou YHWH em Midiã e o deu a conhecer, em
seguida, a outras tribos do sul”,
a mesma citação onde vimos que ele não só trabalhava com a possibilidade da
historicidade de Moisés, mas também que ele pode ter sido o líder de um grupo
habiru que saiu do Egito – o que de uma só vez corroboraria a historicidade de
Moisés, os habirus como hebreus e o êxodo do Egito.
Como estamos falando de um
teólogo liberal, ele trata isso apenas no campo da especulação, mas lembremos
que ele também trata como especulação todos os pontos em que ele “corrige” a
Bíblia, como veremos mais adiante. Os ateus e professorzinhos de youtube
simplesmente tomam a liberdade de tratar como “fato” histórico as críticas
alegadamente especulativas de Römer, mas quando ele especula acerca de coisas
que favorecem a historicidade bíblica, eles ignoram solenemente.
Para piorar, Römer cita em seus
livros alguns dos argumentos que eu usei no debate e que foram ridicularizados
pelo meu oponente sem passarem por qualquer objeção (ou melhor, com a “objeção”
de que isso contraria estudiosos como Römer!), como o fato de que “o reino de Israel se constituiu a partir de um
território que corresponde, grosso modo, ao reino de um Labayu ou Labaya de
Siquém, mencionado na correspondência de Amarna”,
e que “o Estado de Labayu corresponde, grosso modo,
às regiões integradas ao reino de Israel”.
Se os habirus se instalaram no
mesmo território em que a Bíblia situa os israelitas, é totalmente razoável
concluir que os habirus eram os israelitas. Este é apenas um dos muitos
argumentos para essa identificação. Como eu mostrei no debate, outros
argumentos incluem a própria relação etimológica já comprovada entre “habiru” e
“hebreu” e o fato de que os relatos dos governantes cananeus pedindo socorro dos
invasores habirus contém descrições detalhadas que concordam em gênero, número
e grau com tudo o que é relatado em Josué.
Römer não entra nesses detalhes
porque seu propósito não é comprovar a Bíblia, mas refutá-la (de outro modo, o
título não seria “a invenção de Deus” e venderia certamente muito menos), e eu também
não entrarei aqui porque meu intuito neste momento não é comprovar a Bíblia,
mas comentar seu livro. Caso você tenha interesse, eu posso enviar o artigo em
que o Dr. Douglas Waterhouse prova a identificação dos habirus com os
israelitas dos tempos de Josué, juntamente com os slides que eu usei no debate
(é só me solicitar por e-mail: lucas_banzoli@yahoo.com.br).
A respeito dos shasus, Römer não
sugere poder se tratar dos israelitas, mas diz que elementos shasus podem ter
se juntado à comunidade israelita e
cita algumas de suas características que batem bem com os hebreus: eram
nômades, são referenciados primeiramente em textos egípcios, “permanecem sobretudo nas regiões desérticas entre o
Egito e Canaã”
e são “caracterizados pelo termo YHW”.
Note como todas as características batem perfeitamente com o Israel dos tempos
do deserto, enquanto peregrinavam do Egito para a terra de Canaã.
Isso não significa que todos os
shasus eram israelitas, porque a literatura antiga fala de vários grupos
shasus. Mas como o próprio Römer destaca, “entre
esses shasu se encontrava, talvez, um grupo cujo deus tutelar se chamava YHW”,
o que faz dos israelitas a associação mais provável com esse grupo shasu
(embora Römer prefira acreditar que esse grupo shasu se fundiu mais tarde com
os israelitas, sem citar maiores evidências). Para os seus propósitos, faz
realmente mais sentido que esse grupo de shasus que os textos egípcios fazem menção
não sejam os hebreus, porque isso destruiria a tese central de seu livro, a de
que YHWH foi importado de fora. Mas essa é uma conclusão que ele tira a
priori, porque melhor se acomoda com sua teoria e não porque é melhor depreendida
dos fatos.
É interessante notar que mais à
frente no livro ele diz que os midianitas eram talvez contados pelos egípcios
como shasus.
Se isso é verdade, significa que os egípcios costumavam chamar de “shasus”
povos que se autointitulavam de outra maneira, e se um dos grupos shasus eram
os midianitas, o que impede que outro grupo fossem os israelitas? Lembre-se que
o termo englobava vários grupos étnicos, não um único, e que o próprio Römer
reconhece a estreita relação entre Midiã e Israel.
No fim das contas, as diferenças
entre os nossos estudos e os de Römer neste ponto são mínimas. Ambos
reconhecemos que Israel tem relação com os shasus e os habirus e que pelo menos
em algum momento eles se tornaram uma coisa só. A diferença é que nós
sustentamos que os israelitas foram desde o início chamados de “shasus” (pelos
egípcios) ou “habirus” (pelos cananeus), enquanto Römer, como vimos, prefere
acreditar que eles foram incorporados a Israel mais tarde:
Esses
textos do Êxodo teriam, então, conservado o traço de um ritual onde um grupo de
shasu/hapiru se constitui, via um mediador, como um ‘am YHWH, povo de um
deus guerreiro a quem ele atribui vitória contra o Egito. Esse grupo, em
seguida, introduziu esse deus YHWH na região de Benjamim e Efraim, onde se
encontra Israel.
Note como apenas um pequeno
detalhe faz toda a diferença: se Römer simplesmente assumisse que os
shasus/habirus não foram “incorporados” aos hebreus, mas eram os
próprios hebreus, isso de uma só vez confirmaria o êxodo do Egito e a crença em
YHWH desde os primórdios – exatamente como atestado na Bíblia. Mas como ele
prefere partir do pressuposto de que YHWH veio “de fora”, é levado a praticar
um revisionismo onde esses grupos “introduzem” YHWH em Israel, mesmo desprovido
de qualquer evidência, a fim de quebrar toda a harmonia com o relato bíblico
por conta de um pequeno detalhe inserido apenas para forçar uma contradição com
a Bíblia.
Neste caso, deveríamos nos
perguntar como um bando de nômades conseguiria convencer os israelitas a
adorarem uma divindade à qual eles não conheciam e com quem não tinham qualquer
relação, sendo ainda por cima um «deus guerreiro», sem que qualquer combate
tivesse sido travado com os egípcios.
Ademais, se os israelitas sempre
estiveram em Canaã (que é a tese mais defendida pelos críticos, inclusive pelo
ateu que debateu comigo) e os habirus estavam destruindo os cananeus e tomando
todos os seus territórios (como fica claro nas Cartas de Amarna), por que não
destruíram os israelitas e tomaram o território deles também? Se os israelitas
eram cananeus e os habirus eram inimigos dos cananeus, a última coisa provável
de se imaginar é que os habirus seriam bem recebidos no seio da comunidade
israelita e pegassem emprestado os seus deuses.
Mais do que isso, se Israel não
era mais que uma pequena comunidade cananeia naqueles tempos, e os cananeus
como um todo foram destroçados pelos habirus, como os habirus teriam sido
“incorporados” a Israel? Deveria ser o contrário: o menor ser incorporado pelo
maior. Um último problema: se os israelitas eram cananeus e os habirus foram
“introduzidos” entre os israelitas e por isso os israelitas passaram a adorar o
YHWH dos habirus, por que não há relatos dos cananeus adorando YHWH também? Em
outras palavras, por que eles tiveram êxito em importar YHWH apenas a uma
pequena comunidade de Canaã, mas fracassaram miseravelmente em importá-lo aos
outros grupos cananeus?
Como é evidente, nada disso é problematizado
por Römer em seu livro, que tem como principal característica elaborar uma
hipótese e se mandar. Após especular alguma coisa, ele simplesmente deixa que
os seus seguidores defendam a teoria como se fosse um fato, apegados única e
exclusivamente em sua credibilidade pessoal, mesmo quando essa especulação é
desamparada por fatos concretos e perguntas impossíveis de se responder. Porque,
é claro, é muito mais fácil dizer “é assim porque Römer disse” do que provar
o que Römer disse usando argumentos que nem o próprio Römer deu.
• Especulações,
especulações e mais especulações
Se tem uma coisa em que eu
preciso tirar o meu chapéu e reconhecer que Römer é bom mesmo, é na arte da
especulação. Nem mesmo a série do Sherlock Holmes na Netflix tem tantas hipóteses,
conjecturas e especulações quanto o seu livro. Se Römer fosse meteorologista,
certamente diria que “pode chover amanhã, mas também pode ser que não”. Se
fosse comentarista esportivo, diria que “o São Paulo pode ganhar, mas talvez
perca, e quem sabe empate”. Se fosse cientista político, diria que “o Lula talvez
ganhe, mas se não ganhar vai perder”. Enfim, você já entendeu. Quando se trata
de especular, é com ele mesmo!
O quão pouco ele realmente sabe
acerca daquilo que diz fica evidente pela dificuldade que tem em datar o
cântico de Débora, por exemplo:
O
cântico de Débora exalta a morte do general cananeu Sísara por Jael, a esposa
de um de seus aliados junto ao qual ele se tinha refugiado depois de ter sido
vencido pelo exército de Israel conduzido por Baraque. Inúmeros especialistas
consideram, hoje, que se trata de um texto muito arcaico, remontando à época
anterior à instalação da monarquia israelita. Entretanto, outros afirmam que se
trata, ao contrário, de um texto tardio, composto a partir da narração desse
episódio no capítulo precedente (Jz 4), para fornecer à autora uma conclusão
poética. Assim, as datações atuais do cântico de Juízes 5 variam entre os
séculos XII antes de nossa era e a época helenista.
Basicamente, o que ele está
dizendo aí é que o cântico pode datar do século XII a.C até o século IV a.C.
Isso é praticamente o mesmo que a moça da previsão do tempo dizer que a
temperatura amanhã em São Paulo pode variar entre 20º negativos e 50º
positivos.
