22 de fevereiro de 2024

28 A superioridade do protestantismo na economia, cultura, educação, ciência e tecnologia

 


*Nota introdutória: O artigo em questão é um dos capítulos de um livro em espanhol onde cada capítulo foi escrito por um autor diferente, e eu fui responsável pelo capítulo em questão. Ele é em grande parte um resumo do que foi abordado com mais profundidade nos meus dois volumes dos “500 Anos de Reforma: Como o protestantismo revolucionou o mundo”, que você pode baixar na página dos livros.

 

No alvorecer do século XVI, os países que viriam a se tornar protestantes estavam entre os mais atrasados do mundo. A Alemanha – então Sacro Império Romano-Germânico – era uma colcha de retalhos formada por 300 diferentes estados frequentemente envolvidos em conflitos entre si, e aqueles que viriam a aderir à Reforma eram os «menos civilizados da Alemanha»[1]. A Suíça, também dividida em uma dúzia de cantões, era tão pobre que sobrevivia na base do serviço mercenário para nações mais poderosas, e os países nórdicos (Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia) eram tão miseráveis que o próprio papado fez pouca questão de mantê-los para si.
 
Até mesmo a Inglaterra, que nos séculos seguintes desfrutaria de uma imponente soberania na Europa e no mundo, era então uma “potência de segunda categoria”[2], tão desprezada que nem os embaixadores estrangeiros falavam inglês[3], e notadamente preterida pelo Sumo Pontífice em todos os embates envolvendo a França (não à toa, os ingleses odiavam o papado desde muito antes do cisma de Henrique VIII)[4]. Nem mesmo o seu famoso poder naval era na época uma realidade: sua marinha se encontrava sucateada no início do reinado de Isabel (1558-1603), a qual é considerada a verdadeira fundadora da potência naval inglesa”[5]. André Maurois, um dos grandes estudiosos da história da Inglaterra, resume isso tudo quando diz que no século XIV ela “já não era senão um país humilhado e descontente”[6].
 
Cinco séculos se passam, e se você consultar o ranking mais atualizado do Índice de Desenvolvimento Humano, verá que dos 17 países melhor classificados, inclui-se todos os 13 de tradição protestante (Noruega, Suíça, Islândia, Alemanha, Suécia, Austrália, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Reino Unido, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos)[7]. O país de tradição protestante pior classificado é os Estados Unidos, que está em 17º num ranking com 189 países. Por contraste, os países de tradição católica no Novo Mundo constam nas últimas posições, superando apenas os da África, e mesmo os países católicos da Europa estão no geral muito abaixo do pior país protestante (a Itália, por exemplo, está apenas em 29º, a Polônia em 35º, e Portugal em 38º).
 
Tenha em mente que estes eram os países mais prósperos da Europa no início do século XVI, quando Lutero pregava suas teses na porta da igreja de Wittenberg. Portugal e Espanha dominavam os mares e tinham um imenso império colonial do qual extraíam toda a riqueza possível; a Itália tinha a cultura mais rica e herdava a herança do antigo império, além de ser a sede do papa; a França era a mais próspera, populosa e militarmente forte do continente, e até mesmo países do leste europeu, como a Polônia, eram bastante respeitáveis na comparação com os seus pares.
 
Se incluirmos as colônias de um e do outro, a comparação fica ainda mais covarde: enquanto a Austrália e a Nova Zelândia só foram colonizadas pelos britânicos no final do século XVIII e estão hoje entre os países mais prósperos e bem-sucedidos do planeta, os países latino-americanos colonizados pelos espanhóis e portugueses ainda em finais do século XV permanecem miseravelmente pobres e atrasados até hoje. Talvez isso explique por que tantos latinos imigrem (legalmente ou não) para Estados Unidos e Canadá, os dois únicos países de tradição protestante do continente (e também os dois únicos de sucesso).
 
Se você trouxer esses dados a um apologista católico, ele provavelmente dirá que foi sorte, uma obra do acaso ou uma incrível coincidência monumental que os países protestantes tenham se sobressaído tão amplamente sobre os países católicos em todos os quesitos civilizacionais – não só materialmente, mas também na cultura, educação, ciência, tecnologia, segurança e saúde – e que isso não muda em nada o fato de que são hereges filhos de Lutero que arderão eternamente no fogo do inferno.
 
Mas será mesmo que tudo isso não passa de mera coincidência? Será coincidência que 36 dos 87 maiores cientistas do século XVI em diante eram protestantes (contra apenas 10 católicos)[8]? Será coincidência que das 80 maiores invenções do século XVI para cá, nada a menos que 71 delas se passaram em um país protestante[9]? Será coincidência que dos cristãos ganhadores do prêmio Nobel, 82% sejam protestantes, frente a apenas 17% de católicos[10]? E isso tudo quando a proporção de católicos no mundo é três vezes maior que a de protestantes (índice que era ainda mais desproporcional nos séculos passados)?
 
Embora poucos papistas tenham a honestidade intelectual de reconhecer que tudo isso está longe de ser uma obra do acaso, este fato não é nenhuma novidade para os historiadores, que há muito tempo reconhecem que o protestantismo teve um papel decisivo na construção do mundo moderno.
 
O primeiro a trabalhar isso com mais atenção foi o economista alemão Max Weber (1864-1920), um dos fundadores da sociologia. Este grande e respeitado intelectual alemão observou que não apenas os países protestantes se destacavam em relação aos países católicos de sua época, mas até mesmo os estados protestantes dentro de um mesmo país se destacavam na comparação com os estados católicos – o que era particularmente verdadeiro na própria Alemanha.
 
Sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” continua desfrutando de ampla aceitação acadêmica até hoje, onde prova que tal superioridade dos países protestantes não se dá por uma conspiração do acaso contra a Igreja Romana, mas pela ética relacionada aos negócios que difere o protestantismo do catolicismo. Para começo de conversa, no catolicismo medieval, a próprio lucro era um «pecado mortal»[11]. Em 1140, Graciano de Bolonha, grande autoridade medieval em lei canônica, declarou:
 
Receber, exigir ou até mesmo emprestar esperando receber algo acima do capital emprestado é ser culpado de usura; a usura pode existir em relação ao dinheiro ou outras coisas; o indivíduo que recebe usura é culpado de roubo, tão culpável quanto um ladrão; a proibição contra a usura vale tanto para o leigo quanto para o clérigo, mas o último, quando culpado, será punido com mais severidade.[12]
 
Os escolásticos (estudiosos católicos da Idade Média e Moderna) consideravam qualquer margem de lucro como usura, o que talvez ajude a explicar por que se acomodaram ao feudalismo por tanto tempo – um regime baseado na servidão e na economia planificada, onde não há espaço para a ascensão social ou grandes realizações. Escolásticos como Tomás de Aquino (1225-1274) ajudaram a criar a atmosfera de demonização do dinheiro, algo tão presente no mundo medieval, como explica o renomado medievalista Jacques Le Goff:
 
O século XIII acrescenta à natureza diabólica do dinheiro um novo aspecto que os grandes autores escolásticos foram buscar em Aristóteles, ele próprio grande descoberta intelectual do século XIII. Tomás disse depois de Aristóteles nummus non parit nummos (“o dinheiro não produz coisas pequenas” ou “o dinheiro não produz coisas baratas”). De modo que a usura é também um pecado contra a natureza, sendo a natureza a partir daquele momento, aos olhos dos teólogos escolásticos, uma criação divina.[13]
 
O autor acrescenta que para o usurário “não há salvação, como mostram os escultores nos quais uma bolsa cheia de dinheiro pendurada no pescoço puxa o usurário para baixo, é uma descida ao inferno”[14]. O papa Leão I consagrou o ditado fenus pecuniae, funus esta animae (“aproveitar o dinheiro é a morte da alma”)[15]. Mais tarde, o segundo Concílio de Latrão (1139) declarou que o usurário não contrito é condenado pelo Antigo e Novo Testamento e, portanto, não é digno de consolos eclesiásticos nem de enterro cristão[16].
 
Pouco depois, em 1179, o terceiro Concílio de Latrão dizia que os usurários eram estranhos nas cidades cristãs e reforçou que a eles devia ser recusada a sepultura[17]. Alguns anos mais tarde, o Concílio de Paris de 1213 considerou a usura um pecado tão grave quanto a heresia[18], e finalmente, em 1331, o Concílio de Viena autorizou a Inquisição a perseguir os cristãos que praticavam a usura[19].
 
