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16 de janeiro de 2023

A pobre e triste tentativa de Dave em refutar a Sola Scriptura e provar a tradição oral

 

Nota introdutória

 
Dave Armstrong é um famoso apologista tridentino norte-americano conhecido por passar o dia inteiro atacando os protestantes na internet em vez de arrumar um trabalho, aproveitando o seu imenso tempo livre para escrever infindáveis artigos que seus oponentes não terão tempo de responder até ganhá-los pelo cansaço e cantar vitória (não à toa, sempre fugiu de debates ao vivo, onde o oponente teria o mesmo tempo que ele e ele não teria como correr para o Google). Desde o início do ano criou uma verdadeira obsessão pela minha pessoa e escreveu mais de 50 artigos “against Lucas Banzoli” antes que eu respondesse qualquer coisa. Sempre com uma linguagem hostil e provocadora, apela ainda a calúnias e difamações típicas da apologética católica (tais como que eu sou “não-teísta” e que “nego a divindade de Cristo”).
 
Depois de passar meses quase implorando pela minha atenção decidi respondê-lo com artigos que refutam linha por linha os seus impropérios, e descobri que, quando refutado, ele responde a um texto de 30 páginas com artigos de 5 páginas onde repete tudo o que já foi refutado e ignora todos os argumentos mais fortes. É superficial, fraco e desqualificado que só continua sendo respondido porque fiz das respostas ao Dave o meu novo esporte favorito (e porque estes artigos serão compilados para um novo livro de respostas às acusações papistas mais comuns, e nada melhor do que demonstrá-las na prática com alguém que se gaba por ter mais de 4 mil artigos “refutando” o protestantismo).
 
(Você pode ver minhas outras refutações ao Dave neste índice)
 
***

Se você está acompanhando essa saga de refutações desde o início até aqui, talvez possa ter tido a impressão de que Dave só tem artigos ruins. Mas isso não é verdade. Ele tem livros ruins também. Um deles se chama “501 Argumentos Bíblicos Contra a Sola Scriptura”, que deveria se chamar “501 Formas Diferentes de Passar Vergonha Tentando Refutar a Sola Scriptura”. Dave postou 25 deles neste artigo, que é uma amostra grátis do que acontece quando se mistura amadorismo com ignorância, somada à habitual desonestidade intelectual e ao baixo poder cognitivo (também habitual).
 
Mas uma coisa não podemos deixar de notar (e nisso ele merece todos os elogios): seu esforço homérico em acumular os piores argumentos possíveis que se possa imaginar. Eu mal posso pensar no quão difícil deve ter sido essa façanha. Coisa de gênio mesmo, que só quem tem 4.000 artigos e 50 livros é capaz. Vejamos um a um:
 
1. O resultado final não é “tradição versus nenhuma tradição”, mas sim “tradição verdadeira e apostólica versus falsas tradições de homens”.
 
Certo. O que é preciso provar agora é que a tradição romanista é especificamente a “tradição verdadeira e apostólica”, e não – apenas para citar um exemplo óbvio – a tradição da Igreja Ortodoxa, que alega ser tão antiga quanto a romana e também remeter aos apóstolos, e mesmo assim o resultado final é tão diferente quanto o representado na tabela abaixo:
 

Tradição Romana

Tradição Ortodoxa

Culto às imagens de escultura

Apenas ícones

Jurisdição universal do papa

Jurisdição local de cada bispo

Vinte concílios ecumênicos

Apenas sete

Cânon de 73 livros

Cânon de 77 livros

Imaculada conceição de Maria

Sem imaculada conceição

Purgatório

Sem purgatório

Indulgências

Sem indulgências

Inquisição

Sem Inquisição

Celibato obrigatório do clero

Celibato facultativo

Juízo individual e juízo final

Apenas um juízo

Batismo por aspersão

Batismo por imersão

Espírito Santo procede do Pai e do Filho

Espírito Santo só procede do Pai

O papa é infalível

O papa é falível

Comunhão somente com a hóstia

Comunhão com o pão e o vinho

Comunhão somente após a “primeira comunhão”

Comunhão desde a infância (após o batismo)

Comunhão com pão ázimo

Comunhão com pão fermentado

Some a isso todas as diferenças essenciais envolvendo pontos em comum, tais como o processo de canonização dos santos, o sacramento da confissão, o sacramento da extrema unção e o sacramento do crisma, que possuem um entendimento diferente na Igreja Ortodoxa do que se tem na Igreja Romana, isso sem falar nas diferenças litúrgicas, na quantidade de ordens eclesiásticas, nas rezas, na concepção de Estado e Igreja e na compreensão escatológica, por demais extensos para detalhar aqui.
 
