*Nota introdutória: O
artigo em questão é um dos capítulos de um livro em espanhol onde cada capítulo
foi escrito por um autor diferente, e eu fui responsável pelo capítulo em
questão. Ele é em grande parte um resumo do que foi abordado com mais
profundidade nos meus dois volumes dos “500 Anos de Reforma: Como o
protestantismo revolucionou o mundo”, que você pode baixar na página dos livros.
No alvorecer do século XVI, os
países que viriam a se tornar protestantes estavam entre os mais atrasados do
mundo. A Alemanha – então Sacro Império Romano-Germânico – era uma colcha de
retalhos formada por 300 diferentes estados frequentemente envolvidos em
conflitos entre si, e aqueles que viriam a aderir à Reforma eram os «menos civilizados da
Alemanha». A
Suíça, também dividida em uma dúzia de cantões, era tão pobre que sobrevivia na
base do serviço mercenário para nações mais poderosas, e os países nórdicos (Noruega,
Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia) eram tão miseráveis que o próprio
papado fez pouca questão de mantê-los para si.
Até mesmo a Inglaterra, que nos séculos seguintes desfrutaria
de uma imponente soberania na Europa e no mundo, era então uma
“potência de segunda categoria”,
tão desprezada que nem os embaixadores estrangeiros falavam inglês
, e
notadamente preterida pelo Sumo Pontífice em todos os embates envolvendo a
França (não à toa, os ingleses odiavam o papado desde muito antes do cisma de
Henrique VIII)
.
Nem mesmo o seu famoso poder naval era na época uma realidade: sua marinha se
encontrava sucateada no início do reinado de Isabel (1558-1603), a qual é
considerada
“a verdadeira fundadora da potência naval inglesa”.
André Maurois, um dos grandes estudiosos da história da Inglaterra, resume isso
tudo quando diz que no século XIV ela
“já não era
senão um país humilhado e descontente”.
Cinco séculos se passam, e se você consultar o ranking
mais atualizado do Índice de Desenvolvimento Humano, verá que dos 17 países
melhor classificados, inclui-se
todos os 13 de tradição protestante
(Noruega, Suíça, Islândia, Alemanha, Suécia, Austrália, Holanda, Dinamarca,
Finlândia, Reino Unido, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos)
. O
país de tradição protestante
pior classificado é os Estados Unidos, que
está em 17º num ranking com 189 países. Por contraste, os países de tradição
católica no Novo Mundo constam nas últimas posições, superando apenas os da
África, e mesmo os países católicos da Europa estão no geral muito abaixo do
pior
país protestante (a Itália, por exemplo, está apenas em 29º, a Polônia em
35º, e Portugal em 38º).
Tenha em mente que estes eram os países mais
prósperos da Europa no início do século XVI, quando Lutero pregava suas
teses na porta da igreja de Wittenberg. Portugal e Espanha dominavam os mares e
tinham um imenso império colonial do qual extraíam toda a riqueza possível; a Itália
tinha a cultura mais rica e herdava a herança do antigo império, além de ser a
sede do papa; a França era a mais próspera, populosa e militarmente forte do
continente, e até mesmo países do leste europeu, como a Polônia, eram bastante
respeitáveis na comparação com os seus pares.
Se incluirmos as colônias de um e do outro, a
comparação fica ainda mais covarde: enquanto a Austrália e a Nova Zelândia só foram
colonizadas pelos britânicos no final do século XVIII e estão hoje entre os
países mais prósperos e bem-sucedidos do planeta, os países latino-americanos colonizados
pelos espanhóis e portugueses ainda em finais do século XV permanecem
miseravelmente pobres e atrasados até hoje. Talvez isso explique por que tantos
latinos imigrem (legalmente ou não) para Estados Unidos e Canadá, os dois
únicos países de tradição protestante do continente (e também os dois únicos de
sucesso).
Se você trouxer esses dados a um apologista católico,
ele provavelmente dirá que foi sorte, uma obra do acaso ou uma incrível
coincidência monumental que os países protestantes tenham se sobressaído tão
amplamente sobre os países católicos em todos os quesitos civilizacionais – não
só materialmente, mas também na cultura, educação, ciência, tecnologia,
segurança e saúde – e que isso não muda em nada o fato de que são hereges filhos
de Lutero que arderão eternamente no fogo do inferno.
Mas será mesmo que tudo isso não passa de mera
coincidência? Será coincidência que 36 dos 87 maiores cientistas do século XVI
em diante eram protestantes (contra apenas 10 católicos)
?
Será coincidência que das 80 maiores invenções do século XVI para cá, nada a
menos que 71 delas se passaram em um país protestante
? Será
coincidência que dos cristãos ganhadores do prêmio Nobel, 82% sejam
protestantes, frente a apenas 17% de católicos
? E
isso tudo quando a proporção de católicos no mundo é três vezes maior que a de
protestantes (índice que era ainda mais desproporcional nos séculos passados)?
Embora poucos papistas tenham a honestidade
intelectual de reconhecer que tudo isso está longe de ser uma obra do acaso, este
fato não é nenhuma novidade para os historiadores, que há muito tempo
reconhecem que o protestantismo teve um papel decisivo na construção do mundo
moderno.
O primeiro a trabalhar isso com mais atenção foi o
economista alemão Max Weber (1864-1920), um dos fundadores da sociologia. Este
grande e respeitado intelectual alemão observou que não apenas os países
protestantes se destacavam em relação aos países católicos de sua época, mas
até mesmo os estados protestantes dentro de um mesmo país se destacavam na
comparação com os estados católicos – o que era particularmente verdadeiro na
própria Alemanha.
Sua obra “A ética protestante e o espírito do
capitalismo” continua desfrutando de ampla aceitação acadêmica até hoje, onde
prova que tal superioridade dos países protestantes não se dá por uma
conspiração do acaso contra a Igreja Romana, mas pela ética relacionada aos
negócios que difere o protestantismo do catolicismo. Para começo de conversa, no
catolicismo medieval, a próprio lucro era um «pecado mortal»
.
Em 1140, Graciano de
Bolonha, grande autoridade medieval em lei canônica, declarou:
Receber, exigir
ou até mesmo emprestar esperando receber algo acima do capital emprestado é ser
culpado de usura; a usura pode existir em relação ao dinheiro ou outras coisas;
o indivíduo que recebe usura é culpado de roubo, tão culpável quanto um ladrão;
a proibição contra a usura vale tanto para o leigo quanto para o clérigo, mas o
último, quando culpado, será punido com mais severidade.
Os escolásticos (estudiosos católicos da Idade Média e
Moderna) consideravam qualquer margem de lucro como usura, o que talvez ajude a
explicar por que se acomodaram ao feudalismo por tanto tempo – um regime
baseado na servidão e na economia planificada, onde não há espaço para a
ascensão social ou grandes realizações. Escolásticos como Tomás de
Aquino (1225-1274) ajudaram a criar a atmosfera de demonização do dinheiro,
algo tão presente no mundo medieval, como explica o renomado medievalista
Jacques Le Goff:
O século XIII acrescenta à natureza
diabólica do dinheiro um novo aspecto que os grandes autores escolásticos foram
buscar em Aristóteles, ele próprio grande descoberta intelectual do século
XIII. Tomás disse depois de Aristóteles nummus
non parit nummos (“o dinheiro não produz coisas pequenas” ou “o dinheiro
não produz coisas baratas”). De modo que a usura é também um pecado contra a
natureza, sendo a natureza a partir daquele momento, aos olhos dos teólogos
escolásticos, uma criação divina.
O autor acrescenta que para o usurário
“não há salvação, como mostram os escultores nos quais
uma bolsa cheia de dinheiro pendurada no pescoço puxa o usurário para baixo, é
uma descida ao inferno”.
O papa Leão I consagrou o ditado
fenus
pecuniae, funus esta animae (“aproveitar o dinheiro é a morte da alma”)
.