Claro, eu não estou dizendo que
temos sempre que ter convicção de tudo, ou que os argumentos toda hora pesem
decisivamente para um lado ou outro. O problema é quando todo o núcleo da
obra, incluindo 99% das críticas à Bíblia, são alegadamente especulativas.
Pior ainda quando os ateus e professorzinhos da caverna se apoiam
exclusivamente na autoridade de Römer para formular um argumento “cabal” que o
próprio Römer trata de forma bem mais humilde, começando com um “talvez”, “pode
ser”, “aparentemente” ou “provavelmente”, no melhor dos casos.
Logo na introdução do livro ele
tenta justificar o caráter notoriamente especulativo do livro quando escreve:
Assim, a
pesquisa, para a qual o leitor está convidado, buscará descobrir as origens e
as transformações do Deus de Israel. Seus resultados permanecerão certamente
hipotéticos, visto que dispomos apenas de um feixe de indícios que se
encontram, primeiro, nos próprios textos bíblicos – o que evidentemente
constitui uma armadilha, porque os autores bíblicos não são neutros, mas querem
impor aos leitores sua visão da história e do Deus de Israel.
Para traduzir em bom português o
que ele disse aí, é basicamente “a Bíblia não é confiável, mas eu me baseio na
Bíblia mesmo assim, então não dá pra confiar muito nas minhas conclusões
também”!
Como se vê, o próprio Römer
abertamente reconhece que os resultados de sua pesquisa são «certamente
hipotéticos» e assim permanecerão, e mesmo assim um bando de charlatões querem
se apoiar num argumento de autoridade (conhecida como falácia ad
verecundiam) para concluir uma série de coisas de forma muito concreta que
nem o próprio autor no qual eles se baseiam afirma concretamente. Em outras
palavras, Römer diz “x” em caráter assumidamente hipotético, e os
professorzinhos com problemas cognitivos dizem que “x” é um fato porque é
defendido por Thomas Römer, e se você discorda disso é “antiacadêmico”. Isso já
mostra o nível de honestidade intelectual do tipo de gente com quem estamos
lidando.
Por exemplo, enquanto os
professorzinhos cravam que o YHW dos shasus é um topônimo porque Römer disse, o
próprio Römer diz que é “provavelmente um
topônimo”,
não que é um topônimo sem sombra de dúvidas. Outros autores discordam dele, e
Leonardo Andrade em live recente já desmontou essa ideia (veja aqui). Ele reitera
essa dúvida quando diz que o nome “YHWH” entre os shasus designava, “talvez, uma montanha”.
Em outro momento, ele escreve:
O livro
de Josué foi composto pela primeira vez por volta do século VII antes de nossa
era. Nunca houve conquista, porque, como sublinhamos, “Israel” se compõe,
primeiro, de uma população autóctone à qual se juntaram elementos shasu e
hapiru levando o deus YHWH. O livro de Josué pode, entretanto, refletir
alguns conflitos militares que certamente devem ter se produzido entre “Israel”
e cidades cananeias.
Aqui, Römer se vê numa sinuca de
bico: por um lado, não pode dizer que a conquista de Canaã ocorreu mesmo, o que
iria contra a teoria conspiratória que defende; por outro, não pode dizer que
um redator simplesmente inventou isso, o que iria contra o que ele disse (sobre
os relatos serem “memórias” do passado mais ou menos preservadas pela tradição
oral). Então, o que lhe sobrou foi dizer que esses relatos podem refletir
alguns “conflitos militares” entre Israel e as cidades cananeias, mesmo sem
qualquer evidência fornecida. Aparentemente, a evidência só é necessária quando
a Bíblia afirma; quando é a inferência de Römer, ela é dispensável.
Sobre Yahweh ser um “deus da
tempestade” cujo nome significaria «aquele que sopra», ele diz que “essa explicação talvez seja, no estado atual de nossos
conhecimentos, a mais satisfatória, embora não seja totalmente isenta de
problemas”.
Juntando essa teoria não tão satisfatória assim com uma ainda mais improvável,
ele disserta:
Se YHWH é um deus do sul, é possível que tenha possuído,
também, as características de um deus das estepes. Sinetes em forma de
escaravelhos, encontrados no Neguebe e em Judá, representando uma variante do
motivo iconográfico do “senhor dos animais”, podem ser postos, sem dúvida, em
relação com um tal deus das estepes. Datando, na maioria, dos séculos X e IX
antes da era cristã, eles figuram um personagem, provavelmente uma
divindade, domando avestruzes. Segundo Othmar Keel e Christoph Uehlinger, poderia
se tratar de representações de YHWH. Se a identificação for correta,
teríamos aí uma indicação de que YHWH não foi venerado só como um deus
da tempestade, mas também como uma divindade das estepes, das regiões áridas.
Note a incrível quantidade de cláusulas
condicionais aqui: se Yahweh for um “deus do sol”, então é possível que
ele tivesse também características de um “deus das estepes”. Em apoio a
essa afirmação altamente especulativa e recheada de pressuposições, ele cita
sinetes que são provavelmente de uma divindade, que poderia se
tratar de Yahweh, e se essa identificação for correta teríamos uma indicação
de que Yahweh era um deus das estepes! Com tantas pressuposições assim,
creio ser mais fácil provar a veracidade do multiverso alterado pelo Dr.
Estranho do que isso.
Outro exemplo da técnica do “se
isso, então talvez aquilo”, é quando ele diz que “se as tradições de Jacó refletem essa memória de um grupo que
venerava El e que, depois, adotou YHWH, seria possível explicar, da
mesma maneira, o estreito laço entre Jacó e Edom, embora isso seja
evidentemente especulativo”.
Não bastasse a conclusão depender de um pressuposto duvidoso, mesmo com o
pressuposto ela ainda é apenas uma “possibilidade” dentro do campo «evidentemente
especulativo». Essa é a mesma linguagem expressa quando ele fala de Yahweh como
um deus nacional de Edom antes de vir a se tornar o Deus de Israel:
Tirando
conclusões das observações sobre a estreita ligação entre Israel e Edom, bem
como sobre a entrada em cena um tanto quanto tardia de Qos, poderíamos especular
que YHWH era igualmente venerado em Edom e que Qos assume o seu lugar somente
quando YHWH se torna a divindade nacional de Israel e de Judá. Poderíamos dizer
que YHWH e Qos eram dois nomes, ou mesmo dois títulos para a mesma divindade. Mas
tudo isso requer aprofundamento.
Em outro momento, ele diz que “talvez o próprio Judá fosse, originalmente, uma
dessas tribos árabes instaladas no sul e ligadas aos midianitas, quenitas e
edomitas”,
sem fornecer uma única evidência para isso. Basicamente, a origem atribuída
pelo próprio texto bíblico é descartada a priori, e o que sobra são
especulações que não se sabe de onde vieram. Um exemplo de como a explicação
bíblica é descartada de antemão e o que sobram são especulações que não convencem
nem mesmo outros liberais é quando Römer desdenha da interpretação de outro teólogo
liberal a respeito da origem de Israel:
Segundo
André Lemaire, a origem de Israel se encontra no nome de um clã, “Asriel”,
instalado na montanha de Efraim (nome mencionado em Nm 26:31 como um dos clãs
de Galaad, em Js 17:12 e 1Cr 7:14 como filho de Manassés e em dois óstracos de
Samaria, 42 e 48). Essa tese é interessante, mas frágil: os textos bíblicos que
mencionam esse clã são pouco numerosos e datam o mais cedo, sem exceção, da
época persa.
Aqui, ele usa uma teoria liberal
(a da datação recente dos textos) para refutar outra teoria liberal (a da
origem de Israel), o que é até engraçado, afinal (a cobra provando do próprio
veneno!).
Uma das teses com as quais ele
mais trabalha é a de que existia no templo de Jerusalém uma estátua de YHWH
(falaremos muito sobre isso alguns tópicos à frente), e ela também é
evidentemente fruto de mais especulação: “Siló foi,
aparentemente, um santuário javista importante talvez até contendo uma
estátua de YHWH, e é possível que seja por meio desse lugar santo (ou
pelo profeta Samuel) que YHWH se torna, em seguida, o deus de Saul”.
Em um sinal claro de como ele não fazia a menor ideia de qual teoria
conspiratória aderir, ele escreve:
Pode-se
imaginar que a arca transportava dois
betilhos (pedras sagradas) ou duas estátuas simbolizando YHWH e sua
consorte Aserá, ou uma estátua representando YHWH sozinho.
Qual a base para afirmar que
haviam duas estátuas de YHWH e Aserá na arca, ou uma estátua de YHWH apenas? A
base é: “pode-se imaginar”! É importante ficar claro desde já que, quando Römer
usa a linguagem do “aparentemente” ou do “é possível”, ele não está usando como
base a arqueologia ou fatos consolidados historicamente, mas sua própria
imaginação – ou seja, aquilo que ele acha que melhor se encaixa dentro de seu
próprio sistema (ou dentro de suas próprias especulações). É a especulação
sustentada por mais especulação. É baseado nesse método um tanto quanto duvidoso
que ele escreve:
É de se
perguntar por que Davi, se ele tinha de fato vencido definitivamente os
filisteus, não fez de Escalom sua capital. A resposta é que, provavelmente,
ele permaneceu vassalo dos filisteus durante todo o seu reinado.
Note como a conclusão salta das
premissas como um salto ornamental: Davi não mudou a capital para Escalom, portanto,
ele não tinha realmente derrotado os filisteus! Isso é basicamente o mesmo
que dizer que Hitler não tinha realmente derrotado os franceses no início da 2ª
Guerra, porque não fez de Paris a nova capital da Alemanha, ou que a Tríplice
Aliança não venceu realmente o Paraguai, porque nem o Brasil, nem a Argentina e
nem o Uruguai mudaram sua capital para Assunção (que naquela época era mais
desenvolvida que qualquer cidade brasileira).