Algo aparentemente tão pequeno e insignificante como a diferença no calendário litúrgico foi o suficiente para quase causar um cisma na Igreja ainda no século II, quando os orientais celebravam a páscoa no tradicional dia judaico de 14 de Nisã, e os bispos romanos exigiam que fosse celebrada no domingo (eu já falei sobre isso no artigo “Roma falou, e de novo a causa não acabou”). No meu livro de 1.900 páginas sobre “A Lenda da Imortalidade da Alma”, eu falo da visão oriental largamente desconhecida sobre o inferno, que chocaria a maioria das pessoas. O que quase ninguém sabe é que eles creem numa espécie de “universalismo”, onde é possível alguém deixar o inferno e ser recebido no céu (que é, pelo menos, menos horrenda que a doutrina romana que acabou pegando no Ocidente).
 
Cabe a Dave não apenas dizer que os católicos romanos guardam a “tradição apostólica”, mas provar que isso que ele chama de “tradição apostólica” realmente remete aos apóstolos por sucessão oral ininterrupta – em detrimento da tradição oral dos ortodoxos e de tantos outros. Isso é obviamente impossível, tanto que em 14 anos de apologética eu nunca vi um único papista sequer tentando argumentar racionalmente nessa direção. Na melhor das hipóteses, o que eles fazem é apelar a um argumento circular onde “a tradição romana é a certa, porque o papa é o sucessor de São Pedro”, que não só se baseia numa premissa ainda mais falaciosa, mas é um non sequitur grosseiro que tem por finalidade fugir do cerne da discussão.
 
Eu vasculhei os artigos de Dave sobre tradição e Sola Scriptura para ver se achava qualquer resposta a este respeito, e o que encontrei foi o mesmo com que me deparei nos últimos 14 anos: nada. Ele simplesmente assume que a tradição romanista é a mesma “tradição apostólica” crida e seguida desde sempre sem corrupção nem alteração, e cruza os dedos pra ninguém questionar algo tão óbvio. Como você poderá notar, todos os outros 24 argumentos dependem essencialmente dessa frágil e débil premissa, que nenhum historiador isento levaria a sério. Um exemplo disso é o argumento seguinte, este aqui:
 
2. A tradição não pode ser separada da Bíblia; isso seria como tentar separar átomos de hidrogênio de uma molécula de água.
 
É irônico que isso contrarie a própria definição de “tradição” dada pelos blogueiros católicos na tentativa desesperada de encontrar fundamento a numerosas doutrinas que eles não encontram na Bíblia. O argumento católico é justamente que não precisamos encontrar as doutrinas na Bíblia, porque existe uma “tradição oral” paralela que serve igualmente para fundamentar doutrinas e que tem o mesmo peso das Escrituras. Veja por exemplo o que disse Dom Henrique Soares da Costa, um famoso bispo católico brasileiro, sobre os católicos que ousam julgar o ensinamento da Igreja pelas Escrituras:
 

Na prática, o mito da “tradição oral” nada mais é que uma bela cartola de mágico, que pode tirar dali quantas e quais coelhos quiser, a depender apenas de sua imaginação e criatividade. Não encontrou a assunção de Maria na Bíblia? Não tem problema: diga que está “na tradição oral”. Está com dificuldades para provar o purgatório na Bíblia para aquele protestante chato e teimoso que insiste em não aceitar seus dois textos isolados tirados ridiculamente do contexto? Não tem problema: diga que está “na tradição oral”. Não há nada mais fácil na vida do que ser um apologista católico.
 