Mais tarde, o segundo Concílio de Latrão (1139) declarou que o usurário não
contrito é condenado pelo Antigo e Novo Testamento e, portanto, não é digno de consolos
eclesiásticos nem de enterro cristão
.
Pouco depois, em 1179, o terceiro Concílio de Latrão dizia
que os usurários eram estranhos nas cidades cristãs e reforçou que a eles devia
ser recusada a sepultura
.
Alguns anos mais tarde, o Concílio de Paris de 1213 considerou a usura um
pecado tão grave quanto a heresia
,
e finalmente, em 1331, o Concílio de Viena autorizou a Inquisição a perseguir
os cristãos que praticavam a usura
.
Sendo a usura um pecado mortal, o próximo passo foi
perseguir, censurar e estigmatizar todos os seus praticantes – ou seja, os que
tentavam viver do comércio. Le Goff afirma que a atitude da Igreja a
respeito do comerciante medieval
“o
obstaculizou em sua atividade profissional e o rebaixou no meio social”, pois “condenado por ela no próprio exercício de seu ofício,
havia sido uma espécie de pária da sociedade medieval, dominada pela influência
cristã”.
O Decreto de Graciano consagrou
a famosa máxima de que
homo mercator nunquam aut
vix potest Deo placere (“o
comerciante não pode agradar a Deus”),
que se tornaria preceito e regra nos séculos seguintes. Isso refletia a opinião
do papa Leão Magno, segundo o qual “é difícil não
pecar quando se tem como profissão comprar e
vender”.
Por essas e outras, o comércio constava entre as chamadas «profissões
proibidas» e «ofícios desonrosos», à semelhança da prostituição – no que
contava com o apoio dos “intelectuais” da época. Le Goff comenta que
os documentos eclesiásticos – manuais de
confissão, estatutos sinodais, repertórios de casos de consciência – que dão
listas de profissões proibidas; illicita
negocia, ou de ofícios desonrosos; inhonesta
mercimonia, quase sempre incluem o comércio. Reproduzem uma frase de uma decretal do papa São Leão o Grande – às
vezes atribuída a Gregório o Grande – segundo a qual “é difícil não pecar
quando se tem a profissão de comprar e vender”. Tomás de Aquino sublinhará que
“o comércio, considerado em si mesmo, tem certo caráter vergonhoso” – quamdam turpitudinem habet. Pode-se
dizer que a Igreja repudia o comerciante, junto com as prostitutas, os
menestréis, os cozinheiros, os soldados, os açougueiros, os estalajadeiros e,
por outra parte, também junto com os advogados, os notários, os juízes, os
médicos, os cirurgiões, etc.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a Igreja proibia
que comerciantes honestos tivessem lucro pelo seu trabalho, ela própria
multiplicava suas riquezas mais e mais, tornando-se
“a
maior proprietária de terras do período feudal”.
E quanto mais a Igreja acumulava terras, pior era a condição da esmagadora
maioria do povo, renegado à condição de servos trabalhando em condições
análogas à escravidão a um senhor feudal, que podia até mesmo castigá-los com
chicotadas
.
Como se não bastasse, o próprio trabalho que eles
realizavam era abertamente desprezado pela Igreja, que o considerava uma
verdadeira maldição. Destes, o mais desprezado era certamente o trabalho braçal,
considerado uma «coisa de mouros e judeus» e por isso mesmo renegado às classes
mais baixas:
Na península Ibérica os mouros e judeus
tinham se dedicado a atividades como o artesanato e o comércio. O verbo
“mourejar”, sinônimo em português de trabalhar, é uma herança desse fato. O
ideal da aristocracia Ibérica era, exatamente, levar uma vida na qual o
trabalho braçal não fosse uma necessidade. O trabalho braçal era considerado coisa de mouros e judeus. O ideal católico de vida
contemplativa reforçava essa ideia. As ordens religiosas católicas cuidavam
para deixar aos monges o maior tempo livre possível para que se dedicassem à
oração. O trabalho existia nos mosteiros, mas era usualmente visto como um
castigo para o homem, pois Deus, ao expulsar Adão do Paraíso, havia anunciado
que ele ganharia o “pão com o suor do rosto”. O homem só passou a trabalhar
quando foi expulso do Paraíso.
Le Goff é um dos muitos historiadores que concordam
que
“o trabalho manual sofria certa ‘pejorização’”
e que
“durante a alta Idade Média o trabalho foi
desprezado pelo Cristianismo, considerado consequência do pecado original”.
Um exemplo do desprezo ao trabalho vem do grande pensador medieval Tomás de
Aquino, que dizia que o trabalho
“causa ofensa à
natureza”.
O historiador da ciência Reijer Hooykaas argumenta que o avanço tecnológico
medieval poderia ser bem maior se não fosse por esse preconceito em relação às
«profissões servis»:
Persistiam ainda grandes
obstáculos sociais à introdução de novidades tecnológicas. Além disso, os
ensinamentos escolásticos contribuíam para manter vivo o contraste entre as
artes liberais e as não-liberais ou “servis”, bem como os preconceitos contra estas
últimas. Assim como existia uma escala moral de valores, que colocava as
ocupações intelectuais e religiosas acima dos ofícios manuais, havia também uma
hierarquia feudal, na qual cada categoria tinha seus deveres específicos: à
nobreza competia defender, ao clero rezar, e aos trabalhadores sustentar a
todos.
É aqui que entra a grande sacada protestante: a
valorização do trabalho. Enquanto os católicos faziam distinção entre o
trabalho secular (desprezado e encarado como uma maldição) e o trabalho
“espiritual” (como o dos clérigos e de “intelectuais” como Aquino), este sim
considerado nobre e valoroso, para os protestantes todo trabalho honesto era
realizado para a glória de Deus e contemplado por Ele. Os protestantes, por
assim dizer, “sacralizaram” o trabalho secular com a doutrina do sacerdócio
universal de todos os crentes, onde todos os cristãos têm um chamado ou vocação
divina, mesmo quando este chamado é no mundo secular e não nas quatro paredes
da igreja.
Em outras palavras, aos olhos de Deus, o trabalho de
um simples camponês ou de um comerciante era tão valioso quanto o de um
clérigo, porque ambos cumpriam o chamado que receberam da parte de Deus, cada
qual ao seu modo. Dado que toda vocação vem de Deus, Calvino defende que
“não há emprego desprezível e sórdido, que não seja de
fato respeitável, julgado como altamente importante aos olhos de Deus”.
O reformador inglês William Tyndale (1494-1536) dizia que apesar de lavar louça
e pregar a Palavra de Deus serem atividades diferentes, no que diz respeito a
agradar a Deus não havia diferença essencial entre ambas
.
Embora isso soasse escandaloso para o mundo católico
da época, contribuiu para revolucionar o conceito de trabalho e impulsionou a
atividade mercantil, a mais desprezada de todas. Também contribuiu para isso o
fato dos protestantes não se oporem ao lucro para fins comerciais, o que
representou um salto extraordinário no comércio dos países protestantes. Calvino
“declarou que o empréstimo a juros era lícito e a
aquisição de riquezas, legítima”.
Mesmo Lutero, o mais «tradicional» dos reformadores,
“para
deixar liberdade ao espírito, recusara legislar em matéria econômica”.
Para ele, o comerciante devia consultar o evangelho e sua consciência, o que
livrou muitos deles das restrições escolásticas e da censura eclesiástica
.
Outra evolução diz respeito à forma de lidar com a
pobreza. Na visão católica tradicional, a pobreza era em si mesma um mérito,
razão por que tantas ordens mendicantes surgiram na Idade Média – monges que se
recusavam a trabalhar e preferiam viver da mendicância (ironicamente, o alto
clero vivia no extremo oposto, se regalando no mais alto luxo). Mas se a pobreza
era um objetivo em si mesmo, como os ricos poderiam ser salvos?