Sendo a usura um pecado mortal, o próximo passo foi perseguir, censurar e estigmatizar todos os seus praticantes – ou seja, os que tentavam viver do comércio. Le Goff afirma que a atitude da Igreja a respeito do comerciante medieval o obstaculizou em sua atividade profissional e o rebaixou no meio social”[20], pois “condenado por ela no próprio exercício de seu ofício, havia sido uma espécie de pária da sociedade medieval, dominada pela influência cristã”[21].
 
O Decreto de Graciano consagrou a famosa máxima de que homo mercator nunquam aut vix potest Deo placere (“o comerciante não pode agradar a Deus”)[22], que se tornaria preceito e regra nos séculos seguintes. Isso refletia a opinião do papa Leão Magno, segundo o qual “é difícil não pecar quando se tem como profissão comprar e vender”[23]. Por essas e outras, o comércio constava entre as chamadas «profissões proibidas» e «ofícios desonrosos», à semelhança da prostituição – no que contava com o apoio dos “intelectuais” da época. Le Goff comenta que
 
os documentos eclesiásticos – manuais de confissão, estatutos sinodais, repertórios de casos de consciência – que dão listas de profissões proibidas; illicita negocia, ou de ofícios desonrosos; inhonesta mercimonia, quase sempre incluem o comércio. Reproduzem uma frase de uma decretal do papa São Leão o Grande – às vezes atribuída a Gregório o Grande – segundo a qual “é difícil não pecar quando se tem a profissão de comprar e vender”. Tomás de Aquino sublinhará que “o comércio, considerado em si mesmo, tem certo caráter vergonhoso” – quamdam turpitudinem habet. Pode-se dizer que a Igreja repudia o comerciante, junto com as prostitutas, os menestréis, os cozinheiros, os soldados, os açougueiros, os estalajadeiros e, por outra parte, também junto com os advogados, os notários, os juízes, os médicos, os cirurgiões, etc.[24]
 
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a Igreja proibia que comerciantes honestos tivessem lucro pelo seu trabalho, ela própria multiplicava suas riquezas mais e mais, tornando-se “a maior proprietária de terras do período feudal”[25]. E quanto mais a Igreja acumulava terras, pior era a condição da esmagadora maioria do povo, renegado à condição de servos trabalhando em condições análogas à escravidão a um senhor feudal, que podia até mesmo castigá-los com chicotadas[26].
 
Como se não bastasse, o próprio trabalho que eles realizavam era abertamente desprezado pela Igreja, que o considerava uma verdadeira maldição. Destes, o mais desprezado era certamente o trabalho braçal, considerado uma «coisa de mouros e judeus» e por isso mesmo renegado às classes mais baixas:
 
Na península Ibérica os mouros e judeus tinham se dedicado a atividades como o artesanato e o comércio. O verbo “mourejar”, sinônimo em português de trabalhar, é uma herança desse fato. O ideal da aristocracia Ibérica era, exatamente, levar uma vida na qual o trabalho braçal não fosse uma necessidade. O trabalho braçal era considerado coisa de mouros e judeus. O ideal católico de vida contemplativa reforçava essa ideia. As ordens religiosas católicas cuidavam para deixar aos monges o maior tempo livre possível para que se dedicassem à oração. O trabalho existia nos mosteiros, mas era usualmente visto como um castigo para o homem, pois Deus, ao expulsar Adão do Paraíso, havia anunciado que ele ganharia o “pão com o suor do rosto”. O homem só passou a trabalhar quando foi expulso do Paraíso.[27]
 
Le Goff é um dos muitos historiadores que concordam que “o trabalho manual sofria certa ‘pejorização’”[28] e que “durante a alta Idade Média o trabalho foi desprezado pelo Cristianismo, considerado consequência do pecado original”[29]. Um exemplo do desprezo ao trabalho vem do grande pensador medieval Tomás de Aquino, que dizia que o trabalho “causa ofensa à natureza”[30]. O historiador da ciência Reijer Hooykaas argumenta que o avanço tecnológico medieval poderia ser bem maior se não fosse por esse preconceito em relação às «profissões servis»:
 
Persistiam ainda grandes obstáculos sociais à introdução de novidades tecnológicas. Além disso, os ensinamentos escolásticos contribuíam para manter vivo o contraste entre as artes liberais e as não-liberais ou “servis”, bem como os preconceitos contra estas últimas. Assim como existia uma escala moral de valores, que colocava as ocupações intelectuais e religiosas acima dos ofícios manuais, havia também uma hierarquia feudal, na qual cada categoria tinha seus deveres específicos: à nobreza competia defender, ao clero rezar, e aos trabalhadores sustentar a todos.[31]
 
É aqui que entra a grande sacada protestante: a valorização do trabalho. Enquanto os católicos faziam distinção entre o trabalho secular (desprezado e encarado como uma maldição) e o trabalho “espiritual” (como o dos clérigos e de “intelectuais” como Aquino), este sim considerado nobre e valoroso, para os protestantes todo trabalho honesto era realizado para a glória de Deus e contemplado por Ele. Os protestantes, por assim dizer, “sacralizaram” o trabalho secular com a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes, onde todos os cristãos têm um chamado ou vocação divina, mesmo quando este chamado é no mundo secular e não nas quatro paredes da igreja.
 
Em outras palavras, aos olhos de Deus, o trabalho de um simples camponês ou de um comerciante era tão valioso quanto o de um clérigo, porque ambos cumpriam o chamado que receberam da parte de Deus, cada qual ao seu modo. Dado que toda vocação vem de Deus, Calvino defende que “não há emprego desprezível e sórdido, que não seja de fato respeitável, julgado como altamente importante aos olhos de Deus”[32]. O reformador inglês William Tyndale (1494-1536) dizia que apesar de lavar louça e pregar a Palavra de Deus serem atividades diferentes, no que diz respeito a agradar a Deus não havia diferença essencial entre ambas[33].
 
Embora isso soasse escandaloso para o mundo católico da época, contribuiu para revolucionar o conceito de trabalho e impulsionou a atividade mercantil, a mais desprezada de todas. Também contribuiu para isso o fato dos protestantes não se oporem ao lucro para fins comerciais, o que representou um salto extraordinário no comércio dos países protestantes. Calvino “declarou que o empréstimo a juros era lícito e a aquisição de riquezas, legítima”[34]. Mesmo Lutero, o mais «tradicional» dos reformadores, “para deixar liberdade ao espírito, recusara legislar em matéria econômica”[35]. Para ele, o comerciante devia consultar o evangelho e sua consciência, o que livrou muitos deles das restrições escolásticas e da censura eclesiástica[36].
 
Outra evolução diz respeito à forma de lidar com a pobreza. Na visão católica tradicional, a pobreza era em si mesma um mérito, razão por que tantas ordens mendicantes surgiram na Idade Média – monges que se recusavam a trabalhar e preferiam viver da mendicância (ironicamente, o alto clero vivia no extremo oposto, se regalando no mais alto luxo). Mas se a pobreza era um objetivo em si mesmo, como os ricos poderiam ser salvos?
 
É aqui que entra um outro conceito deturpado pelos teólogos medievais: a caridade. Como é bem sabido, a salvação na Igreja de Roma não é pela fé, mas pela fé e obras, que ocupam o papel principal. E quando falamos de “obras”, queremos dizer sobretudo a caridade (leia-se: esmolas). Assim, para que os ricos alcançassem a salvação, era preciso que os pobres continuassem sempre pobres. Quanto mais pobres houvesse, mais “obras meritórias” os ricos poderiam praticar. Os próprios pregadores medievais não hesitavam em se referir a essa relação como uma transação comercial – “os pobres carregam as riquezas dos ricos em suas costas para o céu”[37].
 