Como a tradição oral da forma que sustentada por Roma nada mais é que um bode expiatório para justificar todo o festival de heresias criadas ao longo dos séculos sem nenhum apoio bíblico, nada poderia ser mais irônico do que a afirmação de que “a tradição não pode ser separada da Bíblia”. Claro, uma boa tradição realmente não poderia ser separada da Bíblia. Mas quando falamos de apologética católica, definitivamente não falamos de boa tradição: falamos justamente da cartola do mágico, ansioso em tirar dali quantas e quais doutrinas sua imaginação permita, bastando deixar a criatividade fluir (e tudo isso para não ter que justificar suas doutrinas na Bíblia).
 
3. Tornei-me católico em grande parte porque as inovações protestantes foram apenas invenções dos homens. Elas não tinham apoio na história da Igreja e, portanto, nenhuma razão para serem aceitas.
 
Isso não poderia ser mais falso. Dave sabe que são as crenças católicas que «não tem apoio na história da Igreja», o que levou muitos teólogos católicos (a exemplo do cardeal Newman) a inventar o conceito do “desenvolvimento da doutrina”, basicamente para explicar como uma doutrina pode ser verdadeira mesmo sem ser encontrada nem na Bíblia, nem nos Pais da Igreja. “Ela só se desenvolveu”, é a tese dele, em vez de reconhecer que ela é um acréscimo espúrio que deveria ser rejeitado com horror, exatamente como Paulo escreveu:
 
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gálatas 1:8-9)
 
Não há prova melhor de que as doutrinas católicas não têm amparo na história mais antiga da Igreja do que ler o que os próprios teólogos e historiadores católicos mais gabaritados escrevem (me refiro a teólogos sérios e renomados, não a leigos palpiteiros e panfletários como Armstrong). Eu demonstro isso neste artigo, onde mostro vinte dos mais respeitados estudiosos católicos romanos que admitem abertamente que não existia algo como o papado na Igreja primitiva (incluindo alguns com o Nihil obstat e o Imprimatur concedidos pela Igreja, como o padre Raymond E. Brown).
 
A diferença entre esses eruditos católicos e a ralé apologética (que tem Dave como cabeça) é que eles não têm por objetivo fazer malabarismos cômicos para encontrar na patrística o apoio às suas crenças, enquanto estes não perdem a primeira oportunidade de tirar textos do contexto e interpretá-los da forma mais bizarra possível (isso quando não citam textos literalmente forjados de Cipriano ou de Agostinho). Se eles (os estudiosos) percebem que todas as evidências patrísticas apontam na direção contrária a uma crença católica, eles preferem reconhecer o fato do que dar piruetas argumentativas pra tentar manipular a realidade por motivações proselitistas.
 
Nada exemplifica isso com mais clareza do que a crença na imaculada conceição de Maria, declarada dogma em pleno ano de 1854, e rejeitada unanimemente por todos os Pais da Igreja (que não só jamais afirmaram que Maria teve uma concepção imaculada, como eram enfáticos em afirmar que o único imaculado desde a concepção é Jesus, como você pode ver aqui e aqui). Ou então tome como exemplo o dogma da assunção de Maria, proclamado só com um pouquinho de atraso (em 1950, quando Dave ainda escrevia numa máquina de escrever), que era desconhecida até mesmo pelos Pais que se dispuseram a escrever obras sobre Maria (como Epifânio, que escreveu sobre “Os Últimos Dias da Virgem Maria” e misteriosamente não tinha nada a dizer quanto à sua assunção).
 
O Bruno Lima tem um site inteiro sobre isso (o melhor que eu conheço e o que mais recomendo aos meus leitores sempre que posso), o “Respostas Cristãs”, com centenas de respostas acadêmicas ao proselitismo católico de internet, inteiramente dedicado a mostrar como a patrística refuta o romanismo em praticamente tudo o que Roma defende. Isso explica por que os maiores estudiosos de patrística que já existiram eram protestantes (tais como Philip Schaff, J. N. D. Kelly e Hans von Campenhausen), que embora conheçam infinitamente mais de história da Igreja do que Dave conheceria se tivesse dez vidas, não encontraram qualquer razão para se tornarem católicos.
 