É aqui que entra um outro conceito deturpado pelos
teólogos medievais: a caridade. Como é bem sabido, a salvação na Igreja de Roma
não é pela fé, mas pela fé e obras, que ocupam o papel principal. E quando
falamos de “obras”, queremos dizer sobretudo a caridade (leia-se: esmolas).
Assim, para que os ricos alcançassem a salvação, era preciso que os pobres
continuassem sempre pobres. Quanto mais pobres houvesse, mais “obras
meritórias” os ricos poderiam praticar. Os próprios pregadores medievais não
hesitavam em se referir a essa relação como uma transação comercial –
“os pobres carregam as riquezas dos ricos em suas costas
para o céu”.
O pregador dominicano Giordano da Pisa (1260-1311)
explicava essa estranha relação nessas palavras:
Deus ordenou que existam ricos e pobres, de
sorte que os ricos possam ser servidos pelos pobres e os pobres possam receber
os cuidados dos ricos. E esta é uma forma de organização comum entre todos os
povos. Por que os pobres têm sua posição na sociedade? Para que os ricos possam
ganhar a vida eterna através deles.
Ou seja, o pobre existe para que o rico ganhe a
salvação através dele. A pobreza realmente não importava, o que importava era
como o rico poderia explorar isso em benefício próprio. Como Chatellier
comenta,
“o principal propósito da caridade não era
o de aliviar as dificuldades dos que a recebiam, mas obter mérito diante de
Deus”.
Evidentemente, em um sistema como esse, quantos mais pobres existissem, melhor.
A ideia, portanto, era perpetuar a pobreza, quando não acentuá-la, em vez de
criar mecanismos para diminui-la progressivamente. Carter Lindberg discorre de
forma precisa:
Estudos estatísticos dos livros de registro
de impostos da época indicam que a parte da população que não possuía
propriedade, os chamados “despossuídos”, somava nas cidades de 30 a 75 por
cento da população. Além do mais, havia flutuações significativas nessa tão
disseminada pobreza, pois um grande número de diaristas sobrevivia no nível da
mera subsistência, sem quaisquer reservas para épocas de crise; assim, os
diaristas estavam sempre à beira da mendicância. Esforços práticos para pôr
limites à mendicância acabavam sendo frustrados por uma teologia que legitimava
a mendicância e valorizava o dar esmolas, bem como por uma Igreja cujos
próprios monges mendicantes aumentavam os problemas sociais da pobreza.
Por contraste,
Lutero
minou essa ideologia religiosa medieval da
pobreza com sua doutrina da justificação somente pela graça, à parte de obras
humanas. Uma vez que a justiça diante de Deus é adquirida somente por meio da
graça e uma vez que a salvação é a fonte da vida, e não a realização da vida, é
impossível racionalizar a pobreza e o infortúnio dos pobres transformando-os
numa forma peculiar de bem-aventurança. Não há nenhum valor salvífico em ser
pobre ou em dar esmolas. Esta nova teologia desideologizava a forma medieval de
tratar os pobres, que tinha tanto obscurecido os problemas sociais e econômicos
da pobreza quanto obstruído o desenvolvimento da assistência social.
Isso não significa que os protestantes fossem contra a
caridade, significa que a finalidade da caridade era a superação da
pobreza, e não a salvação dos ricos (que implicava na perpetuação da pobreza).
Assim, enquanto no mundo católico imperava uma ideologia que literalmente
impedia a ascensão social e visava perpetuar a pobreza, obstruir os negócios, coibir
o lucro e condenar o mercador, do lado protestante todas essas obstruções caíam
por terra para abrir espaço à prosperidade das nações. Foi assim que os países
protestantes saíram da periferia da Europa para a dianteira do mundo – enquanto
os países católicos permaneciam à margem do desenvolvimento econômico, sobrevivendo
a duros custos das migalhas que caíam de seus vizinhos ricos.
Mas não é só financeiramente que a Reforma
revolucionou o mundo. Se hoje existe alguma coisa que podemos chamar de
democracia e se possuímos a liberdade de escolher nossa própria religião e de
criticar o poder dominante, devemos muito à Reforma. Em pleno século XIX, o
papa Pio IX escrevia sua encíclica
Syllabus (1864),
onde incluía
entre as
teses condenadas a de que
“é livre
a qualquer um abraçar ou professar aquela religião que ele, guiado pela luz da
razão, julgar verdadeira”.
Outras teses condenadas eram:
Que no presente tempo não é mais necessário
que a religião católica seja mantida como a única religião do Estado com a
exclusão de todos os outros modos de culto.
Que foi uma providência muito sábia da lei,
em alguns países nominalmente católicos, que pessoas que vêm a habitar neles
possam gozar do livre exercício de seu próprio culto.
A Igreja deve estar separada do Estado e o
Estado da Igreja
.
É falso que a liberdade civil de todos os
cultos e o pleno poder concedido a todos de manifestarem clara e publicamente
as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e dos espíritos
dos povos, como contribua para a propagação da peste do Indiferentismo
.
Não satisfeito com isso, alguns meses depois ele
publicaria outra bula, intitulada
Quanta Cura (1864), onde condena a
tese de que o governo civil não tem a obrigação de castigar os «violadores da
religião católica» e que a própria Igreja não possa reprimir os que ousam se
opor a ela
.
Ele vocifera ainda contra aqueles que dizem
“que a
Igreja não tem direito de castigar com penas
temporais os que violam suas leis”,
o que denuncia que mesmo em pleno século XIX os papas ainda queriam manter a
máquina de terror da Inquisição, apenas não tinham mais poder para isso.
Ou então veja o que dizia o papa Gregório XVI
(1831-1846) em sua encíclica Mirari Vos (1832):
Esta fonte lodosa do indiferentismo promana
aquela sentença absurda e errônea, digo melhor disparate, que afirma e que
defende a liberdade de consciência. Esse erro corrupto que abre alas,
escudado na imoderada liberdade de opiniões que, para confusão das coisas
sagradas e civis, se estende por toda parte, chegando à imprudência de alguém asseverar
que dela resulta grande proveito para a causa da religião. Que morte pior há
para a alma do que a liberdade do erro?
Note o contraste deste pensamento com o de Lutero, o
qual, ao ser intimado a se retratar em Worms, disse:
“A
menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos
convincentes, nada consigo nem quero retratar, porque é difícil, maléfico e
perigoso agir contra a consciência”
– mesmo que isso lhe representasse um risco real de morte, como ocorreu com
Huss e só não aconteceu com ele também por ter sido salvo pelo príncipe-eleitor
da Saxônia. Não à toa, uma das 41 proposições de Lutero
condenadas pelo
papa Leão X em sua bula
Exsurge Domine (1520) era a de que “é
contra o desejo do Espírito Santo que heréticos sejam queimados”.
Na mesma encíclica em que ataca a liberdade de
consciência, Gregório XVI
“qualifica a liberdade
religiosa de loucura e demência”
e mostra todo o seu horror à liberdade de opinião, dizendo:
“As cidades que mais floresceram por sua opulência,
extensão e poderio sucumbiram, somente pelo mal da desbragada liberdade de
opiniões, liberdade de ensino e ânsia de inovações”.
Ele dedicou até mesmo um tópico inteiro intitulado
“A Monstruosidade da
Liberdade de Imprensa” (não é brincadeira), onde afirma que a liberdade de
imprensa
“nunca é condenada suficientemente”,
além de esbravejar contra aqueles que pregavam a tolerância e a liberdade:
Quão falsa, temerária e injuriosa à Santa Sé
e fecunda em males gravíssimos para o povo cristão é aquela doutrina que, não
contente com rechaçar tal censura de livros como demasiado grave e onerosa,
chega até ao cúmulo de afirmar que se opõe aos princípios da reta justiça e que
não está na alçada da Igreja decretá-la.