O pregador dominicano Giordano da Pisa (1260-1311) explicava essa estranha relação nessas palavras:
 
Deus ordenou que existam ricos e pobres, de sorte que os ricos possam ser servidos pelos pobres e os pobres possam receber os cuidados dos ricos. E esta é uma forma de organização comum entre todos os povos. Por que os pobres têm sua posição na sociedade? Para que os ricos possam ganhar a vida eterna através deles.[38]
 
Ou seja, o pobre existe para que o rico ganhe a salvação através dele. A pobreza realmente não importava, o que importava era como o rico poderia explorar isso em benefício próprio. Como Chatellier comenta, “o principal propósito da caridade não era o de aliviar as dificuldades dos que a recebiam, mas obter mérito diante de Deus”[39]. Evidentemente, em um sistema como esse, quantos mais pobres existissem, melhor. A ideia, portanto, era perpetuar a pobreza, quando não acentuá-la, em vez de criar mecanismos para diminui-la progressivamente. Carter Lindberg discorre de forma precisa:
 
Estudos estatísticos dos livros de registro de impostos da época indicam que a parte da população que não possuía propriedade, os chamados “despossuídos”, somava nas cidades de 30 a 75 por cento da população. Além do mais, havia flutuações significativas nessa tão disseminada pobreza, pois um grande número de diaristas sobrevivia no nível da mera subsistência, sem quaisquer reservas para épocas de crise; assim, os diaristas estavam sempre à beira da mendicância. Esforços práticos para pôr limites à mendicância acabavam sendo frustrados por uma teologia que legitimava a mendicância e valorizava o dar esmolas, bem como por uma Igreja cujos próprios monges mendicantes aumentavam os problemas sociais da pobreza.[40]
 
 Por contraste, Lutero
 
minou essa ideologia religiosa medieval da pobreza com sua doutrina da justificação somente pela graça, à parte de obras humanas. Uma vez que a justiça diante de Deus é adquirida somente por meio da graça e uma vez que a salvação é a fonte da vida, e não a realização da vida, é impossível racionalizar a pobreza e o infortúnio dos pobres transformando-os numa forma peculiar de bem-aventurança. Não há nenhum valor salvífico em ser pobre ou em dar esmolas. Esta nova teologia desideologizava a forma medieval de tratar os pobres, que tinha tanto obscurecido os problemas sociais e econômicos da pobreza quanto obstruído o desenvolvimento da assistência social.[41]
 
Isso não significa que os protestantes fossem contra a caridade, significa que a finalidade da caridade era a superação da pobreza, e não a salvação dos ricos (que implicava na perpetuação da pobreza). Assim, enquanto no mundo católico imperava uma ideologia que literalmente impedia a ascensão social e visava perpetuar a pobreza, obstruir os negócios, coibir o lucro e condenar o mercador, do lado protestante todas essas obstruções caíam por terra para abrir espaço à prosperidade das nações. Foi assim que os países protestantes saíram da periferia da Europa para a dianteira do mundo – enquanto os países católicos permaneciam à margem do desenvolvimento econômico, sobrevivendo a duros custos das migalhas que caíam de seus vizinhos ricos.
 
Mas não é só financeiramente que a Reforma revolucionou o mundo. Se hoje existe alguma coisa que podemos chamar de democracia e se possuímos a liberdade de escolher nossa própria religião e de criticar o poder dominante, devemos muito à Reforma. Em pleno século XIX, o papa Pio IX escrevia sua encíclica Syllabus (1864), onde incluía entre as teses condenadas a de que “é livre a qualquer um abraçar ou professar aquela religião que ele, guiado pela luz da razão, julgar verdadeira”[42].
 
Outras teses condenadas eram:
 
Que no presente tempo não é mais necessário que a religião católica seja mantida como a única religião do Estado com a exclusão de todos os outros modos de culto.[43]
 
Que foi uma providência muito sábia da lei, em alguns países nominalmente católicos, que pessoas que vêm a habitar neles possam gozar do livre exercício de seu próprio culto.[44]
 
A Igreja deve estar separada do Estado e o Estado da Igreja[45].
 
É falso que a liberdade civil de todos os cultos e o pleno poder concedido a todos de manifestarem clara e publicamente as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e dos espíritos dos povos, como contribua para a propagação da peste do Indiferentismo[46].
 
Não satisfeito com isso, alguns meses depois ele publicaria outra bula, intitulada Quanta Cura (1864), onde condena a tese de que o governo civil não tem a obrigação de castigar os «violadores da religião católica» e que a própria Igreja não possa reprimir os que ousam se opor a ela[47]. Ele vocifera ainda contra aqueles que dizem “que a Igreja não tem direito de castigar com penas temporais os que violam suas leis”[48], o que denuncia que mesmo em pleno século XIX os papas ainda queriam manter a máquina de terror da Inquisição, apenas não tinham mais poder para isso.
 
Ou então veja o que dizia o papa Gregório XVI (1831-1846) em sua encíclica Mirari Vos (1832):
 
Esta fonte lodosa do indiferentismo promana aquela sentença absurda e errônea, digo melhor disparate, que afirma e que defende a liberdade de consciência. Esse erro corrupto que abre alas, escudado na imoderada liberdade de opiniões que, para confusão das coisas sagradas e civis, se estende por toda parte, chegando à imprudência de alguém asseverar que dela resulta grande proveito para a causa da religião. Que morte pior há para a alma do que a liberdade do erro?[49]
 
Note o contraste deste pensamento com o de Lutero, o qual, ao ser intimado a se retratar em Worms, disse: “A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos convincentes, nada consigo nem quero retratar, porque é difícil, maléfico e perigoso agir contra a consciência”[50] – mesmo que isso lhe representasse um risco real de morte, como ocorreu com Huss e só não aconteceu com ele também por ter sido salvo pelo príncipe-eleitor da Saxônia. Não à toa, uma das 41 proposições de Lutero condenadas pelo papa Leão X em sua bula Exsurge Domine (1520) era a de que “é contra o desejo do Espírito Santo que heréticos sejam queimados”[51].
 
Na mesma encíclica em que ataca a liberdade de consciência, Gregório XVI “qualifica a liberdade religiosa de loucura e demência”[52] e mostra todo o seu horror à liberdade de opinião, dizendo: “As cidades que mais floresceram por sua opulência, extensão e poderio sucumbiram, somente pelo mal da desbragada liberdade de opiniões, liberdade de ensino e ânsia de inovações”[53]. Ele dedicou até mesmo um tópico inteiro intitulado “A Monstruosidade da Liberdade de Imprensa” (não é brincadeira), onde afirma que a liberdade de imprensa “nunca é condenada suficientemente”[54], além de esbravejar contra aqueles que pregavam a tolerância e a liberdade:
 
Quão falsa, temerária e injuriosa à Santa Sé e fecunda em males gravíssimos para o povo cristão é aquela doutrina que, não contente com rechaçar tal censura de livros como demasiado grave e onerosa, chega até ao cúmulo de afirmar que se opõe aos princípios da reta justiça e que não está na alçada da Igreja decretá-la.[55]
 
Isso ainda era pouco se comparado a Leão XIII (1878-1903), que disse em sua encíclica Libertas Praestantissimum (1888) que “oferecer ao homem liberdade é dar-lhe o poder de desvirtuar ou abandonar impunemente o mais santo dos deveres”[56], e que a liberdade de «cada qual professar a religião que mais lhe agrade» é “contrária à virtude da religião”[57]. Na mesma encíclica ele também esbraveja contra a laicidade do Estado[58] e a liberdade de consciência[59], como não poderia ser diferente.
 
Mesmo em pleno século XX, Pio X (1903-1914) escrevia a encíclica Pascendi Dominici Gregis (1907), onde reiterava todas as condenações à liberdade de consciência e de culto e as classificava na lista de «devaneios» e «absurdos». Ele também inclui a própria democracia no rol das teses condenadas, seguindo o exemplo de seus predecessores (que citavam uma sentença que consideravam errada para censurá-la):
 
Visto pois que o magistério, afinal de contas, não é mais do que um produto das consciências individuais, e só para cômodo das mesmas consciências lhe é atribuído ofício público, resulta necessariamente que ele depende dessas consciências, e por conseguinte deve inclinar-se a formas democráticas. Proibir, portanto, que as consciências dos indivíduos manifestem publicamente as suas necessidades, e impedir à crítica o caminho que leva o dogma a necessárias evoluções, não é fazer uso de um poder dado para o bem público, mas abusar dele.[60]
 
Tenha em conta novamente que o trecho acima não era de uma tese que o papa aprovava, mas daquilo que ele condenava nos modernistas. Até mesmo o seguinte trecho foi considerado “modernista” e incluído no rol das condenações:
 
Nos tempos que correm o sentimento de liberdade atingiu o seu pleno desenvolvimento. No estado civil a consciência pública quis um regime popular. Mas a consciência do homem, assim como a vida, é uma só. Se, pois, a autoridade da Igreja não quer suscitar e manter uma intestina guerra nas consciências humanas, há também mister curvar-se a formas democráticas; tanto mais que, se o não quiser, a hecatombe será iminente. Loucura seria crer que o vivo sentimento de liberdade, ora dominante, retroceda. Reprimindo e enclausurando com violência, transbordará mais impetuoso, destruindo conjuntamente a religião e a Igreja. São estes os raciocínios dos modernistas que, por isto, estão todos empenhados em achar o modo de conciliar a autoridade da Igreja com a liberdade dos crentes.[61]
 