Pelo contrário: quando Roma declarou o dogma da infalibilidade papal (novamente com um pouquinho só de atraso, em 1870), o maior teólogo católico do século XIX, Ignaz von Döllinger, não só se opôs ao dogma, como escreveu um imenso livro jogando na cara todas as provas históricas de que tal dogma contrariava basicamente toda a história da Igreja, com numerosos exemplos de Pais que se opuseram aos bispos romanos e até os declararam hereges. O livro se chama “O Papa e o Concílio”, que Döllinger inicialmente publicou em anonimato, e depois de descoberto aderiu a uma vertente cismática conhecida como “veterocatólicos” (católicos que negam a infalibilidade papal).
 
Não precisamos nem ir tão longe: até os católicos mais proselitistas costumam conceder que, por exemplo, o milenarismo (hoje mais conhecido pelo nome de “pré-milenismo”) era a posição dos primeiros Pais da Igreja, pelo menos até a época de Irineu (leia mais sobre isso no meu artigo “O milenarismo dos primeiros Pais da Igreja”). O icônico professor Orlando Fedeli, criador da Associação “Cultural” Montfort e maior ícone da apologética católica nos anos 2000, chegou a dizer, pasme, que Irineu seria um herege se defendesse o milenarismo hoje, mas como fez isso naquela época (antes do milenarismo ser condenado pela ICAR), ele não é (ufa, que sorte a dele!).
 
No meu artigo sobre “A origem das doutrinas da Reforma”, eu mostro como não só o milenarismo, mas basicamente todas as doutrinas protestantes são explicitamente defendidas pelos Pais da Igreja – principalmente pelos mais antigos, que viveram mais perto dos apóstolos. Isso não significa que não tenha havido Pais que defendessem doutrinas aceitas hoje por Roma. Dada a imensa quantidade de Pais da Igreja e de obras por eles escritas, obviamente existem. Mas são poucos e parcos na comparação com o todo, dos quais não podemos incluir nenhum dos que viveram mais perto dos apóstolos (ou seja, os Pais dos primeiros dois séculos, dos quais não temos virtualmente nada que sirva de apoio a Roma).
 
Até mesmo doutrinas que mais tarde se tornaram febre na Igreja e passaram a ser defendidas por quase todo mundo eram fortemente rejeitadas pelos Pais mais antigos. Como eu mostro em meu livro “Os Pais da Igreja contra a Imortalidade da Alma”, até finais do segundo século até a crença na imortalidade da alma era rejeitada. Veja por exemplo o que escreveu Justino, que em uma tacada só refuta duas crenças que surgiriam com força mais tarde (o imortalismo e o amilenismo):
 
“Se vós vos deparais com supostos cristãos que não façam esta confissão, mas ousem também vituperar o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, e neguem a ressurreição dos mortos, sustentando antes, que no ato de morrer, as suas almas são elevadas ao céu, não os considereis cristãos. Mas eu e os outros, que somos cristãos de bem em todos os pontos, estamos convictos de que haverá uma ressurreição dos mortos, e mil anos em Jerusalém, que será construída, adornada e alargada, como os profetas Ezequiel e Isaías e outros declaram” 
(Diálogo com Trifão, 80)
 
neste artigo, eu mostro outras dez doutrinas em que os Pais da Igreja divergiram em massa da doutrina católica atual, incluindo a transubstanciação, o preterismo e os “deuterocanônicos” (apócrifos). E eu nem preciso falar da iconodulia, igualmente rejeitada pelos Pais da Igreja com um certo horror, assunto no qual Pedro Gaião já cansou de aloprar papistas em debates (como o pobre coitado do Rogério Fernandes, que passou vergonha por duas horas seguidas neste debate).
 