Isso ainda era pouco se comparado a Leão XIII (1878-1903), que
disse em sua encíclica Libertas
Praestantissimum (1888) que “oferecer ao homem
liberdade é dar-lhe o poder de desvirtuar ou abandonar impunemente o mais santo
dos deveres”,
e que a liberdade de «cada qual professar a religião que mais lhe agrade» é “contrária à virtude da religião”.
Na mesma encíclica ele também esbraveja contra a laicidade do Estado e
a liberdade de consciência,
como não poderia ser diferente.
Mesmo em pleno século XX, Pio X (1903-1914) escrevia a
encíclica Pascendi Dominici Gregis (1907), onde reiterava todas as
condenações à liberdade de consciência e de culto e as classificava na lista de
«devaneios» e «absurdos». Ele também inclui a própria democracia no rol das teses
condenadas, seguindo o exemplo de seus predecessores (que citavam uma
sentença que consideravam errada para censurá-la):
Visto pois que o magistério, afinal de
contas, não é mais do que um produto das consciências individuais, e só para
cômodo das mesmas consciências lhe é atribuído ofício público, resulta necessariamente
que ele depende dessas consciências, e
por conseguinte deve inclinar-se a formas democráticas. Proibir,
portanto, que as consciências dos indivíduos manifestem publicamente as suas
necessidades, e impedir à crítica o caminho que leva o dogma a necessárias
evoluções, não é fazer uso de um poder dado para o bem público, mas abusar dele.
Tenha em conta novamente que o trecho acima não era de
uma tese que o papa aprovava, mas daquilo que ele condenava nos modernistas. Até mesmo o seguinte trecho foi
considerado “modernista” e incluído no rol das condenações:
Nos tempos que correm o sentimento de
liberdade atingiu o seu pleno desenvolvimento. No estado civil a consciência
pública quis um regime popular. Mas a consciência do homem, assim como a vida,
é uma só. Se, pois, a autoridade da Igreja não quer suscitar e manter uma
intestina guerra nas consciências humanas,
há
também mister curvar-se a formas democráticas; tanto mais que, se o não
quiser, a hecatombe será iminente. Loucura seria crer que o vivo sentimento de
liberdade, ora dominante, retroceda. Reprimindo e enclausurando com violência,
transbordará mais impetuoso, destruindo conjuntamente a religião e a Igreja.
São
estes os raciocínios dos modernistas que, por isto, estão todos empenhados em
achar o modo de conciliar a autoridade da Igreja com a liberdade dos crentes.
Não surpreende que até mesmo o conceituado historiador
católico Paul Johnson tenha reconhecido que
os estados protestantes tendiam a ser os
principais beneficiários dessa série internacional de movimentos religiosos.
Podiam ter religiões estatais, mas tendiam a ser mais tolerantes. Raramente
empreendiam perseguições sistemáticas. Não possuíam nenhuma agência equivalente
à Inquisição. Não eram clericalistas. Permitiam uma circulação mais livre
dos livros.
Entre esses livros que circulavam livremente entre os
protestantes, mas eram censurados pelos católicos, inclui-se, para a surpresa
de muitos, a própria Bíblia. Entre as teses condenadas de Pascásio
Quesnel pelo papa Clemente XI em sua Constituição Dogmática Unigenitus Dei
Filius (1713), constavam-se:
79. É útil e necessário em todo tempo, em todo
lugar e para todo gênero de pessoas estudar e conhecer o espírito, a piedade e
os mistérios da Sagrada Escritura.
80. A leitura da Sagrada Escritura é para
todos.
81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não
é para os leigos razão de dispensar-se da sua leitura.
82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos
cristãos com piedosas leituras e, sobretudo, das Sagradas Escrituras. É coisa
danosa querer retrair os cristãos desta leitura.
83. É ilusão querer convencer-se de que o
conhecimento dos mistérios da religião não devem comunicar-se às mulheres pela
leitura das Sagradas Escrituras. Não foi a partir da simplicidade das mulheres,
mas a partir do conhecimento orgulhoso de homens que surgiu o abuso das
Escrituras e as heresias nasceram.
84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo
Testamento ou mantê-lo fechado, tirando-lhes os meios de compreendê-lo, é
fechar-lhes a boca de Cristo.
85. Proibir os cristãos de ler a Sagrada
Escritura, especialmente os evangelhos, é proibir o uso de luz para os filhos
da luz, e levá-los a sofrer uma espécie de excomunhão.
Lembre-se, mais uma vez, de que estamos falando das
teses que o papa condenou, não daquilo que ele endossava. Em outras
palavras, o papa era simplesmente contra que «a leitura da Sagrada Escritura é
para todos» ou que a Sagrada Escritura não deveria ser proibida aos leigos.
Muito tempo antes, o Concílio de Tolosa de 1229 já havia feito pior,
perseguindo de forma selvagem aqueles que possuíssem uma Bíblia:
Proibimos os leigos de possuírem o Antigo e
o Novo Testamento. (...) Proibimos ainda mais severamente que estes livros
sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de
esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser
perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será
severamente punido.
O cânon 14 desse mesmo concílio prescrevia ainda:
Proibimos ainda
que seja permitido aos leigos possuir os livros do Antigo e Novo Testamento, exceto o
Saltério, ou o Breviário para dizer o Ofício divino, ou as Horas da
Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoção; porém proibimos
estritamente que esses livros sejam em língua vulgar.
Poucos anos mais tarde, o Concílio de Tarragona (1234)
confirmou as determinações de Tolosa e proibiu qualquer Bíblia em língua vernácula:
Ninguém
pode possuir os livros do Antigo e do Novo Testamento nas línguas românicas, e se alguém
possuí-los, deve entregá-los ao bispo local no prazo de oito dias após a
promulgação deste decreto, para que eles
sejam queimados. E ele, sendo clérigo ou leigo, será considerado suspeito
até que seja inocentado de qualquer suspeita.
Note o contraste em relação aos reformadores, muitos
dos quais se tornaram tradutores da Bíblia na intenção de que todo o povo
pudesse ter acesso às Escrituras e chegar às suas próprias conclusões. A
verdade já não era mais um monopólio do clero. Entre eles, podemos destacar William
Tyndale (1494-1536), brutalmente perseguido por traduzir a Bíblia. Os católicos
atacaram sua tipografia
,
queimaram as suas Bíblias
e
depois conseguiram prendê-lo. Mesmo na prisão, Tyndale prosseguiu firme em sua
missão de traduzir o que faltava do Antigo Testamento, e escreveu em carta:
Eu imploro a vossa senhoria que peça ao
comissário que tenha a bondade de me enviar, das minhas coisas que estão com
ele, um gorro mais quente, porque sinto muito frio na cabeça. Peço também que
ele me envie um casaco mais quente, porque esse que eu tenho é muito fino. Peço
ainda que me mande um pedaço de pano para que eu possa remendar as minhas
calças. Mas, acima de tudo, imploro que mande minha Bíblia em hebraico, meu
dicionário de hebraico e minha gramática de hebraico, para que eu possa
continuar o meu trabalho.
Infelizmente para Tyndale, seu fim foi o mesmo de muitos
outros: estrangulado e depois queimado. Mas este não foi o fim da Reforma, e a
própria Bíblia de Tyndale se tornaria a versão inglesa oficial anos depois,
quando a Inglaterra seria ganha para a Reforma.
A importância de permitir a livre circulação dos
livros vai além do que imaginamos. A liberdade de imprensa é o motor da disseminação
de ideias, as quais são fundamentais não só para a democracia, mas para a
própria divulgação científica e avanço em todas as áreas do conhecimento.
Enquanto a Igreja Católica prendia Galileu por ousar questionar o geocentrismo
e colocava as obras de Copérnico no
Index de livros proibidos pela mesma
razão
,
nos países protestantes não há registro de um só cientista censurado pelas suas
ideias.
Assim, os países protestantes forneceram um terreno
livre para a circulação de ideias revolucionárias que nos legaram o mundo
moderno, enquanto as mentes mais brilhantes do lado católico pensavam duas
vezes antes de publicar qualquer coisa que pudesse levá-los ao mesmo fim de
Giordano Bruno.