Não surpreende que até mesmo o conceituado historiador católico Paul Johnson tenha reconhecido que
 
os estados protestantes tendiam a ser os principais beneficiários dessa série internacional de movimentos religiosos. Podiam ter religiões estatais, mas tendiam a ser mais tolerantes. Raramente empreendiam perseguições sistemáticas. Não possuíam nenhuma agência equivalente à Inquisição. Não eram clericalistas. Permitiam uma circulação mais livre dos livros.[62]
 
Entre esses livros que circulavam livremente entre os protestantes, mas eram censurados pelos católicos, inclui-se, para a surpresa de muitos, a própria Bíblia. Entre as teses condenadas de Pascásio Quesnel pelo papa Clemente XI em sua Constituição Dogmática Unigenitus Dei Filius (1713), constavam-se:
 
79. É útil e necessário em todo tempo, em todo lugar e para todo gênero de pessoas estudar e conhecer o espírito, a piedade e os mistérios da Sagrada Escritura.
 
80. A leitura da Sagrada Escritura é para todos.
 
81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não é para os leigos razão de dispensar-se da sua leitura.
 
82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristãos com piedosas leituras e, sobretudo, das Sagradas Escrituras. É coisa danosa querer retrair os cristãos desta leitura.
 
83. É ilusão querer convencer-se de que o conhecimento dos mistérios da religião não devem comunicar-se às mulheres pela leitura das Sagradas Escrituras. Não foi a partir da simplicidade das mulheres, mas a partir do conhecimento orgulhoso de homens que surgiu o abuso das Escrituras e as heresias nasceram.
 
84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo Testamento ou mantê-lo fechado, tirando-lhes os meios de compreendê-lo, é fechar-lhes a boca de Cristo.
 
85. Proibir os cristãos de ler a Sagrada Escritura, especialmente os evangelhos, é proibir o uso de luz para os filhos da luz, e levá-los a sofrer uma espécie de excomunhão.
 
Lembre-se, mais uma vez, de que estamos falando das teses que o papa condenou, não daquilo que ele endossava. Em outras palavras, o papa era simplesmente contra que «a leitura da Sagrada Escritura é para todos» ou que a Sagrada Escritura não deveria ser proibida aos leigos. Muito tempo antes, o Concílio de Tolosa de 1229 já havia feito pior, perseguindo de forma selvagem aqueles que possuíssem uma Bíblia:
 
Proibimos os leigos de possuírem o Antigo e o Novo Testamento. (...) Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido.[63]
 
O cânon 14 desse mesmo concílio prescrevia ainda:
 
Proibimos ainda que seja permitido aos leigos possuir os livros do Antigo e Novo Testamento, exceto o Saltério, ou o Breviário para dizer o Ofício divino, ou as Horas da Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoção; porém proibimos estritamente que esses livros sejam em língua vulgar.[64]
 
Poucos anos mais tarde, o Concílio de Tarragona (1234) confirmou as determinações de Tolosa e proibiu qualquer Bíblia em língua vernácula:
 
Ninguém pode possuir os livros do Antigo e do Novo Testamento nas línguas românicas[65], e se alguém possuí-los, deve entregá-los ao bispo local no prazo de oito dias após a promulgação deste decreto, para que eles sejam queimados. E ele, sendo clérigo ou leigo, será considerado suspeito até que seja inocentado de qualquer suspeita.[66]
 
Note o contraste em relação aos reformadores, muitos dos quais se tornaram tradutores da Bíblia na intenção de que todo o povo pudesse ter acesso às Escrituras e chegar às suas próprias conclusões. A verdade já não era mais um monopólio do clero. Entre eles, podemos destacar William Tyndale (1494-1536), brutalmente perseguido por traduzir a Bíblia. Os católicos atacaram sua tipografia[67], queimaram as suas Bíblias[68] e depois conseguiram prendê-lo. Mesmo na prisão, Tyndale prosseguiu firme em sua missão de traduzir o que faltava do Antigo Testamento, e escreveu em carta:
 
Eu imploro a vossa senhoria que peça ao comissário que tenha a bondade de me enviar, das minhas coisas que estão com ele, um gorro mais quente, porque sinto muito frio na cabeça. Peço também que ele me envie um casaco mais quente, porque esse que eu tenho é muito fino. Peço ainda que me mande um pedaço de pano para que eu possa remendar as minhas calças. Mas, acima de tudo, imploro que mande minha Bíblia em hebraico, meu dicionário de hebraico e minha gramática de hebraico, para que eu possa continuar o meu trabalho.[69]
 
Infelizmente para Tyndale, seu fim foi o mesmo de muitos outros: estrangulado e depois queimado. Mas este não foi o fim da Reforma, e a própria Bíblia de Tyndale se tornaria a versão inglesa oficial anos depois, quando a Inglaterra seria ganha para a Reforma.
 
A importância de permitir a livre circulação dos livros vai além do que imaginamos. A liberdade de imprensa é o motor da disseminação de ideias, as quais são fundamentais não só para a democracia, mas para a própria divulgação científica e avanço em todas as áreas do conhecimento. Enquanto a Igreja Católica prendia Galileu por ousar questionar o geocentrismo e colocava as obras de Copérnico no Index de livros proibidos pela mesma razão[70], nos países protestantes não há registro de um só cientista censurado pelas suas ideias.
 
Assim, os países protestantes forneceram um terreno livre para a circulação de ideias revolucionárias que nos legaram o mundo moderno, enquanto as mentes mais brilhantes do lado católico pensavam duas vezes antes de publicar qualquer coisa que pudesse levá-los ao mesmo fim de Giordano Bruno.
 
Deste modo, enquanto a inovação, a ciência e o progresso andavam a todo gás no mundo protestante, no mundo católico a Igreja fazia de tudo para mantê-los os mais medievais possíveis, numa luta feroz contra tudo aquilo que lembrasse a modernidade. É significativo que até mesmo as ferrovias foram proibidas nos Estados Papais, “porque o papa Gregório XVI acreditava que podiam fazer mal à religião”[71], Estados esses que por sinal eram os mais atrasados de todos os países católicos (e não por acaso, os únicos governados diretamente pelo papa).
 
A Igreja empregou todos os seus esforços por manter o ideal feudal o máximo que pudesse, o que significava renunciar ao mundo moderno em prol do mais puro obscurantismo. E o preço foi alto. Países como Espanha, Portugal e a própria Itália se mantiveram em um atraso gritante, e os Estados Papais eram de longe os mais miseráveis e mal administrados.
 
Além do atraso tecnológico e da notória pobreza, os países católicos se notabilizavam pelo analfabetismo. Apesar da criação das universidades (reservadas a uma minoria estrita de homens ricos[72], e elas mesmas cheias dos mais terríveis defeitos, como veremos mais adiante), o homem medieval “era analfabeto, e deixou poucas pegadas de seus pensamentos para a posteridade”[73]. Chama a atenção o fato de que nem mesmo os próprios barões no geral sabiam ler, não sabendo nem ao menos traçar o próprio nome, que substituíam por uma cruz, dando, assim, origem à palavra assinar, a qual primitivamente significava traçar uma cruz em lugar do nome”[74].
 
Até mesmo os bispos católicos medievais – aqueles mesmos responsáveis por nos legar a doutrina que os católicos creem até hoje – eram largamente analfabetos, de modo que muitos eram os bispos que deixavam de apor o seu nome aos cânones dos concílios, em que tomavam parte, visto não saberem escrever”[75]. Uma estimativa otimista calcula que 5% da população da Europa era alfabetizada até o início do século XVI[76], índice em muito inferior aos piores países do mundo moderno (o pior deles, o Sudão do Sul, tem uma taxa de alfabetização de 27%, o que supera em mais de cinco vezes o índice de alfabetizados anteriormente à Reforma).
 