Por fim, mas não menos importante, a própria Sola Scriptura faz parte do conjunto de doutrinas defendidas pelos Pais da Igreja, e rejeitadas pelos católicos. O meu livro “Em Defesa da Sola Scriptura” poderia muito bem se chamar “Enciclopédia de Textos Patrísticos sobre a Sola Scriptura”, já que há mais de 400 citações patrísticas em defesa da Sola Scriptura apenas nos documentos que eu consultei. Há muito tempo eu desafiei qualquer papista a me mostrar uma declaração de Lutero ou Calvino sobre a Sola Scriptura que fosse mais enfática do que essa, de Cirilo de Jerusalém:
 
"Que este selo permaneça sempre em tua mente, o qual foi agora, por meio do sumário, colocado em teu coração e que, se o Senhor o permitir, daqui em diante, será elaborado de acordo com nossas forças por provas da Escritura. Porque, concernente aos divinos e sagrados Mistérios da Fé, é nosso dever não fazer nem a mais insignificante observação sem submetê-la às Sagradas Escrituras, nem sermos desviados por meras probabilidades e artifícios de argumentos. Não acreditem em mim porque eu vos digo estas coisas, a menos que recebam das Sagradas Escrituras a prova do que vos é apresentado: porque esta salvação, a qual temos pela nossa fé, não nos advém de arrazoados engenhosos, mas da prova das Sagradas Escrituras 
(Leituras Catequéticas 4:17)
 
Ou então que essa citação de Gregório de Nissa:
 
“A generalidade dos homens ainda flutua em suas opiniões acerca disto, as quais são tão errôneas como eles são numerosos. Quanto a nós, se a filosofia gentílica, que trata metodicamente todos estes pontos, fosse realmente adequada para uma demonstração, com certeza seria supérfluo adicionar uma discussão acerca da alma a tais especulações. Mas ainda que tais especulações procedessem, no que se refere ao assunto da alma, avançando tanto quanto satisfizessem ao pensador na direção das consequências já antevistas, nós não estamos autorizados para tomar tal licença - refiro-me a sustentar algo meramente por que nos satisfaz; pelo contrário, nós fazemos com que as Sagradas Escrituras sejam a regra e a medida de cada postulado; nós necessariamente fixamos nossos olhos sobre isto, e aprovamos somente aquilo que se harmoniza com o sentido de tais escritos 
(Da Alma e da Ressurreição)
 
Até hoje não apareceu ninguém; espero que o grande Dave se dê ao trabalho (até porque este é o trabalho dele, como ele faz questão de acentuar).
 
O próprio Agostinho chamou inúmeras vezes a Escritura de «autoridade suprema» e de «ápice da autoridade», que é a própria definição de “Sola Scriptura”:
 
“Quem é que se submete a divina Escritura, senão aquele que a lê ou ouve piamente, submetendo a ela como a autoridade suprema?” 
(Do Sermão do Monte, Livro I, 11)
 
“Eu fecho com uma palavra de conselho para vocês que estão inseridos naqueles chocantes e condenáveis erros: que reconheçam a autoridade suprema da Escritura 
(Contra Fausto, Livro XXXIII, 9)
 
“Este mediador, tendo falado o que Ele julgou suficiente primeiramente pelos profetas, em seguida por Seus próprios lábios, e depois pelos apóstolos, também produziu a Escritura canônica, que tem autoridade suprema, e à qual nos submetemos assentimento em todos os assuntos” 
(A Cidade de Deus, Livro XI, 3)
 
“Não faltam obras eclesiásticas – sem contar as Escrituras canônicas, salutarmente colocadas no ápice da autoridade – por cuja leitura um homem bem dotado pode penetrar, além de seu conteúdo, no estilo das mesmas” 
(A Doutrina Cristã, Livro IV, 4)
  
Por isso ele tem tanta confiança em dizer que qualquer ensino que não se encontrasse na Escritura deveria ser considerado anátema (maldição):
 
“Se alguém pregar, seja com referência a Cristo ou à sua Igreja, ou a qualquer outro assunto que se refira à nossa fé e vida, não direi se nós, mas sim o que Paulo acrescenta: se um anjo vindo do Céu pregar qualquer coisa além do que recebestes pela Escritura sobre a Lei e os Evangelhos, que seja anátema 
(Contra Litteras Petiliani, Livro III, 6)
 
Mesmo as próprias coisas que ele ensinava não tinham peso pela sua própria autoridade, mas precisavam ser confirmadas pela autoridade das Escrituras:
 