Deste modo, enquanto a inovação, a ciência e o
progresso andavam a todo gás no mundo protestante, no mundo católico a Igreja
fazia de tudo para mantê-los os mais medievais possíveis, numa luta feroz
contra tudo aquilo que lembrasse a modernidade. É significativo que até mesmo
as ferrovias foram proibidas nos Estados Papais,
“porque
o papa Gregório XVI acreditava que podiam fazer mal à religião”,
Estados esses que por sinal eram os mais atrasados de todos os países católicos
(e não por acaso, os únicos governados diretamente pelo papa).
A Igreja empregou todos os seus esforços por manter o
ideal feudal o máximo que pudesse, o que significava renunciar ao mundo moderno
em prol do mais puro obscurantismo. E o preço foi alto. Países como Espanha, Portugal
e a própria Itália se mantiveram em um atraso gritante, e os Estados Papais
eram de longe os mais miseráveis e mal administrados.
Além do atraso tecnológico e da notória pobreza, os
países católicos se notabilizavam pelo analfabetismo. Apesar da criação das
universidades (reservadas a uma minoria estrita de homens ricos,
e elas mesmas cheias dos mais terríveis defeitos, como veremos mais adiante), o
homem medieval “era analfabeto, e deixou poucas
pegadas de seus pensamentos para a posteridade”.
Chama a atenção o fato de que nem mesmo os próprios barões no geral sabiam ler,
“não
sabendo nem ao menos traçar o próprio nome, que substituíam por uma cruz,
dando, assim, origem à palavra assinar, a
qual primitivamente significava traçar uma
cruz em lugar do nome”.
Até mesmo os bispos
católicos medievais – aqueles mesmos responsáveis por nos legar a doutrina que
os católicos creem até hoje – eram largamente analfabetos, de modo que “muitos eram os
bispos que deixavam de apor o seu nome aos cânones dos concílios, em que
tomavam parte, visto não saberem escrever”.
Uma estimativa otimista calcula que 5% da população da Europa era alfabetizada
até o início do século XVI
,
índice em muito inferior aos piores países do mundo moderno (o pior deles, o
Sudão do Sul, tem uma taxa de alfabetização de 27%, o que supera em mais de
cinco vezes o índice de alfabetizados anteriormente à Reforma).
Novamente, foi o protestantismo
quem tirou o mundo das trevas do analfabetismo, ao fazer questão que cada
pessoa pudesse ler as Escrituras no seu próprio idioma – algo que, como vimos,
era violentamente combatido pela Igreja. O conceituado historiador Geoffrey
Blainey disserta sobre isso nas seguintes palavras:
Os
protestantes acreditavam que o maior número possível de pessoas, homens ou
mulheres, deviam ler a Bíblia, e isso levou à abertura de mais escolas que
ensinassem a ler e a escrever. O índice de alfabetização das mulheres começou a
crescer progressivamente. A Prússia, uma base luterana, tornou a educação
obrigatória para meninos e meninas em 1717. Na cidade holandesa de Amsterdã, em
1780, uma extraordinária proporção de 64% das noivas assinaram a certidão
quando se casaram, enquanto as outras desajeitadamente marcaram uma cruz no
lugar onde deveria estar a assinatura, em sinal de consentimento. Na
Inglaterra, cerca de 1% das mulheres sabia ler no ano 1500, mas esse número
havia aumentado para 40% em 1750. Somente mais tarde os países católicos
acabaram seguindo essa tendência revolucionária.
Ele acrescenta que “a Reforma
trouxe o grande benefício de aumentar o número de mulheres alfabetizadas no
século XVIII”,
e que só mais tarde os países católicos reagiram, mas mesmo assim “no decorrer dos três séculos seguintes, porém, talvez
nenhum país católico tenha alcançado o nível de alfabetização de Escócia,
Holanda, Prússia e outros países protestantes”.
A diferença não estava apenas na
alfabetização, mas na qualidade da educação em si. Os livros usados nas
universidades católicas das quais eles tanto se orgulham ensinavam “inúmeras lendas geográficas, piamente aceitas, entre as
quais figurava a de ferver o oceano ao sul da África, e de haver um povo, perto
do Ganges, que se alimentava do perfume de certas flores”.
Os livros de história não ficavam por menos. Eles também eram “cheios de ficções e fábulas, pois os historiadores
medievais se impressionavam mais com o maravilhoso do que com o verdadeiro”.
Ivan Lins afirma que eles
aceitavam
tudo quanto achavam escrito – ensina o padre Fleury.
Sem crítica, sem discernimento, sem examinar a época e a autoridade dos
escritores, tudo lhes parecia igualmente bom. Assim, a fábula de Francus, filho
de Heitor, e dos francos vindos de Troia, foi adotada, até fins do século XVI,
por todos os historiadores franceses, que faziam também a história da Espanha
remontar até Jafé e a da Grã-Bretanha até Bruto. Cada historiador empreendia
uma história geral, desde a criação do mundo até a sua época, e aí amontoava,
sem critério, tudo quanto encontrava nos livros que lhe caíam nas mãos.
Muitos escolásticos achavam que
o nome do rio Tigre derivava de Tibério, o imperador romano da época de Jesus, que
Justiniano (482-565 d.C) havia vivido antes de Cristo e que Papiniano (142-212
d.C) havia sido executado por Marco Antônio (83-30 a.C), e “a erros tão grosseiros não escapavam nem mesmo os
maiores glosadores como Irnério, Placentino, Azo e Acurso”.
Os livros de ciência, por sua vez, conseguiam ser ainda mais horríveis, “cheios de absurdos, falando de animais e plantas
inexistentes”.
O Sidrac (também conhecido como “O Tesouro das
Ciências”)
, um dos livros mais usados na Idade Média, dizia que as hemorragias
nasais deviam ser tratadas com
“dejetos de suínos
ainda quente e esterco de camelo batido”
e dizia ser bom ter vermes intestinais, porque
“se
nutrem dos venenos que se encontram no organismo, eliminando-os e favorecendo,
assim, a saúde”.
A medicina da época dizia que os temperamentos humanos eram governados por
quatro humores (sanguíneo, fleugmático, colérico e melancólico), os quais,
“em combinação com os signos do zodíaco, determinavam o
grau de calor e umidade e a masculinidade ou feminilidade de uma pessoa”.
Entre os remédios que provinham
dessa maravilhosa medicina, destaca-se a triaga, “formada
de inúmeras substâncias heterogêneas, inclusive o veneno de víbora, e que curava
mordeduras de cobras e uma infinidade de mazelas”.
Não sem razão, os médicos eram na época tão desprezados quanto os mercadores, e
a medicina árabe estava há anos-luz de vantagem. Tanto é assim que quando
Ricardo Coração de Leão se feriu, durante a Terceira Cruzada, ele não buscou a
ajuda dos médicos católicos, mas, ironicamente, foi se tratar justamente com os
médicos de Saladino, seu inimigo.
Quando não estavam disseminando
mitos ou promovendo remédios duvidosos, os escolásticos passavam a vida
discutindo coisas inúteis por pura vaidade, disputando entre si sobre quem
conseguia sofismar mais. Foi assim que o teólogo suíço Johan Verus fez um
recenseamento do inferno e concluiu que ele era constituído por 1.111 legiões,
72 príncipes e 7.405.926 demônios. Mas Pannethorme Hughes discordou dos
cálculos dele e o corrigiu: o inferno tinha na verdade 1.758.064.176 demônios. Não
satisfeito, Martim Barshaus mostrou para os dois como se faz teologia de
verdade e “chegou à fantástica cifra de 2.665.866.746.666
demônios”!