A simples ideia já soa ridícula,
porque capitais não se mudam da noite pro dia por vencer guerras, e a capital
de um país não é necessariamente a cidade mais importante (de outra forma,
Brasília nunca poderia ser a capital do Brasil em vez de São Paulo, ou
Washington a capital dos EUA em vez de Nova York). Haveria certamente muita
resistência em se mudar a capital tradicional de uma nação por uma cidade
estrangeira, mesmo que sob o domínio israelita.
O fato de Römer ignorar tudo
isso e ainda usar como argumento para o texto bíblico estar errado só mostra o
quanto os seus argumentos de “probabilidade” não são nada além de imaginação
fértil inteiramente esvaziada de substância. Outro exemplo de disparate tão
grande quanto é quando ele diz que “é possível
imaginar que os dois mensageiros e a divindade na narrativa do Gênesis,
capítulo 19, representem o deus solar e seus dois acólitos”.
Mais uma vez, a “fonte” aqui é a
própria imaginação dele, porque nem o texto diz isso, nem Römer forneceu
qualquer evidência externa. Na verdade, o próprio texto deixa claro que os dois
“mensageiros” não eram meros acólitos, porque eles também são chamados de
Adonai (Gn 19:2), título que na Bíblia pertence somente a YHWH. Lógico que nada
disso tem importância para alguém que pode com tanta facilidade simplesmente
apelar para o velho e bom truque de dizer que essa parte do texto foi
manipulada por um redator tardio e assim manter de pé sua especulação vazia.
É também na base da especulação
que ele afirma que o templo de Salomão foi fundado sob um santuário já existente:
É,
portanto, bem provável – e é, também, o caso para a “construção” de
outros santuários no Oriente Próximo antigo – que o edifício salomônico tenha
sido fundado sobre um santuário já existente. É possível também imaginar
que Salomão tenha transformado um santuário ao ar livre em um templo;
entretanto, a narrativa de 1Rs 6-7 contém indícios mais a favor da hipótese
precedente.
Mais adiante, veremos quais
“indícios” são esses que ele enxerga no texto bíblico. Por hora, continuemos
com as especulações, dessa vez em relação a Aserá: “É
muito plausível que YHWH tenha tido, em Judá e, sem dúvida, também em
Israel, uma deusa que lhe tenha sido associada”.
Note que aquilo que é dado como certo pelos professorzinhos da caverna e
debatedores amadores é dado por Römer como algo “plausível”, não como uma certeza.
Era também duvidoso, nas palavras do próprio Römer, que Aserá tivesse uma
estátua no templo de Jerusalém: “Aserá era, talvez,
associada a YHWH, no templo de Jerusalém, via uma estátua colocada ao lado da
sua”.
Ele também não está certo quanto
à relação entre a “rainha do céu” da qual Jeremias fala e Aserá. Diz que “é possível que a Rainha do Céu tenha sido uma
manifestação da deusa Aserá”,
mesmo que a maioria dos estudiosos acredite que seja uma alusão a Astarte. Até
mesmo a influência persa na formação do monoteísmo judeu, dada como a coisa
mais certa do mundo na visão dos liberais de youtube, é tratada com menos
empolgação por Thomas Römer:
Em
resumo, é muito provável que tenha havido influências persas na elaboração do
monoteísmo javista no contexto do Judaísmo nascente, se bem que não sejam
sempre tão facilmente demonstráveis como pretendem alguns.
Ou então tome como exemplo o
tanto de condicionais envolvidas na seguinte declaração:
A
chegada de YHWH no território de Israel se deu talvez graças ao encontro
de um grupo nômade que venerava esse deus com uma federação de tribos do nome
de Israel. A respeito desse encontro, não temos atestações fora da Bíblia. O
texto poético do capítulo 33 do livro do Deuteronômio: “Ele se tornou rei em
Jesurun, quando os chefes do povo se reuniram juntamente com as tribos de
Israel” (v. 5), talvez reflita a adoção de YHWH por Israel, como poderia
ser também o caso para a conclusão duma aliança entre YHWH e “seu povo”,
relatada no capítulo 24 do livro do Êxodo; embora esse texto, na sua forma
atual, seja o resultado de uma redação muito recente, não é impossível
que encene esse encontro inicial.
A chegada de YHWH através de
tribos nômades é dada com a convicção de um “talvez”; em seguida temos um texto
bíblico selvagemente violentado para dizer que ele talvez reflita essa
aliança, e no final mostra quanta segurança podemos ter no argumento: “Não é
impossível”, diz ele! Com uma garantia dessas, não tem como não dormir
tranquilo! Só faltou dizer que para o argumento funcionar também precisava da
passagem do cometa Halley e do título mundial do Palmeiras. Usando esse tipo de
método, é difícil pensar em alguma coisa que não possa ser tomada como
“argumento”. Não impressiona a conclusão que vem em seguida:
O texto
grego da dedicação do templo parece, mesmo, indicar que YHWH não era
inicialmente a única divindade a ser venerada lá. Talvez ele tenha,
primeiro, coabitado com uma divindade solar, Shamash, cujas funções ele foi aos
poucos retomando.
O texto parece indicar
“x”, então, talvez isso signifique “y”. Nem a premissa ele faz
qualquer esforço em provar, muito menos a conclusão dela (que não é uma
conclusão lógica mesmo se a premissa fosse verdadeira). Virtualmente todas as
críticas à Bíblia são elaboradas nestes mesmos termos: “talvez” seja tal coisa,
e se tal coisa for mesmo verdade, então “talvez” isso indique outra coisa. Mesmo
assim, é com base nessas conjecturas que nenhuma pessoa que se preze levaria a
sério que os professorzinhos da caverna “provam” que a Bíblia mente – afinal,
se uma sumidade como Thomas Römer disse tal coisa, quem somos nós mortais para
negar?
Um exemplo do amadorismo bíblico
do autor fica nítido quando ele diz que a arca da aliança não é mencionada em
Juízes, e usa isso como argumento para a “tradição independente” dos textos de
Samuel que a mencionam (novamente na base do “é bem possível”, é claro):
Levada
por sacerdotes, na narrativa da conquista no livro de Josué, ela está
totalmente ausente do livro dos Juízes, mas aparece frequentemente nas duas
seções de cada um dos livros de Samuel (1Sm 4-6 e 2Sm 6). Esses capítulos
formam uma unidade à parte, chamada a “história da arca”. É, na origem, uma
tradição independente? É bem possível, embora seja difícil datar essas
narrativas.
Na verdade, a arca é de fato
citada em Juízes (Jz 20:27-28), embora para um teólogo liberal seja sempre
muito fácil se safar dizendo que tal texto não fazia parte da “redação
original” do livro, que é fruto de mais especulação. Em outras palavras, eles
usam uma especulação como base para mais especulação. Como são eles que decidem
– de forma altamente especulativa e quase aleatória – o que fazia parte do
“texto original” e o que foi acrescentado pelos redatores, eles decidem que o
texto de Juízes que fala da arca é na verdade um acréscimo do redator, e com
base nisso conjecturam que os textos que falam da arca em outros livros devem
ser uma redação independente. É especulação em cima de especulação.
Isso nos leva a um outro
problema, que está no âmago do método fadado ao fracasso usado por Römer: a
dificuldade que eles têm em datar as narrativas, já que a datação de cada
trecho depende única e exclusivamente da especulação particular de cada um. É
sobre isso que veremos agora.
• O
problema da datação dos livros
Se datar os livros não é uma
tarefa tão fácil para o teólogo conservador, ela é virtualmente impossível para
o liberal, visto que não só cada livro foi escrito em épocas diferentes, mas
também cada capítulo, cada versículo e, pasme, até mesmo trechos dentro de um
mesmo versículo podem ser datados para uma outra época – tudo depende apenas da
conveniência e da imaginação. Pelo menos Römer não é adepto da “hipótese
documentária”, dada como “consenso acadêmico” pelo meu último debatedor:
Não
entraremos em detalhe na questão complexa e complicada da datação dos textos
bíblicos. Somente deixamos claro que não nos baseamos mais, com a maioria
dos especialistas europeus, na “teoria documentária” que explica o
nascimento do Pentateuco pela sucessão de quatro documentos, o mais antigo dos
quais dataria da época de Salomão e o mais recente do início da época persa – o
que, infelizmente, é sempre ostentado nas publicações de divulgação.
Isso não significa que o método
de datação de Römer seja menos ineficiente ou menos confuso que a hipótese
documentária que ele critica. Ele acredita que o Pentateuco foi editado por
volta de 400 a 350 a.C e que ele “reagrupa os
escritos sacerdotais, uma parte dos textos deuteronomista, e ainda outros”,
o que mostra que alguma semente da hipótese documentária ainda está ali. Um
ponto alto do livro é quando ele explica por que é impossível encontrar
manuscritos mais antigos do Antigo Testamento (o que é usado pelo
professorzinho para dizer que todos os livros do AT datam de no máximo 300
a.C):
Lembremos,
ainda, que nenhum livro ou, mais precisamente, rolo bíblico, foi escrito de uma
só vez. Os rolos de papiro ou de pele de cabra, ou de vaca, tinham uma duração
de vida limitada e seu conteúdo devia, no fim de alguns decênios, ser recopiado
em novos rolos.
É por isso, e não porque os
livros foram escritos no período helenista, que nós não encontramos manuscritos
do AT que datem da época de Moisés ou de Davi. Se os rolos de papiro da época
só duravam algumas décadas, é evidente que só podemos encontrar cópias tardias,
que de forma alguma provam que o original não seja muito mais antigo. O próprio
Römer dá uma pá de cal no professorzinho quando diz que “o livro de Josué foi composto pela primeira vez por volta do século
VII antes de nossa era”,
o que é ainda muito mais tarde do que a data real da escrita do livro, mas pelo
menos é bem mais antiga que o século III a.C.