“Essas coisas que eu propus pertencem a nossa crença, e podem ser confirmadas por você nessa nossa profissão de fé, sem prejuízo da autoridade da fé cristã. Porque eu não posso mostrar de modo algum que eu acertadamente acredito, a não ser que eu confirme aquela crença pela autoridade das Escrituras (Acts or Disputation Against Fortunatus, 20)
 
“Pois os raciocínios de qualquer homem que seja, mesmo que seja católico e de alta reputação, não é para ser tratado por nós da mesma forma que a Escritura canônica é tratada. Estamos em liberdade, sem fazer qualquer ofensa ao respeito que estes homens merecem, para condenar e rejeitar qualquer coisa em seus escritos, se por acaso vemos que eles têm tido opiniões divergentes daquela que os outros ou nós mesmos temos, com a ajuda divina, descoberto ser a verdade. Eu lido assim com os escritos de outros, e eu gostaria que meus inteligentes leitores lidassem assim com os meus (Carta 148, 4)
 
Isso também refuta o argumento católico (que é também o de Dave) de que a tradição foi “preservada” nos escritos dos Pais da Igreja (isso quando não dizem que os escritos patrísticos são a própria tradição). Agostinho é perfeitamente claro em dizer que os escritos dos Pais da Igreja, incluindo os dele próprio, não tinham a mesma autoridade da Escritura, pois a Escritura é verdadeira em si mesma, e os Pais estão sujeitos ao erro e são suscetíveis de serem refutados:
 
“Mas quem pode deixar de estar ciente de que a Sagrada Escritura canônica, tanto do Antigo como do Novo Testamento, está confinada dentro de seus próprios limites, e que ela está tão absolutamente em uma posição superior a todas as cartas posteriores dos bispos, e que sobre ela não podemos ter nenhum tipo de dúvida ou disputa se o que está nela contida é certo e verdadeiro, mas todas as cartas de bispos que foram escritas ou que estão sendo escritas são suscetíveis de serem refutadas, se há alguma coisa nelas contidas que se desvia da verdade” 
(Do Batismo, Contra os Donatistas, Livro II, 3)
 
“Em primeiro lugar, esta classe de escritos [dos Pais] deve ser considerado de menor autoridade, distinguindo-se da Escritura canônica. Pois tais escritos não são lidos por nós como um testemunho do qual seria ilegal manifestar qualquer opinião diferente, pois pode ser que as opiniões deles sejam diferentes daqueles que a verdade exige a nossa concordância [as Escrituras]” (Carta 93, 10)
 
Além de citar a si mesmo como exemplo em sua obra contra Fortunato e em sua Carta 148, ele também cita nominalmente Ambrósio, Cipriano e Jerônimo como exemplos de Pais da Igreja que, embora respeitados, eram passíveis de errar e não podiam ser nem comparados com a autoridade da Sagrada Escritura:
 
“Por mais respeitado que Ambrósio seja, e por mais santo que sabemos que ele é, ele não pode ser comparado com a autoridade da Escritura canônica 
(Da graça de Cristo e do pecado original, Livro I, 47)
 
“Você está encantado com a autoridade desse bispo e ilustre mártir Cipriano, que nós realmente respeitamos, como eu disse, mas como bastante distinto da autoridade da Escritura canônica (Carta 93, 10)

“Pois confesso à vossa caridade [Jerônimo] que aprendi a render esse respeito e honra apenas aos livros canônicos da Escritura: somente destes, acredito firmemente que os autores estavam completamente livres de erros. E se nestes escritos fico perplexo com qualquer coisa que me parece oposta à verdade, não hesito em supor que o manuscrito está com defeito, ou o tradutor não captou o significado do que foi dito, ou eu mesmo não entendi. Quanto a todos os outros escritos, ao lê-los, por maior que seja a superioridade dos sobre mim em santidade e erudição, não aceito seu ensino como verdadeiro pelo mero fundamento da opinião que sustentam, mas apenas porque eles conseguiram convencer meu julgamento de sua veracidade por meio desses próprios escritos canônicos, ou por argumentos dirigidos à minha razão. Eu acredito, meu irmão, que esta é a sua própria opinião, assim como é a minha. Não preciso dizer que não suponho que você deseje que seus livros sejam lidos como os dos profetas ou apóstolos, a respeito dos quais seria errado duvidar que eles estão livres de erro. Longe esteja tal arrogância daquela humilde piedade e justa estima de si mesmo que eu sei bem que você tem” (Carta 82, 1)