Antes que alguém diga que essas
discussões inúteis só eram protagonizadas por teólogos de segunda categoria, basta
ler o índice da Suma Teológica de Tomás de Aquino para ver ali discussões do
tipo «se nos anjos há conhecimento verspertino e matutino», «se o conhecimento
vespertino é o mesmo que o matutino», «se o anjo é mais à imagem de Deus que o
homem», «se um anjo ilumina outro», «se o anjo inferior pode iluminar o
superior», «se o anjo inferior fala com o superior», «se a mulher devia ter
sido produzida na primeira produção das causas», «se no primitivo estado
nasceriam mulheres», dentre outros assuntos igualmente pertinentes...
Pior que perder tempo em tudo
quanto é tipo de discussões inúteis é que essas discussões frequentemente
levavam a conclusões perigosas, usando a arte do sofisma que eles conheciam tão
bem para induzir a todo tipo de licenciosidade. O abade Fleury, que além de
padre era historiador, dizia que os estudantes da Universidade de Paris, além
de se perder nas «vãs sutilezas» e nas «questões frívolas e inúteis», “chegavam a sustentar que os adultérios, incestos, etc,
quando cometidos por caridade, não constituem pecados”.
O próprio Inácio de Loyola, o
grande nome da Contrarreforma católica e fundador da Companhia de Jesus
(jesuítas), “declarava explicitamente que para
combater o demônio podia-se recorrer a todos os meios de que este se servia
para perder as almas”.
Disso resultava uma «racionalização de toda a ética»,
ao maior estilo “os fins justificam os meios”. Não surpreende que o próprio
Lutero tenha sido tão caluniado após sua morte, algumas das quais continuam
sendo usadas pelos apologistas católicos até hoje.
Há muito mais que poderia ser
dito, mas, em síntese, o escolasticismo católico pode ser resumido em ensino
fraco e enviesado, excessivamente preocupado com discussões frívolas e
infrutíferas, largamente baseado em lendas e fábulas, profundamente
preconceituoso contra qualquer coisa que fugisse aos moldes tradicionais e de
moral altamente duvidosa, para dizer pouco.
Não admira que quase ninguém relevante
para a ciência tenha sido formado nessas universidades, e que apenas após a
Reforma houve uma explosão de ciência, comércio e inovações tecnológicas –
estas causadas justamente pela superação do ideal romanista que manteve o mundo
em mil anos de atraso. Não é à toa que quando estudamos sobre Revolução
Científica falamos do século XVI, e que quando falamos em Revolução Industrial falamos
do século XVIII. As principais revoluções que nos levaram ao mundo moderno são
posteriores à Reforma, porque foi a Reforma que abriu caminho a elas.
Sem a Reforma, estaríamos com
toda a probabilidade trabalhando até hoje como servos a um senhor feudal, com
uma expectativa de vida que com sorte beirava os 40 anos, vendo a chance dos
nossos filhos sobreviverem aos primeiros anos de vida ser vinte vezes menor, matando
judeus como estratégia para conter as pestes e recorrendo a dejetos de suínos e
esterco de camelo para curar hemorragias nasais.
Ao mesmo tempo, nossa liberdade
de escolher nossa religião seria mais ou menos a mesma que os norte-coreanos
têm para escolher qualquer sistema de governo que não seja o comunismo, o único
jornal permitido seria o do Vaticano News e os cientistas que ousassem
descobrir algo novo pensariam duas vezes antes de publicar suas ideias para não
torrar na fogueira (provavelmente então se interessariam mais em fazer
recenseamentos do inferno).
Nem preciso dizer que você
provavelmente não saberia escrever seu próprio nome, que certamente não teria
uma Bíblia para ler e que ferrovias nem pensar. Você também podia dar adeus a
praticamente todas as grandes invenções que transformaram a humanidade nos
últimos séculos e que facilitam a nossa vida nos dias de hoje. De fato, eu
consultei cada uma das “100 maiores invenções da história” do livro de Tom Philbin, que não tem nada
de protestante nem é um livro religioso, e me certifiquei que a grande maioria
delas é posterior à Reforma, e quase todas são de países protestantes:
No
|
Invenção
|
Posterior a 1517?
|
País protestante?
|
1
|
Roda
|
Não
|
Não
|
2
|
Lâmpada elétrica
|
Sim
|
Sim
|
3
|
Imprensa
|
Não
|
Não
|
4
|
Telefone
|
Sim
|
Sim
|
5
|
Televisão
|
Sim
|
Sim
|
6
|
Rádio
|
Sim
|
Não
|
7
|
Pólvora
|
Não
|
Não
|
8
|
Computador de mesa
|
Sim
|
Sim
|
9
|
Telégrafo
|
Sim
|
Sim
|
10
|
Motor de combustão interna
|
Sim
|
Sim
|
11
|
Lápis
|
Sim
|
Sim
|
12
|
Papel
|
Não
|
Não
|
13
|
Automóvel
|
Sim
|
Sim
|
14
|
Avião
|
Sim
|
Sim
|
15
|
Arado
|
Não
|
Não
|
16
|
Óculos
|
Sim
|
Sim
|
17
|
Reator atômico
|
Sim
|
Sim
|
18
|
Bomba atômica
|
Sim
|
Sim
|
19
|
Computador Colossus
|
Sim
|
Sim
|
20
|
Vaso sanitário
|
Sim
|
Sim
|
21
|
Rifle
|
Sim
|
Sim
|
22
|
Pistola
|
Sim
|
Sim
|
23
|
Sistema de encanamento
|
Não
|
Não
|
24
|
Transformação de ferro em aço
|
Sim
|
Sim
|
25
|
Fio
|
Não
|
Não
|
26
|
Transitor
|
Sim
|
Sim
|
27
|
Motor a vapor
|
Sim
|
Sim
|
28
|
Navegação a vela
|
Não
|
Não
|
29
|
Arco e flecha
|
Não
|
Não
|
30
|
Máquina de solda
|
Sim
|
Sim
|
31
|
Ceifadeira
|
Sim
|
Sim
|
32
|
Motor a jato
|
Sim
|
Sim
|
33
|
Locomotiva
|
Sim
|
Sim
|
34
|
Anestesia
|
Sim
|
Sim
|
35
|
Bateria
|
Não
|
Não
|
36
|
Prego
|
Não
|
Não
|
37
|
Parafuso
|
Não
|
Não
|
38
|
Aparelho de raio X
|
Sim
|
Sim
|
39
|
Bússola
|
Não
|
Não
|
40
|
Embarcação de madeira
|
Não
|
Não
|
41
|
Estetoscópio
|
Sim
|
Não
|
42
|
Arranha-céus
|
Sim
|
Sim
|
43
|
Elevador
|
Sim
|
Sim
|
44
|
Relógio
|
Não
|
Não
|
45
|
Cronômetro
|
Sim
|
Sim
|
46
|
Microcópio
|
Sim
|
Sim
|
47
|
Braille
|
Sim
|
Não
|
48
|
Radar
|
Sim
|
Sim
|
49
|
Ar-condicionado
|
Sim
|
Sim
|
50
|
Ponte Pênsil
|
Sim
|
Sim
|
51
|
Termômetro
|
Sim
|
Não
|
52
|
Incubadora
|
Sim
|
Não
|
53
|
Tomografia computadorizada
|
Sim
|
Sim
|
54
|
Aparelho de ressonância magnética
|
Sim
|
Sim
|
55
|
Drywall
|
Sim
|
Sim
|
56
|
Motor elétrico
|
Sim
|
Sim
|
57
|
Arame farpado
|
Sim
|
Sim
|
58
|
Preservativo
|
Sim
|
Sim
|
59
|
Telescópio
|
Sim
|
Sim
|
60
|
Eletrocardiograma
|
Sim
|
Sim
|
61
|
Marca-passo
|
Sim
|
Sim
|
62
|
Máquina de diálise renal
|
Sim
|
Sim
|
63
|
Câmera fotográfica
|
Sim
|
Não
|
64
|
GPS
|
Sim
|
Sim
|
65
|
Máquina de costurar
|
Sim
|
Sim
|
66
|
Filme fotográfico
|
Sim
|
Sim
|
67
|
Máquina de fiar
|
Sim
|
Sim
|
68
|
Tijolo
|
Não
|
Não
|
69
|
Câmera filmadora
|
Sim
|
Não
|
70
|
Dinamite
|
Sim
|
Sim
|
71
|
Canhão
|
Não
|
Não
|
72
|
Balloon Framing
|
Sim
|
Sim
|
73
|
Máquina de escrever
|
Sim
|
Sim
|
74
|
Motor a diesel
|
Sim
|
Sim
|
75
|
Máquina de tríodo a vácuo
|
Sim
|
Sim
|
76
|
Motor de indução de corrente alternada
|
Sim
|