Ele também acredita que a
primeira versão da história de Salomão data do século VII a.C e
que o Deuteronômio é de 620 a.C,
estendendo-se até o século V a.C.
Em relação aos livros proféticos, ele afirma que “conheceram,
igualmente, uma complexa história de redação e muitos dos textos que aí se
encontram não são provenientes dos profetas ‘históricos’, mas de redatores mais
recentes”,
o que pelo menos sugere que alguns dos livros proféticos realmente
provém dos profetas aos quais são atribuídos, embora ele não se arrisque a
dizer quais.
Como ele mesmo reconhece, ele
não se esforça em provar as datações que ele sugere, simplesmente as assume a
priori e espera que o leitor confie nas suas datações porque ele é Thomas Römer,
e ninguém ousaria discordar de Thomas Römer. Nas poucas vezes em que ele se
arrisca em apontar algum “indício” que favoreça a datação sugerida, é pra
mostrar como os seus pressupostos tornam toda a análise enviesada. Tome como
exemplo o que ele comenta sobre o nome de Moisés:
Um
detalhe filológico pode fornecer uma indicação para afirmar que o nome de
Moisés bíblico é mais antigo do que os textos que falam dele. De fato, o som
egípcio “s” no nome de Moisés é apresso pela letra hebraica sin, ao
passo que, nos textos do primeiro milênio, esse som é normalmente expresso pelo
hebraico sãnek. O nome de Moisés permite, assim, o salto para o segundo
milênio antes de nossa era.
Em vez dele concluir que o
Pentateuco é tão antigo quanto o nome de Moisés, porque evidências desse tipo
se encontram amplamente ao longo de toda a Torá, ele prefere concluir que o
Pentateuco é mais recente, mas emprestou um nome mais antigo (que eles
preservaram sabe-se lá como). Ou tome como exemplo os comentários dele a
respeito de 2º Reis 22 e 23:
A
narrativa não pode ser utilizada ingenuamente como se fosse a exposição de uma
testemunha ocular de fatos acontecidos por volta de 620 antes de nossa era. Sob
a forma atual, ela já dá conta da destruição de Jerusalém e do exílio
babilônico e foi, portanto, redigida depois de 587, como é mostrado, por
exemplo, pelos anúncios da profetisa Hulda em 2Rs 22:16-17.
Basicamente, a “prova” que ele
tem de que os textos são bem mais recentes do que afirmam ser é que eles têm
profecias que se cumpriram, e se profecias se cumpriram, só podem ter sido
feitas a posteriori. Essa é a mesma lógica que ele aplica ao livro de
Daniel: “O livro de Daniel reflete a época turva
sob Antíoco IV e foi redigido em 164 antes de nossa era, justo antes da morte
deste último”.
Por que Daniel foi escrito em 164 a.C? Porque ele profetiza uma série de coisas
que se cumpriram em Antíoco IV, e se a profecia se cumpriu, ela só pode ter
sido proferida depois do cumprimento. Ou seja, a “prova” da datação recente dos
livros é o próprio pressuposto naturalista.
Pouco importa se a arqueologia
já comprovou inúmeros detalhes do livro de Daniel (como a existência de
Nabucodonosor, de Belsazar e de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, todos
ridicularizados pela alta crítica até descobrirem inscrições dos mesmos), também
pouco importa se o aramaico de Daniel é do século VII a.C e que já era tão obsoleto
no século II a.C que os tradutores da Septuaginta traduziram várias palavras erradas,
nem que “a morfologia, o vocabulário e a sintaxe do
aramaico do livro de Daniel são bem mais antigos do que os textos encontrados
no deserto da Judeia”,
de acordo com estudiosos como Kenneth Kitchen, Gleason Archer Jr e Franz
Rosenthal.
Só o que importa é que Daniel
profetizou muitas coisas que aconteceram em seus mínimos detalhes, mas como
isso é impossível, pois Deus não existe, então deve ter sido escrito depois, e
não se fala mais nisso. É isso o que acontece quando ateus se metem na crítica
textual: coisa boa não dá pra esperar. Os outros argumentos que ele usa para a
datação recente são daí pra baixo, alguns tão bizarros que chegam a ser
espantosos. Tome como exemplo o “argumento” dado para negar a historicidade dos
textos que falam da peregrinação de Abraão:
No plano
geográfico, essa viagem cobre o conjunto do Crescente Fértil; no plano
histórico, os territórios percorridos por Abraão são lugares onde, na época
persa (séculos V-IV), encontram-se judeus exilados ou emigrados. Este exemplo
mostra que não se deve ler os textos do Pentateuco como narrativas históricas;
são narrativas muito mais tardias do que as épocas a que se referem.
Premissa 1: Abraão não pode ter
percorrido os mesmos lugares onde encontravam-se judeus exilados na época
persa. Conclusão: a peregrinação de Abraão é um mito! É difícil imaginar um
jeito mais preguiçoso de se fazer exegese do que esse. Da próxima vez que você
for fazer uma viagem, tome cuidado na hora de anotar em seu diário os lugares
por onde passou, vai que um dia alguém faz um trajeto parecido e prova você
nunca viajou. Todo cuidado é pouco!
A coisa piora quando vemos o
argumento dado para os textos que falam de Jacó e Esaú serem do período
babilônico ou persa:
Para os
pesquisadores que se interessaram pela questão do registro escrito das
tradições dos Patriarcas, e especialmente a de Jacó, a relação deste com Esaú
(Edom) sempre constituiu um problema. Se a história de Jacó for datada do tempo
da realeza israelita, fica difícil explicar uma relação estreita entre Jacó
(Israel) e Esaú (Edom) nessa época. Por esse motivo tem-se, recentemente, feito
observar que as relações tensas e todavia próximas entre os dois irmãos têm
sentido na época babilônica ou persa, período em que Jacó se tornou o ancestral
de “todo Israel” (incluindo, portanto, Judá) em um sentido teológico.
Se você não entendeu muito bem o
argumento aqui, deixa que eu explico: a Bíblia diz que os edomitas também são
descendentes de Abraão e que Jacó e Esaú eram irmãos, mas por que ela diria
isso se os israelitas eram inimigos dos edomitas durante quase toda a história
de ambos? A única conclusão possível é que eles eram irmãos mesmo o
texto foi escrito depois do cativeiro babilônico, quando essa rivalidade foi
suavizada. Pronto, está provado! Chega a ser cômico como a conclusão deles está
na própria premissa (ou seja, a Bíblia é falsa porque ela não pode ser
verdadeira).
• A
teoria do redator burro
Por detrás de todo esse suspeito
método de datação está a crença basilar de todo bom teólogo liberal: a do
redator. Por toda a obra de Römer ouvimos falar de “redatores” inescrupulosos
que meteram as mãos nos textos bíblicos para manipulá-los ao seu bel-prazer,
conforme as suas conveniências. Tudo o que o redator queria esconder ele tirou
do texto, colocando outras coisas no lugar que serviam aos seus propósitos obscuros.
Por exemplo, como veremos mais adiante, Römer acredita que no passado YHWH
exigia sacrifício de crianças, mas esses textos não mais existem porque os
redatores trataram de modificá-los no período persa, quando essa prática não
era mais encarada com bons olhos.
O principal problema com essa
teoria é que ela pressupõe uma burrice inacreditável por parte do(s)
redator(es), razão por que eu prefiro chamar de “a teoria do redator burro”. Tome
como exemplo um texto que nós já vimos aqui:
A
chegada de YHWH no território de Israel se deu talvez graças ao encontro de um
grupo nômade que venerava esse deus com uma federação de tribos do nome de
Israel. A respeito desse encontro, não temos atestações fora da Bíblia. O texto
poético do capítulo 33 do livro do Deuteronômio: “Ele se tornou rei em Jesurun,
quando os chefes do povo se reuniram juntamente com as tribos de Israel” (v.
5), talvez reflita a adoção de YHWH por Israel, como poderia ser também o caso
para a conclusão duma aliança entre YHWH e “seu povo”, relatada no capítulo 24
do livro do Êxodo; embora esse texto, na sua forma atual, seja o resultado
de uma redação muito recente, não é impossível que encene esse encontro inicial.
Römer usa Deuteronômio 33:5 como
base para a sua crença de que nômades (shasus) levaram YHWH aos israelitas, mas
ele próprio acredita que esse texto é extremamente recente, o que coloca em
xeque sua própria teoria. Se o texto é recente, por que raios os redatores colocariam
deliberadamente ali algo que confronta os seus próprios propósitos? A resposta
é simples: porque o redator é burro, e pessoas burras fazem burrices (como
conspirar contra elas mesmas). Römer quase chega a assumir isso, mas prefere
dizer que “não é impossível” e muda de assunto.
Ou tome como exemplo o texto de
Isaías que ele usa para dizer que os israelitas faziam procissão com a estátua
de YHWH:
Quando o
autor dito “Dêutero-Isaías” anuncia o retorno de YHWH da Babilónia, encontramos
esta afirmação: “Eis a voz das tuas sentinelas; ei-las que levantam a voz,
juntas lançam gritos de alegria, porque com os seus próprios olhos veem a YHWH
que volta a Sião” (Is 52:8). Essa descrição é facilmente compreensível se
imaginarmos a chegada de uma estátua de YHWH a Jerusalém. Mas essa opção não se
impôs, a preeminência da Torá tornava, de fato, inútil uma estátua.
Ele chama de “Dêutero-Isaías”
porque nem mesmo crê que esse texto fizesse parte da redação original de Isaías
(que ele também não crê ser da época do profeta Isaías), ou seja, trata-se de
outra «redação muito recente», do período persa ou até do helenista, quando os
redatores quiseram fazer desaparecer os rastros de uma antiga estátua de YHWH. Mesmo
assim, na cabeça dele, foi nessa época que eles escreveram esse texto, que ele
interpreta como uma alusão à estátua de YHWH. Ou seja, os redatores estavam
conspirando contra eles mesmos... de novo!