Novamente, foi o protestantismo quem tirou o mundo das trevas do analfabetismo, ao fazer questão que cada pessoa pudesse ler as Escrituras no seu próprio idioma – algo que, como vimos, era violentamente combatido pela Igreja. O conceituado historiador Geoffrey Blainey disserta sobre isso nas seguintes palavras:
 
Os protestantes acreditavam que o maior número possível de pessoas, homens ou mulheres, deviam ler a Bíblia, e isso levou à abertura de mais escolas que ensinassem a ler e a escrever. O índice de alfabetização das mulheres começou a crescer progressivamente. A Prússia, uma base luterana, tornou a educação obrigatória para meninos e meninas em 1717. Na cidade holandesa de Amsterdã, em 1780, uma extraordinária proporção de 64% das noivas assinaram a certidão quando se casaram, enquanto as outras desajeitadamente marcaram uma cruz no lugar onde deveria estar a assinatura, em sinal de consentimento. Na Inglaterra, cerca de 1% das mulheres sabia ler no ano 1500, mas esse número havia aumentado para 40% em 1750. Somente mais tarde os países católicos acabaram seguindo essa tendência revolucionária.[77]
 
Ele acrescenta que a Reforma trouxe o grande benefício de aumentar o número de mulheres alfabetizadas no século XVIII[78], e que só mais tarde os países católicos reagiram, mas mesmo assim “no decorrer dos três séculos seguintes, porém, talvez nenhum país católico tenha alcançado o nível de alfabetização de Escócia, Holanda, Prússia e outros países protestantes”[79].
 
A diferença não estava apenas na alfabetização, mas na qualidade da educação em si. Os livros usados nas universidades católicas das quais eles tanto se orgulham ensinavam “inúmeras lendas geográficas, piamente aceitas, entre as quais figurava a de ferver o oceano ao sul da África, e de haver um povo, perto do Ganges, que se alimentava do perfume de certas flores”[80]. Os livros de história não ficavam por menos. Eles também eram “cheios de ficções e fábulas, pois os historiadores medievais se impressionavam mais com o maravilhoso do que com o verdadeiro”[81].
 
Ivan Lins afirma que eles
 
aceitavam tudo quanto achavam escrito ensina o padre Fleury. Sem crítica, sem discernimento, sem examinar a época e a autoridade dos escritores, tudo lhes parecia igualmente bom. Assim, a fábula de Francus, filho de Heitor, e dos francos vindos de Troia, foi adotada, até fins do século XVI, por todos os historiadores franceses, que faziam também a história da Espanha remontar até Jafé e a da Grã-Bretanha até Bruto. Cada historiador empreendia uma história geral, desde a criação do mundo até a sua época, e aí amontoava, sem critério, tudo quanto encontrava nos livros que lhe caíam nas mãos.[82]
 
Muitos escolásticos achavam que o nome do rio Tigre derivava de Tibério, o imperador romano da época de Jesus, que Justiniano (482-565 d.C) havia vivido antes de Cristo e que Papiniano (142-212 d.C) havia sido executado por Marco Antônio (83-30 a.C), e “a erros tão grosseiros não escapavam nem mesmo os maiores glosadores como Irnério, Placentino, Azo e Acurso”[83]. Os livros de ciência, por sua vez, conseguiam ser ainda mais horríveis, “cheios de absurdos, falando de animais e plantas inexistentes”[84].
 
O Sidrac (também conhecido como “O Tesouro das Ciências”), um dos livros mais usados na Idade Média, dizia que as hemorragias nasais deviam ser tratadas com “dejetos de suínos ainda quente e esterco de camelo batido”[85] e dizia ser bom ter vermes intestinais, porque “se nutrem dos venenos que se encontram no organismo, eliminando-os e favorecendo, assim, a saúde”[86]. A medicina da época dizia que os temperamentos humanos eram governados por quatro humores (sanguíneo, fleugmático, colérico e melancólico), os quais, “em combinação com os signos do zodíaco, determinavam o grau de calor e umidade e a masculinidade ou feminilidade de uma pessoa”[87].
 
Entre os remédios que provinham dessa maravilhosa medicina, destaca-se a triaga, “formada de inúmeras substâncias heterogêneas, inclusive o veneno de víbora, e que curava mordeduras de cobras e uma infinidade de mazelas”[88]. Não sem razão, os médicos eram na época tão desprezados quanto os mercadores, e a medicina árabe estava há anos-luz de vantagem. Tanto é assim que quando Ricardo Coração de Leão se feriu, durante a Terceira Cruzada, ele não buscou a ajuda dos médicos católicos, mas, ironicamente, foi se tratar justamente com os médicos de Saladino, seu inimigo[89].
 
Quando não estavam disseminando mitos ou promovendo remédios duvidosos, os escolásticos passavam a vida discutindo coisas inúteis por pura vaidade, disputando entre si sobre quem conseguia sofismar mais. Foi assim que o teólogo suíço Johan Verus fez um recenseamento do inferno e concluiu que ele era constituído por 1.111 legiões, 72 príncipes e 7.405.926 demônios. Mas Pannethorme Hughes discordou dos cálculos dele e o corrigiu: o inferno tinha na verdade 1.758.064.176 demônios. Não satisfeito, Martim Barshaus mostrou para os dois como se faz teologia de verdade e “chegou à fantástica cifra de 2.665.866.746.666 demônios”[90]!
 
Antes que alguém diga que essas discussões inúteis só eram protagonizadas por teólogos de segunda categoria, basta ler o índice da Suma Teológica de Tomás de Aquino para ver ali discussões do tipo «se nos anjos há conhecimento verspertino e matutino», «se o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino», «se o anjo é mais à imagem de Deus que o homem», «se um anjo ilumina outro», «se o anjo inferior pode iluminar o superior», «se o anjo inferior fala com o superior», «se a mulher devia ter sido produzida na primeira produção das causas», «se no primitivo estado nasceriam mulheres», dentre outros assuntos igualmente pertinentes...
 
Pior que perder tempo em tudo quanto é tipo de discussões inúteis é que essas discussões frequentemente levavam a conclusões perigosas, usando a arte do sofisma que eles conheciam tão bem para induzir a todo tipo de licenciosidade. O abade Fleury, que além de padre era historiador, dizia que os estudantes da Universidade de Paris, além de se perder nas «vãs sutilezas» e nas «questões frívolas e inúteis», “chegavam a sustentar que os adultérios, incestos, etc, quando cometidos por caridade, não constituem pecados”[91].
 
O próprio Inácio de Loyola, o grande nome da Contrarreforma católica e fundador da Companhia de Jesus (jesuítas), “declarava explicitamente que para combater o demônio podia-se recorrer a todos os meios de que este se servia para perder as almas[92]. Disso resultava uma «racionalização de toda a ética»[93], ao maior estilo “os fins justificam os meios”. Não surpreende que o próprio Lutero tenha sido tão caluniado após sua morte, algumas das quais continuam sendo usadas pelos apologistas católicos até hoje.
 
Há muito mais que poderia ser dito, mas, em síntese, o escolasticismo católico pode ser resumido em ensino fraco e enviesado, excessivamente preocupado com discussões frívolas e infrutíferas, largamente baseado em lendas e fábulas, profundamente preconceituoso contra qualquer coisa que fugisse aos moldes tradicionais e de moral altamente duvidosa, para dizer pouco.
 
Não admira que quase ninguém relevante para a ciência tenha sido formado nessas universidades, e que apenas após a Reforma houve uma explosão de ciência, comércio e inovações tecnológicas – estas causadas justamente pela superação do ideal romanista que manteve o mundo em mil anos de atraso. Não é à toa que quando estudamos sobre Revolução Científica falamos do século XVI, e que quando falamos em Revolução Industrial falamos do século XVIII. As principais revoluções que nos levaram ao mundo moderno são posteriores à Reforma, porque foi a Reforma que abriu caminho a elas.
 
Sem a Reforma, estaríamos com toda a probabilidade trabalhando até hoje como servos a um senhor feudal, com uma expectativa de vida que com sorte beirava os 40 anos, vendo a chance dos nossos filhos sobreviverem aos primeiros anos de vida ser vinte vezes menor, matando judeus como estratégia para conter as pestes e recorrendo a dejetos de suínos e esterco de camelo para curar hemorragias nasais.

Ao mesmo tempo, nossa liberdade de escolher nossa religião seria mais ou menos a mesma que os norte-coreanos têm para escolher qualquer sistema de governo que não seja o comunismo, o único jornal permitido seria o do Vaticano News e os cientistas que ousassem descobrir algo novo pensariam duas vezes antes de publicar suas ideias para não torrar na fogueira (provavelmente então se interessariam mais em fazer recenseamentos do inferno).