Assim, é evidente que para Agostinho havia uma diferença gritante entre o nível de autoridade dos Pais da Igreja e da Sagrada Escritura – a autoridade suprema dos cristãos. Essa é exatamente a mesma diferença que os protestantes fazem, ao reconhecer a Escritura como muito acima dos Pais – o que significa estar muito acima da tradição.
 
Não foram os protestantes malvadões que fizeram isso depois de quinze séculos, nem um monge alemão que acordou bêbado numa manhã ensolarada e decidiu que seria assim. É o próprio Agostinho que traça a distinção essencial que separa protestantes de católicos, os quais consideram o próprio Agostinho parte de uma tradição com o mesmo peso da Bíblia, quando ele próprio rejeitava categoricamente a ideia de uma forma que não podia ser mais incisiva.
 
Em síntese, são as crenças católicas que surgiram com séculos ou até milênios de atraso, não as doutrinas protestantes, que podem ser facilmente comprovadas na patrística (incluindo a própria Sola Scriptura). Isso responde àqueles que acusam, no alto da sua ignorância, a Reforma de ter “quebrado com 1.500 anos de tradição”, como se Lutero tivesse acordado num belo dia e decidido inventar da cabeça dele dúzias de doutrinas que nunca ninguém tinha visto antes. Na verdade, é exatamente o contrário: o que Lutero fez foi resgatar a tradição mais antiga, que remonta à era apostólica, e romper com a tradição corrompida, que havia se desenvolvido em Roma – não num bom sentido, mas no mesmo em que um câncer se “desenvolve”.
 
4. Quem determina quais ensinamentos são “tradições de homens” e como? E por que devemos valorizar suas opiniões ou atender sua autoridade mais do que os veneráveis Padres da Igreja?
 
Vamos por partes. Quem determina quais ensinamentos são “tradições de homens”? Simples: a Bíblia. O que está na Bíblia tem procedência divina; o que não está, é tradição humana. Me impressiona que Dave não saiba de algo tão simples, a ponto de formular a pergunta como se fosse um grande “desafio” difícil de se responder. Foi o próprio Senhor Jesus quem condenou as tradições humanas dos fariseus usando exatamente este mesmo critério quando disse:
 
Mateus 15:3 – E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?
 
Mateus 15:6 – Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês.
 
Marcos 7:13 – Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.
 
Marcos 7:6-7 – Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
 
Marcos 7:8 – Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens.
 
Marcos 7:9 – Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!
 
No que consistia as «tradições humanas» que os fariseus seguiam? Justamente em tradições orais que os fariseus alegavam remontar a Moisés, mas que na prática anulavam a «palavra de Deus» (ou seja, entravam em conflito com as Escrituras). Note a incrível similaridade com a tradição romanista, também oral, que também supostamente remonta a um ancestral famoso (São Pedro e os demais apóstolos), e que também tem por finalidade anular as Escrituras (seja acrescentando doutrinas que não estão nela, seja contradizendo expressamente o que é nela ensinado). É impossível não perceber que a tradição romanista é simplesmente a tradição farisaica repaginada (e nada que se pareça com uma tradição legítima).
 
As duas tradições têm mais uma coisa em comum: assim como os fariseus não tinham como provar que Moisés realmente ensinou oralmente aquilo que não escreveu, católico nenhum jamais foi capaz de provar que o que os apóstolos ensinaram oralmente corresponde exatamente àquilo que eles dizem que foi. Em ambos os casos, eles se apoiam na autoridade de Moisés ou de Pedro apenas como um pretexto para justificar a inclusão de ensinos que não constam na Bíblia, e que se chocam frontalmente com ela.
 