Ele ainda afirma que “a exortação para não mais se lembrar dos primeiros
acontecimentos (Is 43) pode ser lida como uma crítica do discurso
deuteronomista, obcecado pela destruição de Jerusalém e o exílio”.
Mas por que raios o redator iria colocar no texto uma crítica intencional a um
outro texto que ele também tinha sob seu domínio? Porque é burro, é claro! Em
vez de simplesmente suprimir o “discurso deuteronomista”, ele preferiu manter
esse discurso e incluir uma crítica ao discurso dentro de um outro livro, o que
deve fazer muito sentido na cabeça de alguém completamente chapado.
Se você quer mais um exemplo da
incrível burrice (ou alcoolismo) dos redatores, aqui vai:
O
retorno da comunidade exilada à sua terra é apresentado como um novo nascimento
e YHWH se assemelha à deusa-mãe que cria de novo em dores do parto. No entanto,
no versículo precedente (v. 13), esse mesmo YHWH surge como um guerreiro que
persegue seus inimigos. Temos, aqui, a passagem de um deus guerreiro,
masculino, para a imagem de um deus maternal que concebe seu povo.
O redator preferiu deixar ali
ambos os textos: aquele que supostamente contrariava o seu viés ideológico e
aquele que realmente expressava o que ele pensava, porque ele só alterava os
textos que Römer lhe dava permissão para alterar. Aliás, chega a ser incrível
que ele interprete isso como “a passagem de um deus masculino para um
feminino”, em vez de concluir, como qualquer pessoa racional, que a natureza de
Deus inclui os atributos que humanamente seriam caracterizados como “masculino”
e “feminino”, de modo que não há nenhuma contradição entre um e outro.
Em vez disso, Römer prefere
acreditar que o primeiro texto é mais antigo e o verso seguinte é mais recente,
que o redator deixou ali para contrariar o verso anterior em vez de
simplesmente censurar o versículo (como ele acredita que fez com todos os
textos de sacrifício a YHWH e muitos outros). E se você quer saber por que às
vezes o redator censurava os versículos e às vezes só acrescentava outros que
os contradiziam, problema seu, Römer não te deve explicação!
Vemos algo parecido quando ele
comenta sobre o “politeísmo” do livro de Jó:
É claro,
a Bíblia hebraica se apresenta a nós, nas suas três partes, como um documento
“monoteísta”, mas os autores e redatores bíblicos guardaram também traços
politeístas como no livro de Jó, ou em numerosos salmos onde YHWH aparece rodeado
de sua corte celeste. Há, portanto, pelo menos parcialmente, uma integração da
herança politeísta no discurso monoteísta.
E por que os redatores guardaram
também esses traços politeístas, se eles eram monoteístas e justamente por isso
teriam suprimido uma série de textos politeístas que não constam mais em nossas
Bíblias? Como Römer gosta de lidar com especulações, vou especular aqui também:
(1) porque ele queria que seus leitores dessem uma de Sherlock Holmes e
encontrassem todos esses “pequenos traços politeístas”, pois era caridoso e queria
dar emprego aos teóricos da alta crítica; ou (2) porque era burro.
Como os próprios teóricos da
alta crítica dizem que Jó é um dos últimos livros do AT, escrito já no período
persa (e que por isso fala de “Satanás”), deve ser porque era burro mesmo, já
que o autor monoteísta colocou politeísmo intencional em seu livro escrito numa
época em que os judeus já tinham sido influenciados pelo monoteísmo
zoroastrista. Mesmo monoteísta, o redator quis colocar politeísmo no livro
porque sim, então cale a boca e aceite. Antes que você me pergunte, é óbvio que
esses textos da “corte celeste” não têm nada a ver com outros deuses, mas com
anjos, como é reconhecido por virtualmente todos os comentaristas bíblicos (que
não sejam tão burros quanto o tal redator).
Outro exemplo maravilhoso da
burrice do redator é quando Römer escreve:
”No
principio, Deus criou o céu e a terra”. É por essa afirmação muito conhecida
que se abrem as bíblias judaica e cristãs. No primeiro capitulo do Genesis,
“Deus” não tem um nome próprio, o que pode parecer normal se consideramos a
Biblia como um livro monoteísta. Se há um só deus, por que haveria de ter um
nome próprio?
Mas se o fato de Deus não ter
nome próprio é um indício de que o redator era monoteísta, por que o redator
deixaria o nome próprio de Deus no livro que ele podia manipular à vontade? Seria
tão difícil assim substituir todas as ocorrências de “YHWH” por “Elohim”? Pior
do que isso, é justamente o fato de em Gênesis 1 constar elohim e o
tetragrama só aparecer no capítulo 2 que leva muitos liberais a concluírem que
foi escrito por duas fontes diferentes (a “javista” e a “eloísta”) que foram
mais tarde unidas pelo redator, mas para o azar deles, a expressão “YHWH
Elohim” (traduzida como “Senhor Deus”, na maioria das Bíblias) aparece nada a
menos que nove vezes no capítulo 2, o que significa que a tal “fonte javista” tinha
algum problema de bipolaridade, ou que o redator era tão burro que não
conseguia perceber a intromissão de “YHWH” mesmo quando aparecia ao lado de
Elohim!
De fato, o próprio Römer nos
fornece uma explicação bastante plausível para o fato de Deus ter nome próprio,
embora ele desdenhe da explicação por confrontar suas pressuposições liberais:
O fato
de faltar, no caso de YHWH (“ele é”), o nome da divindade seria a prova de que
os israelitas tiveram, desde as origens, uma concepção mais abstrata de sua
divindade do que seus vizinhos, invocando o seu deus sem lhe dar um nome próprio.
Esta é uma ideia muito teológica e pouco plausível no plano da história das
religiões.
Agora, resta-nos analisar os
supostos “sinais de adulteração” do redator, que mais servem para confirmar a
burrice do mesmo do que qualquer outra coisa.
• Os
“sinais de adulteração” do redator
Comecemos com o Salmo 68, a
respeito do qual Römer comenta:
O Salmo
68 guarda os traços visíveis dessa substituição no fim do versículo 9, onde o
texto atual repete “Elohim, Elohim de Israel”, o que não tem sentido; vê-se
muito bem que o primeiro “Elohim” era, na origem, “YHWH”: “YHWH, deus de
Israel”. Se repusermos o nome de YHWH, no Salmo 68, no lugar de “Elohim”, os
dois textos são em grande parte idênticos. Aliás, o tetragrama se manteve em
outros lugares do salmo.
Mas se o tetragrama se manteve
em outros lugares do salmo, por que diabos o redator se daria ao trabalho de
tirar o tetragrama no verso 9? O que ele ganharia com isso? Ainda mais quando
consideramos os milhares de textos em que YHWH é mencionado como sendo Elohim
(vimos que existem nove deles só no capítulo 2 de Gênesis, cf. v. 7, 8, 9, 15,
16, 18, 19, 21 e 22), sem que o tal redator tenha se dado ao trabalho de retirar
qualquer um deles, que razão teria para fazer isso aqui? Isso parece mais coisa
de paranoico procurando “sinais” de sua paranoia com uma lupa.
Ademais, se a intenção do
redator era adulterar o texto para tirar YHWH dali, ele poderia simplesmente
transformar o “YHWH, Elohim de Israel” em “Elohim de Israel”, em vez de “Elohim,
Elohim de Israel”, desfazendo assim qualquer redundância que pudesse atrair as
suspeitas de algum paranoico procurando pêlo em ovo com uma lupa na mão. Mas como
ele era burro (o que já foi exaustivamente provado no ponto anterior), ele
simplesmente trocou “YHWH” por “Elohim” e cruzou os dedos para que o grande
Thomas Römer não descobrisse essa malandragem marota.
É óbvio que faz muito mais
sentido que o autor estivesse simplesmente querendo enfatizar que Elohim era o
Elohim de Israel, já que Israel é o povo escolhido de Deus, e não que
quisesse mais uma vez enfatizar que YHWH é Elohim. Redundâncias desse tipo são
muito comuns no hebraico. Por exemplo, o anjo clamou a Abraão lhe chamando pelo
nome duas vezes: “Abraão, Abraão! E ele disse:
Eis-me aqui” (Gn 22:11). Será que Römer acha que algum redator
inescrupuloso meteu a mão nesse texto também, e que o original dizia qualquer
outra coisa no lugar do primeiro “Abraão”?
E o que ele teria a dizer do
texto de Jeremias que diz que “cavaram as suas próprias
cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jr 2:13)? Será
que o maldito redator não gostou da palavra que vinha depois de “cisterna”, e
por isso meteu “cisterna” de novo no texto? Ou será que é mais provável que Römer
não entenda nada de hebraísmo e fale bobagens baseadas no francês que ele
conhece do século XXI? A segunda hipótese é mais provável quando vemos seus
comentários sobre o texto que fala do “altar para Baal na casa de Baal”, que Römer
também acha uma evidência convincente de manipulação do texto:
O
primeiro livro dos Reis atesta também um santuário em Samaria: relatando que o
rei Acabe “erigiu um altar para Baal na casa de Baal que ele tinha construído
em Samaria” (1Rs 16:32). A dupla menção de Baal é um pouco curiosa: por que explicitar
que o rei instala um altar para Baal no templo de Baal? Aparentemente, temos
aqui um problema de alteração do texto original que fala de uma “casa de Deus”
(bêt elohim) ou de uma "casa de YHWH" (bêt YHWH). Esse
texto teria sido o seguinte: “Ele erigiu um altar para Baal na casa de YHWH que
ele tinha construído”.