Nem preciso dizer que você provavelmente não saberia escrever seu próprio nome, que certamente não teria uma Bíblia para ler e que ferrovias nem pensar. Você também podia dar adeus a praticamente todas as grandes invenções que transformaram a humanidade nos últimos séculos e que facilitam a nossa vida nos dias de hoje. De fato, eu consultei cada uma das “100 maiores invenções da história” do livro de Tom Philbin, que não tem nada de protestante nem é um livro religioso, e me certifiquei que a grande maioria delas é posterior à Reforma, e quase todas são de países protestantes:
 

No

Invenção

Posterior a 1517?

País protestante?

1

Roda

Não

Não

2

Lâmpada elétrica

Sim

Sim

3

Imprensa

Não

Não

4

Telefone

Sim

Sim

5

Televisão

Sim

Sim

6

Rádio

Sim

Não

7

Pólvora

Não

Não

8

Computador de mesa

Sim

Sim

9

Telégrafo

Sim

Sim

10

Motor de combustão interna

Sim

Sim

11

Lápis

Sim

Sim

12

Papel

Não

Não

13

Automóvel

Sim

Sim

14

Avião

Sim

Sim

15

Arado

Não

Não

16

Óculos

Sim

Sim

17

Reator atômico

Sim

Sim

18

Bomba atômica

Sim

Sim

19

Computador Colossus

Sim

Sim

20

Vaso sanitário

Sim

Sim

21

Rifle

Sim

Sim

22

Pistola

Sim

Sim

23

Sistema de encanamento

Não

Não

24

Transformação de ferro em aço

Sim

Sim

25

Fio

Não

Não

26

Transitor

Sim

Sim

27

Motor a vapor

Sim

Sim

28

Navegação a vela

Não

Não

29

Arco e flecha

Não

Não

30

Máquina de solda

Sim

Sim

31

Ceifadeira

Sim

Sim

32

Motor a jato

Sim

Sim

33

Locomotiva

Sim

Sim

34

Anestesia

Sim

Sim

35

Bateria

Não

Não

36

Prego

Não

Não

37

Parafuso

Não

Não

38

Aparelho de raio X

Sim

Sim

39

Bússola

Não

Não

40

Embarcação de madeira

Não

Não

41

Estetoscópio

Sim

Não

42

Arranha-céus

Sim

Sim

43

Elevador

Sim

Sim

44

Relógio

Não

Não

45

Cronômetro

Sim

Sim

46

Microcópio

Sim

Sim

47

Braille

Sim

Não

48

Radar

Sim

Sim

49

Ar-condicionado

Sim

Sim

50

Ponte Pênsil

Sim

Sim

51

Termômetro

Sim

Não

52

Incubadora

Sim

Não

53

Tomografia computadorizada

Sim

Sim

54

Aparelho de ressonância magnética

Sim

Sim

55

Drywall

Sim

Sim

56

Motor elétrico

Sim

Sim

57

Arame farpado

Sim

Sim

58

Preservativo

Sim

Sim

59

Telescópio

Sim

Sim

60

Eletrocardiograma

Sim

Sim

61

Marca-passo

Sim

Sim

62

Máquina de diálise renal

Sim

Sim

63

Câmera fotográfica

Sim

Não

64

GPS

Sim

Sim

65

Máquina de costurar

Sim

Sim

66

Filme fotográfico

Sim

Sim

67

Máquina de fiar

Sim

Sim

68

Tijolo

Não

Não

69

Câmera filmadora

Sim

Não

70

Dinamite

Sim

Sim

71

Canhão

Não

Não

72

Balloon Framing

Sim

Sim

73

Máquina de escrever

Sim

Sim

74

Motor a diesel

Sim

Sim

75

Máquina de tríodo a vácuo

Sim

Sim

76

Motor de indução de corrente alternada

Sim

Não

77

Helicóptero

Sim

Sim

78

Máquina de calcular

Sim

Não

79

Lanterna elétrica

Sim

Sim

80

Laser

Sim

Sim

81

Barco a vapor

Sim

Sim

82

Fax

Sim

Sim

83

Tanque militar

Sim

Sim

84

Foguete

Sim

Sim

85

Descaroçador de algodão

Sim

Sim

86

Moinho de vento

Não

Não

87

Submarino

Sim

Sim

88

Tinta

Não

Não

89

Interruptor de circuito

Sim

Sim

90

Máquina de lavar

Sim

Sim

91

Debulhadora

Sim

Sim

92

Extintor de incêndio

Sim

Sim

93

Refrigerador

Sim

Sim

94

Forno

Não

Não

95

Bicicleta

Sim

Sim

96

Gravador

Sim

Sim

97

Derrick

Sim

Sim

98

Fonógrafo

Sim

Sim

99

Sprinkler

Sim

Sim

100

Gravador de vídeo

Sim

Sim

De todas as invenções, como podemos verificar, 80% é posterior à época da Reforma, e, delas, quase 90% surgiram em países protestantes. Diante de tudo isso, é impossível mensurar o quanto o mundo moderno deve à Reforma Protestante. Na minha trilogia dos “500 Anos de Reforma: Como o Protestantismo Revolucionou o Mundo” (dois livros que somam 1.800 páginas, e um terceiro ainda em construção) eu tentei chegar a essa resposta, mas ainda é pouco diante do que o tema merece. Que o protestantismo é superior ao catolicismo, deveria estar longe de qualquer discussão. O que realmente merece ser discutido é por que tantos papistas se recusam a aceitar o que está bem diante dos seus olhos.

Por Cristo e por Seu Reino,

Lucas Banzoli (youtube.com/LucasBanzoli)

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[1] PIRENNE, Jacques. Historia Universal: las grandes corrientes de la historia desde el Renascimiento hasta la formación de los grandes estados continentales de Europa. Barcelona: Ediciones Leo, S. A., 1953. v. 3, p. 67.

[2] MAUROIS, André. História da Inglaterra. Rio de Janeiro: Pongetti, 1959, p. 192.

[3] GRIMBERG, Carl. História Universal: As lutas empreendidas nos séculos XVI-XVII. Estocolmo: Publicaciones Europa-America, 1940. v. 11, p. 62.

[4] MAUROIS, André. História da Inglaterra. Rio de Janeiro: Pongetti, 1959, p. 189.

[5] PIRENNE, Jacques. Historia Universal: las grandes corrientes de la historia desde el Renascimiento hasta la formación de los grandes estados continentales de Europa. Barcelona: Ediciones Leo, S. A., 1953. v. 3, p. 116.

[6] MAUROIS, André. História da Inglaterra. Rio de Janeiro: Pongetti, 1959, p. 155.

[7] FREIRE, Diego. Veja o ranking completo dos 189 países por IDH. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/veja-o-ranking-completo-de-todos-os-paises-por-idh>. Acesso em: 11/02/2024.

[8] ROGERS, Kara. The 100 most influential scientists of all time. New York: Britannica Educational Publishing, 2010.

[9] PHILBIN, Tom. As 100 maiores invenções da história: uma classificação cronológica. São Paulo: Difel, 2006.

[10] Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_crist%C3%A3os_laureados_com_o_Nobel>. Acesso em: 11/02/2024.

[11] McGRATH, Alister E. Revolução Protestante. Brasília: Palavra, 2012, p. 327.

[12] BOLONHA apud McGRATH, Alister E. Revolução Protestante. Brasília: Palavra, 2012, p. 327.

[13] LE GOFF, Jacques. A Idade Média e o Dinheiro: ensaio de antropologia histórica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, c. 7.

[14] ibid.

[15] LEÃO I apud LE GOFF, Jacques. A Idade Média e o Dinheiro: ensaio de antropologia histórica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, c. 7.

[16] STARK, Rodney. A Vitória da Razão: Como o Cristianismo gerou a liberdade, os direitos do homem, o capitalismo e o sucesso do Ocidente. Lisboa: Tribuna da História, 2007, p. 114.

[17] GOFF, Jacques. A Idade Média e o Dinheiro: ensaio de antropologia histórica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, c. 7.

[19] ibid.

[20] LE GOFF, Jacques. Mercadores y Banqueros en la Edad Media. 7ª ed. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1975, p. 87.

[21] ibid.

[22] ibid.

[23] LEÃO I apud LE GOFF, Jacques. Mercadores y Banqueros en la Edad Media. 7ª ed. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1975, p. 55.

[24] LE GOFF, Jacques. Mercadores y Banqueros en la Edad Media. 7ª ed. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1975, p. 87-88.