Não
|
77
|
Helicóptero
|
Sim
|
Sim
|
78
|
Máquina de calcular
|
Sim
|
Não
|
79
|
Lanterna elétrica
|
Sim
|
Sim
|
80
|
Laser
|
Sim
|
Sim
|
81
|
Barco a vapor
|
Sim
|
Sim
|
82
|
Fax
|
Sim
|
Sim
|
83
|
Tanque militar
|
Sim
|
Sim
|
84
|
Foguete
|
Sim
|
Sim
|
85
|
Descaroçador de algodão
|
Sim
|
Sim
|
86
|
Moinho de vento
|
Não
|
Não
|
87
|
Submarino
|
Sim
|
Sim
|
88
|
Tinta
|
Não
|
Não
|
89
|
Interruptor de circuito
|
Sim
|
Sim
|
90
|
Máquina de lavar
|
Sim
|
Sim
|
91
|
Debulhadora
|
Sim
|
Sim
|
92
|
Extintor de incêndio
|
Sim
|
Sim
|
93
|
Refrigerador
|
Sim
|
Sim
|
94
|
Forno
|
Não
|
Não
|
95
|
Bicicleta
|
Sim
|
Sim
|
96
|
Gravador
|
Sim
|
Sim
|
97
|
Derrick
|
Sim
|
Sim
|
98
|
Fonógrafo
|
Sim
|
Sim
|
99
|
Sprinkler
|
Sim
|
Sim
|
100
|
Gravador de vídeo
|
Sim
|
Sim
|
De todas as invenções, como
podemos verificar, 80% é posterior à época da Reforma, e, delas, quase 90% surgiram
em países protestantes. Diante de tudo isso, é impossível mensurar o quanto o
mundo moderno deve à Reforma Protestante. Na minha trilogia dos “500 Anos de
Reforma: Como o Protestantismo Revolucionou o Mundo” (dois livros que somam
1.800 páginas, e um terceiro ainda em construção) eu tentei chegar a essa
resposta, mas ainda é pouco diante do que o tema merece. Que o protestantismo é
superior ao catolicismo, deveria estar longe de qualquer discussão. O que
realmente merece ser discutido é por que tantos papistas se recusam a aceitar o
que está bem diante dos seus olhos.
Por Cristo e por Seu Reino,
- Siga-me no Facebook para estar por dentro das atualizações!
“Os estatutos parisienses de 1215 exigem cursar oito anos na faculdade de
teologia e uma idade mínima de trinta e cinco anos para obter o doutorado.
Portanto, as universidades estão povoadas por uma minoria, uma elite intelectual e social” (LE GOFF,
Jacques. La Baja Edad Media. Madrid:
Siglo XXI, 1971, p. 246).
Lucas, o que aconteceu com o livro "a lenda branca da inquisição"? eu não o achei na página dos livros
ResponderExcluirEsse é um livro que eu comecei a escrever em 2016 e acabei parando na metade e nunca mais retomei (foi numa época em que eu tinha deixado a apologética de lado por meio ano, aí quando voltei estava mais interessado em outros assuntos e esse livro nunca mais foi retomado). Mas se você quiser, eu posso enviar por e-mail o que já foi escrito do livro, mesmo incompleto tem 226 páginas, pode ser que seja útil. O meu e-mail é:
Excluirlucas_banzoli@yahoo.com.br
Ótimo trabalho, Lucas! Qual o nome do livro? Vc tem um link pra comprar ou fazer download?
ResponderExcluirComo vc responde a essa questão envolvendo Cristo e a imortalidade da alma? https://youtu.be/oET8b8mD91g?t=790
Vc assistiu ao filme Nosso Lar 2? https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/os-dois-pesos-e-duas-medidas-inexplicaveis-em-nosso-lar-2
No meu livro "A Lenda da Imortalidade da Alma" eu discorro sobre esse argumento, mais especificamente na página 1072 da versão em pdf (se você ainda não tem, é só baixar na página dos livros, link abaixo):
Excluirhttp://www.lucasbanzoli.com/2017/04/0.html
Para resumir bem resumido, isso que ele argumentou não representa nenhum problema para os mortalistas que acreditam na divindade de Cristo porque, se Jesus era Deus, como Deus ele não pode morrer (1Tm 6:16), então o que morreu foi apenas sua humanidade, não sua natureza divina (isso não tem nada a ver com uma alma imortal, já que a alma é parte da natureza humana que morre).
Esse filme eu nunca ouvi falar, não sabia nem que existia um "Nosso Lar 1", quanto menos um "Nosso Lar 2" xD
Hello Lucas,
ResponderExcluirI was wondering what you thought of this article?:
https://rationalchristiandiscernment.blogspot.com/2024/02/it-is-finished-biblical-response-to.html
Hi Jesse, good to see you back, good article as always. This Scott Hahn has the strangest arguments I've ever seen in my life, not even Dave Armstrong can beat him.
ExcluirSpeaking of Dave Armstrong, do you still interact with him? Does he still respond to your posts?
ExcluirI never read his writings again and I don't know if he still cares about me, at the moment I'm more focused on refuting atheists, so I ended up leaving Dave aside...
ExcluirWhat were your last words to him if you can remember?
ExcluirHow did he find you?!?!?
ExcluirMy last words to him were in my last article refuting him, this one:
Excluirhttps://www.lucasbanzoli.com/2023/02/a-nova-tentativa-de-dave-de-justificar.html
Judging by what he reported, he met me through brazilian catholics who told him about me, so he started reading my articles and became somewhat obsessed...
Parabéns pelo excelente trabalho. Recentemente li o livro "Estamos Juntos" do Sproul e gostei bastante, onde ele fala sobre a moda católica atual.
ResponderExcluirVlw, Priscyla! Esse livro do Sproul eu ainda não li, mas é um grande autor realmente, pretendo ler assim que possível (ou assim que os ateus com quem ando debatendo ultimamente no meu canal me deem um tempo xD).
ExcluirOlá Lucas, como você está?
ResponderExcluirPrimeiramente, gostaria de pedir perdão pela ausência nas lives de debates nesses últimos 2 anos, me formei recentemente (já uns 3 meses) e estou me preparando para o XL Exame da OAB para brevemente agora este próximo dia 24/03/2024. Por isso eu estou bastante ausente nas últimas lives, a propósito, que bom que o seu canal quase dobrou desde da última vez que eu o vi (a primeira vez que vi os números você tinha menos de 4 mil inscritos e agora tá quase batendo nos 7 mil), que o SENHOR Finalmente possa te abençoar e permitir que você se torne o próximo Yago Martins.
Mas, voltando ao assunto mais importante, eu gostaria de te perguntar uma coisa: não sei se você anda notando isso, mas, em especial nos últimos 4-3 anos ao que me parece os católicos de Internet ficaram extremamente mais agressivos (inclusive se você ver no TikTok e no Instagram o que tem de Zé Cruzadinha fazendo vídeo 3 atacando os protestantes não tá no gibi). Eu acompanho algumas páginas de teologia e apologética protestante (tanto Arminianas, Calvinistas e Wesleyanas e as que são mais focadas na Bíblia) e em quase todas essas postagens sempre tem um Zé Cruzadinha xingando a gente de tudo que é nome e dizendo que estamos condenados ao inferno por sermos ""hereges"" e toda aquele mimimi de sempre, mas nos últimos anos me parece que a coisa ficou bem mais agressiva do que antes e olha que estou no mundo da apologética há quase 10 anos, e nunca vi os Zé Cruzadinha tão agressivos como nos últimos anos. Porque eles estão tão agressivos desse jeito?