O problema de Römer não é com as
redundâncias, é com o hebraico que ele desconhece completamente. Um pouco mais
de leitura bíblica e ele saberia que redundâncias desse tipo são absolutamente
comuns, e só um idiota diria que todos esses textos foram adulterados mesmo
quando não havia a menor necessidade disso. Tomemos como exemplo:
“Então
Jó respondeu ao
Senhor e disse...” (Jó 42:1)
“Beije-me ele com os beijos da sua boca...” (Ct 1:2)
“E
sacrificou Jacó
um sacrifício na
montanha...” (Gn 31:54)
“...E,
tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai
para fora” (Jo 11:43)
“Para
não suceder que veja com os olhos, ouçam com os
ouvidos, e entendam com o coração...” (Mt 13:15)
“Então,
vieram dois homens malignos, sentaram-se defronte dele, e testemunharam contra ele, contra Nabote,
perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou...” (1Rs 21:13)
Numerosos outros exemplos
poderiam ser dados ao longo de toda a Bíblia, que exigiriam que Römer passasse
o resto da vida caçando “adulterações” por toda a parte, lutando contra os
fantasmas dos redatores que encontra nos textos. O fato é que ele simplesmente desconhece
características do hebraico e da própria forma hebraica de se expressar (que
permanece vigente mesmo no NT grego, escrito por autores judeus), que não passa
imperceptível nem a uma criança que esteja lendo a Bíblia pela primeira vez.
Continuando a “caça fantasma” de
Römer ao redator, ele escreve:
No
versículo 9 do capítulo 14, YHWH é comparado a uma “árvore fértil” (“Eu sou
como um cipreste verdejante, é de mim que procede o teu fruto”), símbolo da
deusa Aserá. O início desse versículo talvez tenha sido acidentalmente, ou
mesmo voluntariamente, tornado obscuro; segundo Julius Wellhausen, a versão
primitiva dessa passagem teria se iniciado com esta afirmação de YHWH: ‘‘Eu é
que sou seu ‘Anat’ e seu ‘Aserá’’. Se essa conjectura é legítima,
teríamos aqui outra indicação da vontade de integrar as funções das deusas em
YHWH.
Além dele próprio tratar isso
como uma conjectura, ele não mostra uma única evidência de que a “árvore
fértil” no texto é Anate ou Aserá, nem o que levou Julius Wellhausen a pensar
assim – muito provavelmente com o mesmo nível de especulação paranoica do
próprio Römer. Se toda vez tivermos que ler “Anate” ou “Aserá” nos textos que
mencionam “árvore”, essas deusas pagãs certamente deviam ser onipresentes na
Bíblia. Jesus também chamou a si mesmo de “a
videira verdadeira” (Jo 1:15). Será que ele também queria dizer que ele
era Anate e Aserá? Não é muito mais lógico que esses textos usem a árvore
apenas como uma figura de linguagem para o abrigo e proteção que encontramos em
Deus?
Esses são apenas alguns exemplos
de como os liberais precisam procurar por pêlo em ovo com uma lupa para
encontrar as tais “adulterações” dos redatores, o que só nos mostra como de
fato não há adulteração alguma. Um outro exemplo disso é quando ele escreve:
É,
portanto, possível que a primeira versão das reformas de Josias não contivesse
ainda a narrativa que relata a descoberta de um livro. Aliás, a notícia sobre o
sacerdote Hilquias descobrindo o livro, no versículo 8, é introduzida
brutalmente no contexto e interrompe a primeira cena (ver 3-7 e 9). É,
portanto, muito provável, como tem sido muitas vezes afirmado, que é preciso
distinguir duas histórias em 2º Reis 22: a narrativa de restauração e a da
invenção do livro. É possível que essa narrativa de descoberta seja uma
inserção tardia, atribuível a um redator da época persa que, no contexto do
Judaísmo nascente, quer mostrar como o Livro (o Pentateuco) substitui o culto
tradicional.
Mas será mesmo que está tão
claro assim que existe uma paráfrase inserida “brutalmente” no texto? Vejamos a
perícope completa:
2º Reis 22
3
No décimo oitavo ano do seu reinado, o rei Josias enviou o secretário Safã,
filho de Azalias e neto de Mesulão, ao templo do Senhor, dizendo:
4
“Vá ao sumo sacerdote Hilquias e mande-o ajuntar a prata que foi trazida ao
templo do Senhor, que os guardas das portas recolheram do povo.
5 Eles deverão entregar a prata aos homens nomeados para
supervisionar a reforma do templo, para poderem pagar os trabalhadores que
fazem os reparos no templo do Senhor:
6 os carpinteiros, os construtores e os pedreiros. Além
disso comprarão madeira e pedras lavradas para os reparos no templo.
7 Mas eles não precisarão prestar contas da prata que lhes
foi confiada, pois estão agindo com honestidade”.
8 Então o sumo sacerdote Hilquias disse ao secretário Safã: “Encontrei
o livro da Lei no templo do Senhor”. Ele o entregou a Safã, que o leu.
9 O secretário Safã voltou ao rei e lhe informou: “Teus
servos entregaram a prata que havia no templo do Senhor e a confiaram aos
trabalhadores e supervisores no templo”.
10 E o secretário Safã
acrescentou: “O sacerdote Hilquias entregou-me um livro”. E Safã o leu para o
rei.
11 Assim que o rei ouviu as palavras do livro da Lei,
rasgou suas vestes.
Note como o texto com a perícope
completa é perfeitamente harmonioso: Josias pede que Hilquias ajunte a prata do
templo e que os trabalhadores comecem as obras; Hilquias descobre o livro e o
entrega a Safã, e Safã informa ao rei quanto à prata e ao livro. A “paráfrase”
só fica aparente quando se corta o relato pela metade e o termina no verso 9, como
Römer desonestamente faz ao referenciar o texto.
Além disso, qualquer escritor
sabe que é perfeitamente comum que o próprio autor edite o seu texto e insira
trechos que não estavam ali numa versão inicial, ou que estavam de um jeito
diferente. Eu faço isso em todos os meus artigos e livros, e por ironia do
destino, estou fazendo isso neste exato momento. Na versão inicial deste
artigo, este parágrafo não existia, e o “referenciar o texto” era seguido pelo “ainda
pior do que isso” (de dois parágrafos abaixo). Mas julguei importante fazer
essa ressalva ao revisar o texto, assim como muitas outras ao longo de todo o
artigo (que vocês nunca vão saber onde, porque nenhum de vocês tem a habilidade
sinistra que Römer tem).
Mas imagine se daqui milhares de
anos alguém se deparasse com o meu texto e diante dessa aparente edição
concluísse que foi um redator que o manipulou muito tempo após minha morte.
Embora a ideia da revisão estivesse correta, a ideia do redator estaria
redondamente errada, já que os textos podem ser perfeitamente editados,
reescritos ou melhor arranjados pelo próprio autor. Assim, mesmo que fosse
provado existir muitas “inserções” nos textos bíblicos, isso ainda não provaria
que as inserções foram colocadas ali por um redator, ainda mais por um redator malicioso
servindo a uma conspiração.
Ainda pior do que isso é sua interpretação
de Deuteronômio 6:4:
A
identidade do locutor não é designada. É Moisés, YHWH, o rei, um “eu” anônimo?
O Sema yisrael em Dt 6:4-5 deixa pouco provável que o locutor seja YHWH,
mas nada impede que, na primeira versão do Deuteronômio, se trate do rei
(Josias), antes que a grande revisão do Deuteronômio, durante a época dita
exílica, o transforme em testamento de Moisés.
De onde ele tirou que é Josias
quem diz “ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é
o único Senhor” (Dt 6:4)? Só Deus sabe. Ele não consegue provar que
Deuteronômio é posterior a Josias, não consegue provar que YHWH só se tornou o
Deus único nos tempos de Josias e certamente não consegue encontrar Josias no
texto. Isso é pura elucubração e nada a mais. Outro exemplo de procurar chifre
em cabeça de cavalo é quando ele diz:
A
narrativa da vocação em Êx 3:1-4:18 não faz parte da história primitiva.
Constata-se primeiro que, em 4:18, Moisés já diz a seu sogro que deve retornar
ao Egito, e este lhe dá sua bênção, enquanto o versículo seguinte (4:19) contém
ainda uma ordem de YHWH a Moisés para que retorne ao Egito. A melhor explicação
para essa duplicata está na tese segundo a qual o episódio de Êx 3:1-4:18 foi
inserido mais tarde numa narrativa mais antiga.
Os textos em questão dizem:
Êxodo
4
18
Depois Moisés
voltou a Jetro, seu sogro, e lhe disse: “Preciso voltar ao Egito para ver se
meus parentes ainda vivem”. Jetro lhe respondeu: “Vá em paz!”.
19
Ora, o Senhor tinha dito a Moisés,
em Midiã: “Volte ao Egito, pois já morreram todos os que
procuravam matá-lo”.
Römer argumenta que não faria
sentido YHWH dizer no verso 19 para Moisés voltar ao Egito, se o verso 18 diz
que Moisés já estava determinado a isso. O que ele não percebe (talvez por não
ter lido o texto, talvez por mau-caratismo mesmo) é que o verso 19 se refere ao
que Deus já havia dito a Moisés, não a algo que tenha dito depois de
Moisés comunicar seu sogro de que partiria ao Egito. Em outras palavras,
primeiro Deus pediu que Moisés voltasse ao Egito, e depois é que Moisés
comunica Jetro. Se o versículo fosse mesmo fruto de uma corrupção, que
dificuldade o redator teria para simplesmente mudar a ordem dos versículos? Lógico
que nenhuma, mas ele não fez isso, porque não havia nada para “adulterar” aqui!