[26] FOURQUIN, Guy. Senhorio e Feudalidade na Idade Média. São Paulo: Edições 70, 1970, p. 41.

[28] LE GOFF, Jacques. A Idade Média e o Dinheiro: ensaio de antropologia histórica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, c. 3.

[29] ibid, c. 7.

[30] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Pars Prima Secundae”. Questão 41, Art. 4.

[32] CALVINO, João. Institutas. Livro 3, 10:6.

[33] McGRATH, Alister E. Revolução Protestante. Brasília: Palavra, 2012, p. 332.

[34] MOUSNIER, Roland. História Geral das Civilizações: Os Séculos XVI e XVII – Tomo IV. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1960. v. 1, p. 60.

[35] ibid, p. 91.

[36] ibid.

[37] LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001, p. 139.

[38] LESNICK, Daniel. Preaching in Medieval Florence: the social world of Franciscan and Dominican spirituality. Athens: University of Georgia, 1889, p. 126.

[39] CHATELLIER, Louis. The Europe of the Devout: the catholic reformation and the formation of a new society. Cambridge: Cambridge University, 1989, p. 133.

[40] LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001, p. 140.

[41] ibid, p. 141.

[42] PIO IX. Syllabus. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=silabo&lang=bra>. Acesso em: 10/02/2024.

[43] PIO IX. Syllabus. Denzinger, 1701 ss. Citado em: BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 1967, p. 310.

[44] ibid.

[45] PIO IX. Syllabus. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=silabo&lang=bra>. Acesso em: 01/07/2018.

[46] ibid.

[47] PIO IX. Quanta Cura. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/action.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=quantacura&lang=bra&action=print>. Acesso em: 10/02/2024.

[48] ibid, 6.

[49] GREGÓRIO XVI. Mirari Vos. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=mirarivos&lang=bra>. Acesso em: 10/02/2024.

[50] MILLER, Stephen M; HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história – o surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, p. 165.

[51] LEÃO X. Exsurge Domine, n. 33.

[52] BAKER, Robert A. Compendio de la historia cristiana. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1974, p. 306.

[53] GREGÓRIO XVI. Mirari Vos, 10. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=documentos&subsecao=enciclicas&artigo=mirarivos&lang=bra>. Acesso em: 10/02/2024.

[54] ibid, 11.

[55] ibid, 12.

[56] LEÃO XIII. Libertas Praestantissimum. Disponível em: <https://www.veritatis.com.br/libertas-praestantissimum>. Acesso em: 10/02/2024.

[57] ibid, 24.

[58] ibid, 22.

[59] ibid, 37.

[60] PIO X. Pascendi Dominici Gregis. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-x/pt/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis.html>. Acesso em: 10/02/2024.

[61] ibid.

[62] JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 381.

[63] Concílio de Tolosa, Papa Gregório IX, Ano 1229.

[64] ibid.

[65] Entre as línguas românicas, inclui-se o português, o francês, o italiano, o romeno e o espanhol.

[66] Concílio de Tarragona, cânon 2.

[67] MILLER, Stephen M; HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história – o surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, p. 170.

[68] ibid.

[69] GIRALDI, Luiz Antonio. História da Bíblia no Brasil. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, p. 30.

[70] LOPEZ, Luiz Roberto. História da Inquisição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993, p. 83.

[72] “Os estatutos parisienses de 1215 exigem cursar oito anos na faculdade de teologia e uma idade mínima de trinta e cinco anos para obter o doutorado. Portanto, as universidades estão povoadas por uma minoria, uma elite intelectual e social” (LE GOFF, Jacques. La Baja Edad Media. Madrid: Siglo XXI, 1971, p. 246).

[73] BROOKE, Christopher. Europa en el centro de la Edad Media (962-1154). Madrid: Aguilar, 1973, p. 338.

[74] LINS, Ivan. A Idade Média A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 224.

[75] ibid.

[76] LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001, p. 50.

[77] BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2010, p. 189.

[78] ibid, p. 188.

[79] ibid, p. 142.

[80] LINS, Ivan. A Idade Média A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 222.

[81] ibid.

[82] ibid, p. 222-223.

[83] ibid, p. 223.

[84] BASTOS, Plínio. História do Mundo - Da pré-história aos nossos dias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Império, 1983, p. 105.

[85] LINS, Ivan. A Idade Média A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 270.

[86] ibid.

[87] LOPEZ, Luiz Roberto. História da Inquisição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993, p. 29.

[88] LINS, Ivan. A Idade Média A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 269.

[89] ibid, p. 414.

[90] LOPEZ, Luiz Roberto. História da Inquisição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993, p. 45.

[91] LINS, Ivan. A Idade Média A Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 207.

[92] VALENTIN, Veit. História Universal Tomo II. 6ª ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961, p. 288.

[93] ibid.

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28 comentários:

  1. Lucas, o que aconteceu com o livro "a lenda branca da inquisição"? eu não o achei na página dos livros

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    1. Esse é um livro que eu comecei a escrever em 2016 e acabei parando na metade e nunca mais retomei (foi numa época em que eu tinha deixado a apologética de lado por meio ano, aí quando voltei estava mais interessado em outros assuntos e esse livro nunca mais foi retomado). Mas se você quiser, eu posso enviar por e-mail o que já foi escrito do livro, mesmo incompleto tem 226 páginas, pode ser que seja útil. O meu e-mail é:

      lucas_banzoli@yahoo.com.br

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  2. Ótimo trabalho, Lucas! Qual o nome do livro? Vc tem um link pra comprar ou fazer download?

    Como vc responde a essa questão envolvendo Cristo e a imortalidade da alma? https://youtu.be/oET8b8mD91g?t=790

    Vc assistiu ao filme Nosso Lar 2? https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/os-dois-pesos-e-duas-medidas-inexplicaveis-em-nosso-lar-2

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    1. No meu livro "A Lenda da Imortalidade da Alma" eu discorro sobre esse argumento, mais especificamente na página 1072 da versão em pdf (se você ainda não tem, é só baixar na página dos livros, link abaixo):

      http://www.lucasbanzoli.com/2017/04/0.html

      Para resumir bem resumido, isso que ele argumentou não representa nenhum problema para os mortalistas que acreditam na divindade de Cristo porque, se Jesus era Deus, como Deus ele não pode morrer (1Tm 6:16), então o que morreu foi apenas sua humanidade, não sua natureza divina (isso não tem nada a ver com uma alma imortal, já que a alma é parte da natureza humana que morre).

      Esse filme eu nunca ouvi falar, não sabia nem que existia um "Nosso Lar 1", quanto menos um "Nosso Lar 2" xD

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  3. Hello Lucas,

    I was wondering what you thought of this article?:

    https://rationalchristiandiscernment.blogspot.com/2024/02/it-is-finished-biblical-response-to.html

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    1. Hi Jesse, good to see you back, good article as always. This Scott Hahn has the strangest arguments I've ever seen in my life, not even Dave Armstrong can beat him.

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    2. Speaking of Dave Armstrong, do you still interact with him? Does he still respond to your posts?

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    3. I never read his writings again and I don't know if he still cares about me, at the moment I'm more focused on refuting atheists, so I ended up leaving Dave aside...

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    4. What were your last words to him if you can remember?

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    5. My last words to him were in my last article refuting him, this one:

      https://www.lucasbanzoli.com/2023/02/a-nova-tentativa-de-dave-de-justificar.html

      Judging by what he reported, he met me through brazilian catholics who told him about me, so he started reading my articles and became somewhat obsessed...

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  4. Parabéns pelo excelente trabalho. Recentemente li o livro "Estamos Juntos" do Sproul e gostei bastante, onde ele fala sobre a moda católica atual.

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    1. Vlw, Priscyla! Esse livro do Sproul eu ainda não li, mas é um grande autor realmente, pretendo ler assim que possível (ou assim que os ateus com quem ando debatendo ultimamente no meu canal me deem um tempo xD).

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  5. Olá Lucas, como você está?

    Primeiramente, gostaria de pedir perdão pela ausência nas lives de debates nesses últimos 2 anos, me formei recentemente (já uns 3 meses) e estou me preparando para o XL Exame da OAB para brevemente agora este próximo dia 24/03/2024. Por isso eu estou bastante ausente nas últimas lives, a propósito, que bom que o seu canal quase dobrou desde da última vez que eu o vi (a primeira vez que vi os números você tinha menos de 4 mil inscritos e agora tá quase batendo nos 7 mil), que o SENHOR Finalmente possa te abençoar e permitir que você se torne o próximo Yago Martins.