O tempo passa rápido, não? Parece que foi ontem que você me disse que estava entrando na faculdade de direito, e agora já está se formando, meus parabéns! Desejo-lhe toda a sorte do mundo nesse concurso, é difícil mas eu sei que você tem capacidade pra passar (e se não passar agora, vai ter outras oportunidades). Sobre a questão que você colocou, como eu não tenho TikTok nem acompanho tretas de instagram eu não vejo esse aumento que você observa, e mesmo no youtube faz um tempo que não debato com católicos, então eu francamente nem sabia que o nível estava piorando tanto (embora vindo da parte dessa gente, não é nada além do esperado). Infelizmente a tendência é essa mesmo, quanto mais o tempo passa mais fanáticos surgem de todos os tipos, mesmo porque hoje em dia ninguém controla a informação e qualquer doente pode abrir um canal e ter milhares de inscritos, é como uma praga ou um vírus que se espalha rapidamente. Aí você soma isso ao fato do brasileiro médio já ter mente e intelecto fracos, e dá nisso aí, a multiplicação dos zumbis.
Excluir" [...] nem acompanho tretas de instagram eu não vejo esse aumento que você observa, e mesmo no youtube faz um tempo que não debato com católicos, então eu francamente nem sabia que o nível estava piorando tanto (embora vindo da parte dessa gente, não é nada além do esperado)"
ExcluirPiorou sim e muito: os canais desses Zé Cruzadinha cresceram muito e estão ficando cada vez mais populares, em especial com esses adolescentes que seguem o Paulo Kogos e fazem LARP de "Católicos tradicionalistas" na Internet.
Além disso nos últimos surgiram canais rad-trad como Centro Dom Bosco e afins que ficam toda hora postando vídeos de ex-protestantes que "Se converteram" ao papismo e pior é que eles ainda colocam seitas como Testemunhas de Jeová e Mórmons no mesmo balaio do protestantismo, sendo que, nem mesmo essas seitas acreditam nas cinco solas da Reforma Protestante, inclusive até mesmo nos veem como "Católicos frouxos". O nível de desonestidade intelectual deles pirou tanto que dá até pra aplicar a célebre frase do Tiririca a eles: "Pior do que tá não fica".
"Infelizmente a tendência é essa mesmo, quanto mais o tempo passa mais fanáticos surgem de todos os tipos, mesmo porque hoje em dia ninguém controla a informação e qualquer doente pode abrir um canal e ter milhares de inscritos, é como uma praga ou um vírus que se espalha rapidamente. Aí você soma isso ao fato do brasileiro médio já ter mente e intelecto fracos, e dá nisso aí, a multiplicação dos zumbis."
ExcluirAgora você disse tudo. Infelizmente a tendência é de piora constante, não é à toa que a discussão sobre "inteligência artificial" está tão em alta hoje em dia: se duvidar, um robô da Amazon tem um QI mais alto que o do cidadão médio.
Desejo-lhe toda a sorte do mundo nesse concurso, é difícil mas eu sei que você tem capacidade pra passar (e se não passar agora, vai ter outras oportunidades)."
ExcluirMuito obrigado pelas palavras tão gentis, sempre dou o meu melhor para ser futuramente bom profissional da advocacia. Porém, sempre agradecendo ao SENHOR por abrir as portas das oportunidades de crescimento profissional. Fica com Deus, Abraços!
"Além disso nos últimos surgiram canais rad-trad como Centro Dom Bosco e afins que ficam toda hora postando vídeos de ex-protestantes que 'se converteram' ao papismo"
ExcluirIsso é verdade, eu tenho notado que o marketing deles aumentou nos últimos anos, e principalmente o que parece ter crescido substancialmente foi o sedevacantismo, que é um catolicismo romano piorado (embora sem papa), mil vezes mais atrasado e que saiu direto da Idade Média (pra não dizer dos portões do inferno). O próprio Kogos que você citou se converteu ao sedevacantismo recentemente, isso deve ter impulsionado o movimento já que por alguma razão esse louco desvairado é tido como referência por um tanto de gente (tão desvairada quanto).
Excelente o comentário do Caio também, assino embaixo cada palavra.
ExcluirMuito obrigado pela resposta Caio, infelizmente, a Humanidade está perdida, só Jesus Cristo na causa mesmo pra resolver o problema do orgulho humano.
ExcluirMuito obrigado Lucas também pelo adendo à resposta do Caio, fiquem com Deus, um abraço e Feliz Páscoa a todos! JESUS CRISTO É O NOSSO SENHOR!
Aliás Lucas, eu também trago mais uma boa notícia: passei na primeira fase da Prova da OAB (fiz 40 pontos certinho, que é a nota mínima pra passar na primeira fase da prova) que fiz esse último dia 24/03/2024, agora estou me preparando para a segunda etapa da prova, que é elaborar uma petição inicial de algum caso concreto que a FGV vai nos passar. A matéria que eu escolhi pra segunda fase foi Direito Constitucional (a melhor matéria do Direito, se alguém discorda sinto informar, mas você não tem coração 🤣)
ExcluirEstou estudando bastante no momento, mas quando tiver tempo disponível, voltarei ao Blog e ao Canal, pois minha sede por conhecimentos de teologia e apologética está enorme. Enfim, muito obrigado pelo apoio à minha carreira profissional e também à minha busca pelo conhecimento teológico. Fica com Deus, abraços. Feliz Páscoa!
Ótima notícia, Elion! Feliz páscoa pra você e boa sorte na segunda fase! :)
Excluir"O que realmente merece ser discutido é por que tantos papistas se recusam a aceitar o que está bem diante dos seus olhos"
ResponderExcluirO motivo é exatamente o mesmo pelo qual o Gado Lulista e o Gado Bolsonarista se recusam a aceitar que seus líderes são dois picaretas kkkk 🤣🤣🤣
;p
ExcluirVlw Caio, fico feliz pelo reconhecimento! Forte abraço!
ResponderExcluirLucas, veja só isso:
ResponderExcluirhttps://www.instagram.com/p/Cz919R0u4fx/?igsh=MXFxcng4dXFqYzNucQ==
https://www.instagram.com/p/C2VPhblu4o6/?igsh=MWZtOWJhb29naXZkdg==
Esses posts são de Latinos Católicos Radicais que vivem nos EUA tentando reescrever a história do país, apagando a Cultura Protestante Anglo-saxã que define o Ethos Americano. Olha, chega a dar nojo!!!!
Depois de ver essas publicações, eu agora passei a apoiar em definitivo a construção do Muro na Fronteira México-EUA do Trump. Aqui no Brasil temos o Bolsolavismo tentando reescrever a História, enquanto lá nos EUA eles têm um bando de mexicanos/Latinos de segunda geração que se acham verdadeiros Cruzados da Era Medieval que tentam a todo o custo apagar a Cultura Protestante dos EUA.
Esse post literalmente confirma tudo aquilo que o Caio disse a respeito desse "tradicionalismo católico" (veja só a última foto do post):
ResponderExcluirhttps://www.instagram.com/p/C5Yeim0ujhv/?igsh=Njh3NnU3NXg5dnBv
Já que eles não conseguem vencer no campo teológico, eles partem pro campo político e social (e o pior politizando arte clássica, que merece respeito e reverência, como propaganda política para fins seus próprios fins pessoais), em especial na criação de posts como esse que instigam esses adolescentes que seguem o Paulo Kogos a "lutar para a preservação do Ocidente".