Outro texto em que Römer enxerga
o fantasma do redator é o de 1º Reis 6:7, onde Salomão constrói o templo com
pedras já talhadas:
O
versículo 7 só faz sentido visualizando-se uma construção já existente: “O
templo foi construído com pedras já talhadas; de modo que não se ouviu barulho
de martelo, de cinzel, nem de qualquer outro instrumento de ferro no templo
durante a sua construção”.
O que ele vergonhosamente omite
é que o próprio capítulo anterior explica por que as pedras não precisaram ser
talhadas: porque já haviam sido por Hirão, rei de Tiro, com o qual fez um
acordo pela ajuda na construção do templo:
“Salomão
tinha setenta mil carregadores e oitenta mil cortadores de pedra nas colinas,
bem como três mil e trezentos capatazes que supervisionavam o
trabalho e comandavam os operários. Por ordem do rei retiravam da pedreira grandes
blocos de pedra de ótima qualidade para servirem de alicerce de pedras
lavradas para o templo. Os construtores de Salomão e
de Hirão e os homens de Gebal cortavam e preparavam a madeira e
as pedras para a construção do templo” (1º Reis 5:15-18)
Claro, Römer pode dizer que esse
capítulo foi “enxertado posteriormente” pelos redatores sem apresentar qualquer
prova, para que possa continuar usando 1º Reis 6:7 fora de contexto. É por isso
que a tarefa do teólogo liberal é tão fácil: eles podem simplesmente usar uma
especulação para justificar outra, ou uma conspiração para encobertar a outra. Considere
por exemplo a teoria dele a respeito de Manassés e Ezequias:
Além
disso, a maneira pela qual os reis são apresentados nos livros que lhes são
consagrados, não corresponde aos seus sucessos ou aos seus fracassos políticos.
Tomando apenas dois exemplos: Manassés é apresentado como sendo o pior de todos
os soberanos de Judá, enquanto que, nos cinquenta e cinco anos em que ele
governou, Judá conheceu um período de tranquilidade e de prosperidade. A esses
cinquenta e cinco anos, os redatores consagram apenas uma pequena página e se
contentam em enumerar, de maneira estereotipada, os horrores que esse rei, que
foi um fiel vassalo dos assírios, teria cometido. Seu predecessor, Ezequias, do
qual os redatores deuteronomistas cantam os louvores, dirigiu uma política de
resistência antiassíria muito suicida, que levou a uma ocupação e a uma redução
drástica do território do pequeno reino. Mas é justamente por causa dessa
política antiassíria que ele é apresentado de maneira tão positiva.
Em primeiro lugar, não é verdade
que Manassés é retratado apenas de forma negativa: em 2º Crônicas, lemos que “em sua angústia, ele buscou o favor do Senhor, o seu
Deus, e humilhou-se muito diante do Deus dos seus antepassados. Quando ele orou,
o Senhor o ouviu e atendeu o seu pedido; de forma que o trouxe de volta a
Jerusalém e a seu reino” (2Cr 33:12-13). Depois, o texto segue
mencionando uma série de êxitos de Manassés, como o fato de que ele “reconstruiu e aumentou a altura do muro externo da
cidade de Davi, a oeste da fonte de Giom, no vale, até a entrada da porta do
Peixe, em torno da colina de Ofel” (2Cr 33:14).
Também não é verdade que
Ezequias é retratado apenas de forma positiva. Após ser curado de uma doença
mortal e receber quinze anos de vida a mais, ele revelou todos os seus tesouros
aos mensageiros da Babilônia e justamente por isso Isaías profetiza que “um dia tudo que se encontra em seu palácio
bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até
hoje será levado para a Babilônia. Nada restará” (2Rs
20:17). Não existe aqui uma dicotomia entre “Ezequias bom / Manassés ruim”. O
que existe é um rei que começou bem e terminou mal, e outro que começou mal e
terminou bem (ainda que os pecados de Manassés tenham sido muito piores que os
de Ezequias).
Se realmente Manassés fosse
“odiado” pelos redatores e Ezequias fosse amado por eles, por que teriam
mencionado o arrependimento de Manassés e o pecado de Ezequias? Que método
pouco usual de manifestar amor e ódio! Mas é justamente com base nessa falsa
dicotomia, que só existe na cabeça de Thomas Römer, que ele especula que as
obras atribuídas a Ezequias tenham sido realizadas por Manassés:
Aliás, é
bem possível que a maior parte das obras que a Bíblia atribui ao rei Ezequias
tenham sido, de fato, realizadas sob Manassés. Dado que esse rei é detestado
pelos autores bíblicos, é facilmente compreensível que estes tenham atribuído
essas obras a Ezequias.
Nisso vemos como que o único “preconceituoso”
aqui é o próprio Römer, que acusa os redatores de terem preconceito com
Manassés, quando na verdade é ele próprio que tem preconceito com os redatores!
A mesma visão distorcida que ele
tem de Manassés e Ezequias ele também tem de Saul, Davi e Salomão:
É muito
difícil discernir, por trás das narrativas bíblicas das origens da monarquia,
os fatos históricos concretos. Observa-se que os três reis – Saul, Davi e
Salomão –foram construídos como figuras modelos pelos redatores bíblicos: Saul,
o rei rejeitado, prefigurando a visão do Reino do Norte pelos redatores dos
livros dos Reis; Davi, o rei guerreiro, eleito de YHWH e fundador do reino e da
dinastia, e Salomão, o rei construtor e sábio.
Mas se Davi e Samuel eram «figuras
modelos» dos redatores bíblicos, por que eles insistiram em falar dos pecados
de todos eles? Poucos personagens bíblicos nós conhecemos tão bem os pecados
quanto Davi, que adulterou com Bate-Seba e armou um esquema pro marido dela
morrer depois disso, além de ter feito um recenseamento do povo por pura
vaidade e ter sido severamente punido por isso (1Cr 21:1-7). Os escritores
bíblicos (redatores?) também enfatizam sua falha na criação dos filhos, que
gerou a rebelião de Absalão contra ele e a revolta de Adonias contra Salomão,
porque “seu pai nunca o havia contrariado; nunca
lhe perguntava: ‘Por que você age assim?’” (1Rs 1:6).
Com Salomão é ainda mais grave,
porque ele é acusado do pior de todos os pecados: a idolatria. Embora a lei
proibisse que o rei multiplicasse esposas (Dt 17:17), Salomão tinha nada a
menos que mil delas (1Rs 11:3), e elas “o induziram
a voltar-se para outros deuses, e o seu coração já não era totalmente dedicado
ao Senhor, o seu Deus, como fora o coração do seu pai Davi. Ele seguiu os
postes sagrados, a deusa dos sidônios, e Moloque, o repugnante deus dos
amonitas” (1Rs 11:4-5).
Por que um redator escrevendo
séculos após os acontecimentos (que para muitos deles nem são históricos,
diga-se de passagem) faria questão de incluir tantas coisas ruins sobre Davi e
Salomão, se ele supostamente tinha por intenção pintar Davi e Salomão como dois
arquétipos de reis bons em contraposição a Saul? Mais uma vez, entra em cena
aqui a teoria do redator burro, que detona sem a menor necessidade alguém que
tem por finalidade defender e exaltar (tipo a Chiquinha defendendo o Nhonho).
Não parece muito mais simples e
muito mais lógico simplesmente inferir que os escritores bíblicos elogiaram os
personagens bíblicos naquilo que mereciam elogio e criticaram aquilo que
merecia crítica? Mas isso acabaria com a teoria da conspiração do redator e reduziria
as vendas do livro, então é melhor partir pra mil e uma conjecturas do porquê
que tal personagem é retratado assim ou assado. Isso é exatamente a mesma
caricatura que ele faz do Reino do Sul em contraposição ao Reino do Norte:
A
historiografia bíblica, especialmente nos livros de Samuel e dos Reis, é
redigida, portanto, a partir de uma perspectiva sulista e apresenta o Norte e
seus reis sob um ângulo negativo, acusando-os de ter venerado outros deuses em
lugar do deus de Israel e de ter erigido santuários em concorrência com o de
Jerusalém.
Segundo
a visão dos autores bíblicos, expressa no livro dos Reis e um tanto quanto
diferentemente nos livros das Crônicas, a história dos dois reinos de Israel e
de Judá é relatado numa perspectiva “sulista’, isto é, do ponto de vista de
Judá.
Essa teoria seria interessante,
se não fosse por um petit problème: os escritores bíblicos enfatizam os
pecados do Reino do Sul ainda mais do que fazem do Reino do Norte! A maioria
dos reis de Judá são tidos como maus e vários livros proféticos são escritos
por profetas do sul condenando os pecados do Reino do Sul e profetizando o
cativeiro babilônico (entre eles Jeremias, Isaías, Miqueias, Ezequiel e
Sofonias).
Ainda mais significativo contra
essa teoria da “perspectiva sulista” é o fato de que, após o cisma entre o sul
e o norte, o termo “Israel” (que antes era usado para o reino inteiro) passou a
ser reservado dali em diante apenas para o Reino do Norte. Embora falemos hoje
de “Reino do Sul” e “Reino do Norte”, essa é uma designação teológica moderna.
A forma que a própria Bíblia se refere ao que chamamos de “Reino do Sul” é
“Judá” (às vezes “Judá e Benjamim”), e a forma com que se refere ao “Reino do
Norte” é “Israel” (às vezes “Efraim”, mas na maior parte das vezes “Israel”).
Se os redatores têm todos eles
uma perspectiva sulista, por que reservariam o nome da nação ao Reino do Norte,
e não ao do Sul? Se o Brasil se dividisse ao meio, é muito provável que o sul
continuasse se achando o “Brasil”, e que o norte pensasse o mesmo. E ambos
dariam um nome diferente ao outro, já que na perspectiva deles o outro é que
não seria mais o “Brasil”. Vemos um exemplo claro disso na Coreia, que se
dividiu em 1945 e, desde então, tanto o sul quanto o norte se consideram “a
Coreia”. Se você tiver a péssima ideia de visitar a Coreia do Norte e chamar o
país deles de “Coreia do Norte”, corre risco de morte (aliás, corre risco de morte
por qualquer coisa, por isso é uma péssima ideia). Os norte-coreanos não se
chamam de “Coreia do Norte”, mas de “República Popular Democrática da Coreia”,
mesmo que de “democrática” e “popular” não tenha nada, e que de “Coreia” tenha
só a metade.