    Mas, voltando ao assunto mais importante, eu gostaria de te perguntar uma coisa: não sei se você anda notando isso, mas, em especial nos últimos 4-3 anos ao que me parece os católicos de Internet ficaram extremamente mais agressivos (inclusive se você ver no TikTok e no Instagram o que tem de Zé Cruzadinha fazendo vídeo 3 atacando os protestantes não tá no gibi). Eu acompanho algumas páginas de teologia e apologética protestante (tanto Arminianas, Calvinistas e Wesleyanas e as que são mais focadas na Bíblia) e em quase todas essas postagens sempre tem um Zé Cruzadinha xingando a gente de tudo que é nome e dizendo que estamos condenados ao inferno por sermos ""hereges"" e toda aquele mimimi de sempre, mas nos últimos anos me parece que a coisa ficou bem mais agressiva do que antes e olha que estou no mundo da apologética há quase 10 anos, e nunca vi os Zé Cruzadinha tão agressivos como nos últimos anos. Porque eles estão tão agressivos desse jeito?

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    1. O tempo passa rápido, não? Parece que foi ontem que você me disse que estava entrando na faculdade de direito, e agora já está se formando, meus parabéns! Desejo-lhe toda a sorte do mundo nesse concurso, é difícil mas eu sei que você tem capacidade pra passar (e se não passar agora, vai ter outras oportunidades). Sobre a questão que você colocou, como eu não tenho TikTok nem acompanho tretas de instagram eu não vejo esse aumento que você observa, e mesmo no youtube faz um tempo que não debato com católicos, então eu francamente nem sabia que o nível estava piorando tanto (embora vindo da parte dessa gente, não é nada além do esperado). Infelizmente a tendência é essa mesmo, quanto mais o tempo passa mais fanáticos surgem de todos os tipos, mesmo porque hoje em dia ninguém controla a informação e qualquer doente pode abrir um canal e ter milhares de inscritos, é como uma praga ou um vírus que se espalha rapidamente. Aí você soma isso ao fato do brasileiro médio já ter mente e intelecto fracos, e dá nisso aí, a multiplicação dos zumbis.

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    2. " [...] nem acompanho tretas de instagram eu não vejo esse aumento que você observa, e mesmo no youtube faz um tempo que não debato com católicos, então eu francamente nem sabia que o nível estava piorando tanto (embora vindo da parte dessa gente, não é nada além do esperado)"

      Piorou sim e muito: os canais desses Zé Cruzadinha cresceram muito e estão ficando cada vez mais populares, em especial com esses adolescentes que seguem o Paulo Kogos e fazem LARP de "Católicos tradicionalistas" na Internet.

      Além disso nos últimos surgiram canais rad-trad como Centro Dom Bosco e afins que ficam toda hora postando vídeos de ex-protestantes que "Se converteram" ao papismo e pior é que eles ainda colocam seitas como Testemunhas de Jeová e Mórmons no mesmo balaio do protestantismo, sendo que, nem mesmo essas seitas acreditam nas cinco solas da Reforma Protestante, inclusive até mesmo nos veem como "Católicos frouxos". O nível de desonestidade intelectual deles pirou tanto que dá até pra aplicar a célebre frase do Tiririca a eles: "Pior do que tá não fica".

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    3. "Infelizmente a tendência é essa mesmo, quanto mais o tempo passa mais fanáticos surgem de todos os tipos, mesmo porque hoje em dia ninguém controla a informação e qualquer doente pode abrir um canal e ter milhares de inscritos, é como uma praga ou um vírus que se espalha rapidamente. Aí você soma isso ao fato do brasileiro médio já ter mente e intelecto fracos, e dá nisso aí, a multiplicação dos zumbis."

      Agora você disse tudo. Infelizmente a tendência é de piora constante, não é à toa que a discussão sobre "inteligência artificial" está tão em alta hoje em dia: se duvidar, um robô da Amazon tem um QI mais alto que o do cidadão médio.

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    4. Desejo-lhe toda a sorte do mundo nesse concurso, é difícil mas eu sei que você tem capacidade pra passar (e se não passar agora, vai ter outras oportunidades)."

      Muito obrigado pelas palavras tão gentis, sempre dou o meu melhor para ser futuramente bom profissional da advocacia. Porém, sempre agradecendo ao SENHOR por abrir as portas das oportunidades de crescimento profissional. Fica com Deus, Abraços!

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    5. "Além disso nos últimos surgiram canais rad-trad como Centro Dom Bosco e afins que ficam toda hora postando vídeos de ex-protestantes que 'se converteram' ao papismo"

      Isso é verdade, eu tenho notado que o marketing deles aumentou nos últimos anos, e principalmente o que parece ter crescido substancialmente foi o sedevacantismo, que é um catolicismo romano piorado (embora sem papa), mil vezes mais atrasado e que saiu direto da Idade Média (pra não dizer dos portões do inferno). O próprio Kogos que você citou se converteu ao sedevacantismo recentemente, isso deve ter impulsionado o movimento já que por alguma razão esse louco desvairado é tido como referência por um tanto de gente (tão desvairada quanto).

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    6. Excelente o comentário do Caio também, assino embaixo cada palavra.

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    7. Muito obrigado pela resposta Caio, infelizmente, a Humanidade está perdida, só Jesus Cristo na causa mesmo pra resolver o problema do orgulho humano.

      Muito obrigado Lucas também pelo adendo à resposta do Caio, fiquem com Deus, um abraço e Feliz Páscoa a todos! JESUS CRISTO É O NOSSO SENHOR!

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    8. Aliás Lucas, eu também trago mais uma boa notícia: passei na primeira fase da Prova da OAB (fiz 40 pontos certinho, que é a nota mínima pra passar na primeira fase da prova) que fiz esse último dia 24/03/2024, agora estou me preparando para a segunda etapa da prova, que é elaborar uma petição inicial de algum caso concreto que a FGV vai nos passar. A matéria que eu escolhi pra segunda fase foi Direito Constitucional (a melhor matéria do Direito, se alguém discorda sinto informar, mas você não tem coração 🤣)

      Estou estudando bastante no momento, mas quando tiver tempo disponível, voltarei ao Blog e ao Canal, pois minha sede por conhecimentos de teologia e apologética está enorme. Enfim, muito obrigado pelo apoio à minha carreira profissional e também à minha busca pelo conhecimento teológico. Fica com Deus, abraços. Feliz Páscoa!

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    9. Ótima notícia, Elion! Feliz páscoa pra você e boa sorte na segunda fase! :)

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  6. "O que realmente merece ser discutido é por que tantos papistas se recusam a aceitar o que está bem diante dos seus olhos"

    O motivo é exatamente o mesmo pelo qual o Gado Lulista e o Gado Bolsonarista se recusam a aceitar que seus líderes são dois picaretas kkkk 🤣🤣🤣

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  7. Vlw Caio, fico feliz pelo reconhecimento! Forte abraço!

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  8. Lucas, veja só isso:

    https://www.instagram.com/p/Cz919R0u4fx/?igsh=MXFxcng4dXFqYzNucQ==

    https://www.instagram.com/p/C2VPhblu4o6/?igsh=MWZtOWJhb29naXZkdg==

    Esses posts são de Latinos Católicos Radicais que vivem nos EUA tentando reescrever a história do país, apagando a Cultura Protestante Anglo-saxã que define o Ethos Americano. Olha, chega a dar nojo!!!!

    Depois de ver essas publicações, eu agora passei a apoiar em definitivo a construção do Muro na Fronteira México-EUA do Trump. Aqui no Brasil temos o Bolsolavismo tentando reescrever a História, enquanto lá nos EUA eles têm um bando de mexicanos/Latinos de segunda geração que se acham verdadeiros Cruzados da Era Medieval que tentam a todo o custo apagar a Cultura Protestante dos EUA.

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  9. Esse post literalmente confirma tudo aquilo que o Caio disse a respeito desse "tradicionalismo católico" (veja só a última foto do post):

    https://www.instagram.com/p/C5Yeim0ujhv/?igsh=Njh3NnU3NXg5dnBv

    Já que eles não conseguem vencer no campo teológico, eles partem pro campo político e social (e o pior politizando arte clássica, que merece respeito e reverência, como propaganda política para fins seus próprios fins pessoais), em especial na criação de posts como esse que instigam esses adolescentes que seguem o Paulo Kogos a "lutar para a preservação do Ocidente".

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