Portanto, devemos nos perguntar
por que os redatores, que supostamente teriam uma perspectiva sulista e seriam
tendenciosos a favor do sul e contra o norte, como defende Römer, atribuiriam o
nome “Israel” ao norte, e não ao sul. Note como isso faz todo o sentido quando
entendemos que eles não eram tendenciosos para nenhum dos dois lados, mas como
o norte ficou com a maioria das tribos (dez das doze), coube a eles o nome.
Ademais, se os salmos foram
escritos tardiamente (no período babilônico e persa, como acredita Römer), por
que não vemos menções a “Judá”, mas vemos centenas de menções a “Israel”? Isso
faz todo o sentido quando assumimos que a maioria dos salmos foram escritos
realmente por Davi, como assegura a tradição e como atestado nos próprios
salmos, quando o reino ainda era unido e todo ele era “Israel”. Mas se eles
foram escritos séculos mais tarde, já após a cisão entre os reinos, e vimos que
“Israel” nessa época passou a designar o Reino do Norte em particular, por que
os salmistas não seguem o exemplo dos livros de Reis e Crônicas e falam em
Judá? Será que eles estavam preocupados em exaltar apenas o Reino do Norte,
justamente aquele que Römer afirma terem preconceito?
Muito mais poderia ser dito, mas
creio que isso tudo basta para mostrar como as dificuldades dos teólogos
liberais são insuperáveis. Na verdade, não são os escritores bíblicos e muito
menos os supostos “redatores” que eram tendenciosos, mas o próprio Römer, que
parte de uma pressuposição naturalista para interpretar a Bíblia, onde a missão
do teólogo é criticar a Bíblia e encontrar as “adulterações” dos redatores com
uma lupa na mão. O resultado é esse verdadeiro show de horrores, porque já
parte de uma pressuposição errada desde a raiz.
Essa é apenas a primeira parte
da crítica. Na próxima, entrarei nos temas mais espinhosos do livro, onde
coisas muito mais aterradoras nos aguardam. Crede e verás!
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Por
Cristo e por Seu Reino,
Vi esse comentário defendendo a inquisição. Lucas, estas informações são verídicas?
ResponderExcluir"O documentário que ele cita é apresentado pelo historiador Henry Kamen e está disponível no YouTube. Henry Kamen é o maior especialista em inquisição espanhola, autor do melhor livro sobre o tema e grande referência na área e em sua obra ele desmistifica a "lenda negra" da inquisição ao apresentar os processos, números reais de condenações, ao traçar paralelos comparando o tribunal do santo ofício c os tribunais seculares da época e inclusive mostrando a diferença das prisões da inquisição para as prisões normais.
De forma resumida, ao contrário do imaginário popular, a inquisição não foi algo brutal e uma ferramenta persecutoria da Igreja mas sim um tribunal de misericórdia que trouxe uma vasta gama de avanços no direito, colocou fim a julgamentos arbitrários atribuindo elementos técnicos ao processo e permitindo ao réu se arrepender em QUALQUER parte do rito, estando assim livre de condenação. Além disso os estudos historiográfico além de comprovarem que o tribunal da inquisição era infinitamente mais brando q o secular, tmb deixa claro q a inquisição jamais matou alguém já q esse sequer era a sua atribuição já q a ela competia apenas realizar um julgamento técnico para saber se o réu era ou não um herege. E uma vez definido, este era entregue ao poder secular q este sim aplicava a pena(a pena de morte vigorava em toda a Europa e crimes como falsificação de moeda por exemplo eram passíveis de tal punição). Quando um herege era condenado a morte pelo poder civil, os inquisidores haviam falhado pois o seu objetivo de salvar aquela alma do pecado e tirá-lo da heresia n havia sido alcançado. Ou seja, era feito de tudo para q a pena capital n fosse aplicada.
De acordo c os estudos, apenas cerca de 3% a 8% dos réus da inquisição eram condenados por heresia e entregues ao poder secular. Sendo q desses, muitos sequer eram mortos e em lugar disso se queimavam bonecos que representavam os pecados das pessoas. Em contrapartida em tribunais seculares, o número de condenações chegavam a mais de 50%...
Durante mais de 6 séculos de inquisição, menos de 5 mil pessoas foram condenadas a morte em toda a Europa por heresia, um número ínfimo e q prova a misericórdia da Igreja Católica."
Todo esse besteirol corresponde exatamente aquilo que já foi exaustivamente refutado nos meus artigos sobre o tema (literalmente para cada frase acima eu tenho um artigo correspondente, porque são as mesmas mentiras de sempre repetidas uns dos outros), confira o tópico de "Artigos sobre Inquisição" no índice de artigos sobre catolicismo aqui do site:
Excluirhttps://www.lucasbanzoli.com/2015/07/artigos-sobre-catolicismo.html
Se você não quiser ler tudo e quiser algo mais resumido, recomendo esses dois artigos e essas duas lives do meu canal:
https://www.lucasbanzoli.com/2018/06/entenda-tudo-sobre-inquisicao-e-caca.html
https://heresiascatolicas.blogspot.com/2017/08/breve-refutacao-cinco-taticas-dos.html
https://www.youtube.com/watch?v=tAAMUMuSR9I&t
https://www.youtube.com/watch?v=8OThrM9jiCU
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ResponderExcluirOlá, o que eu tinha para comentar desses debates eu já comentei nesses vídeos:
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=oyfNTeYGqss&t
https://www.youtube.com/watch?v=CVi7nug-yrs
Lucas Banzoli, tu estás sabendo de um debate que a antifeminista católica Pietra Bertolazzi teve com uma feminista ateía chamada Selva Varotto(Canal: Espectro Cinza) no INTELIGÊNCIA LIMITADA?
ExcluirParabéns, Lucas. Que bom que você luta de forma tão categórica contra as mentiras da Teologia Liberal e do Ateísmo. Gostaria de te indicar um livro que estou lendo no momento e amando, Reflita: Tornando-se você mesmo ao espelhar a maior pessoa da história, de Thaddeus J. Williams, estou lendo pela Pilgrim, mas já estou vendo que terei que comprar o físico, pois quero reler. O autor além de escrever muito bem, faz muitas analogias com Filosofia e Literatura, o que faz sentido, já que ele é professor dessas áreas. Acredito que você possa gostar.
ResponderExcluirOi Priscyla, obrigado pela recomendação! Só pra saber, esse livro é mais voltado à área teológica ou devocional? (não que eu tenha algo contra leituras devocionais, é só pra saber mesmo rs)
ExcluirNão é devocional. O autor faz uma exposição de várias áreas do evangelho, ele fala sobre como o cristão deve espelhar Jesus no mundo, na arte, etc. O "Reflita" é sobre espelhar mesmo. Eu fui ler sem dar nada pelo livro e gostei muito.
ExcluirBom dia, Lucas.
ResponderExcluirA biblia diz que tem que crer em Jesus pra ser salvo, daí eu pergunto "como ficam as pessoas que não creem em Jesus, mas são bondosas e ajudam os outros"?
Outra coisa: se tem que crer pra ser salvo, então todas as pessoas que viviam fora de Israel foram condenadas eternamente, porque não ouviram falar de Deus, logo não creram?
Responda essas perguntas, por favor!
A Bíblia não diz em lugar nenhum que essas pessoas não tem possibilidade de salvação, no artigo abaixo eu mostro as razões por que creio que os povos não-alcançados podem ser salvos seguindo a lei de consciência da qual Paulo fala:
Excluirhttps://ateismorefutado.blogspot.com/2015/04/o-destino-dos-povos-nao-alcancados.html
Buenas,
ResponderExcluirTu tens opinião sobre a série The Chosen? Parece que tem bastante debate ao menos nas redes, inclusive entre protestantes e eevangélicos com posições bem discordantes. Eu não assisti ainda.
Eu devo ser o único cristão que também não assistiu, porque vejo todo mundo comentando sobre essa série e sempre com opiniões extremamente divididas (uns completamente apaixonados pela série, outros achando a coisa mais herética já produzida). Eu precisaria assisti-la pra formar uma opinião pessoal, mas como eu assisto séries apenas como passatempo e o primeiro episódio não me agradou muito (o ritmo me pareceu lento demais e sem graça), eu não me animei a continuar assistindo, mas um dia pretendo assistir sim.
ExcluirHello Lucas,
ResponderExcluirI was wondering what you thought of this article?:
https://catholicstand.com/how-the-letter-to-the-hebrews-supports-the-mass/
Tem um canal no youtube que prega a Teologia Liberal, que está ganhando força
ResponderExcluirChama "Tenda do Necromante", feita por um Doutor em Teologia, chamado Osvaldo Luiz Ribeiro. Pelo que eu li, ele era da Igreja Batista. ,Hoje em dia é ateu.
Olá Lucas, espero que esteja bem. Você não acha que um novo artigo sobre a volta de Cristo seria bem vindo considerado os acontecimentos dos últimos 4 anos?
ResponderExcluirEsse talvez seja um dos artigos mais importantes que Lucas escreveu. Muito bom. que venha a segunda parte.
ResponderExcluirLi o livro e estava procurando uma defesa cristã sobre o assunto, finalmente achei. Você dá aulas de teologia?
ResponderExcluirEstava lendo o livro de thomas, e fui procurar a defesa cristã, finalmente encontrei. Amigo, você dá aula de teologia?
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