A segunda parte do “argumento” de Dave é a pergunta: “Por que devemos valorizar suas opiniões ou atender sua autoridade mais do que os veneráveis Padres da Igreja?”. Ela tem por pressuposto o mesmo que acabamos de abordar no argumento anterior: o de que as tradições católicas estão muito bem fundamentadas na patrística, e as crenças protestantes não. Como vimos, isso é um disparate completo – e quem o denuncia são as próprias autoridades católicas muito mais respeitáveis que um apologista sem trabalho. A essência da doutrina católica não vem da patrística, mas da escolástica, por filósofos medievais que pouco ou nada sabiam de Bíblia ou de patrística, porque estavam muito mais preocupados com Aristóteles.
 
5. O que precisamos estabelecer é: por que tudo e qualquer coisa que possa ter sido transmitida pelos apóstolos deve ser considerada intrinsecamente questionável simplesmente porque não é a Escritura inspirada?
 
Se alguém pudesse realmente provar que o apóstolo fulano disse tal coisa, não teríamos qualquer problema em considerar o que ele disse no mesmo patamar da Escritura (ou algo próximo, já que texto nenhum diz que o que foi pregado oralmente é inspirado assim como a Escritura). Mesmo que os apóstolos pudessem às vezes errar em atos ou palavras (como Mateus 16:22-23 e Gálatas 2:11-14 nos exemplificam bem) e não pudessem errar quando escreviam sob a inspiração do Espírito Santo (2Tm 3:16), seria bastante razoável considerarmos o que eles pregaram oralmente se – e esse “se” faz toda a diferença – tivéssemos como saber com certeza absoluta que os apóstolos pregaram aquilo mesmo.
 
Este é o problema da tradição romanista: ninguém (nem eles mesmos) sabe o que os apóstolos disseram (sem ter sido escrito). Neste aspecto, até mesmo a tradição judaica que Jesus repudiou larga em vantagem, pois os judeus pelo menos compilaram tudo o que foi supostamente ensinado oralmente (a chamada “Torá Oral”) na forma do Midrash, enquanto os papistas não fazem a menor ideia do que consiste a sua própria tradição, já que o Vaticano nunca compilou tudo (ou qualquer parte) do que teria sido pregado oralmente pelos apóstolos, separando-o daquilo que foi ensinado por escrito.
 
Eles simplesmente assumem que a tradição oral é qualquer coisa que sirva para endossar as heresias que eles foram criando com o passar dos séculos, sem a menor preocupação em investigar a procedência desses ensinos ou a fonte de onde vieram. Ninguém pode, por exemplo, dizer exatamente o que Paulo pregou quando Êutico morreu, porque Lucas apenas diz que Paulo pregou, mas não diz o que pregou (At 20:7-9). Se alguém tiver a audácia de dizer que Paulo pregou isso ou aquilo, o ônus da prova estaria com ele, a quem caberia fornecer as provas de que Paulo pregou realmente aquilo (eu falo mais sobre isso neste artigo).
 
Imagine como a comunidade acadêmica reagiria a alguém que dissesse que Platão defendia muita coisa diferente daquilo que ele escreveu, deixando uma lista com uma série de coisas que Platão supostamente teria sustentado, e mesmo sem conseguir fornecer uma única prova disso quisesse que todos acreditassem nele. Certamente todos reagiriam com escárnio e nem o estudioso mais crédulo daria o menor crédito. Mas quando isso é dito por uma instituição religiosa que diz saber o que os apóstolos pregaram sem fornecer qualquer prova, tem muito bobo que acredita, não porque seja mais razoável, mas simplesmente por uma questão de fé na instituição (uma fé cega, definida como fideísmo).
 
É por isso que nós conhecemos as parábolas de Jesus que os evangelistas registraram por escrito, mas não conhecemos nenhuma das outras parábolas que ele pregou oralmente. Papias fala de certas «parábolas estranhas do Salvador» que teriam chegado a ele por tradição oral, nas palavras de Eusébio (HE, Livro III, 39, 8-11). Que parábolas eram essas? Ninguém sabe, porque as obras de Papias se perderam e, com elas, as “parábolas estranhas” de Jesus que não constam nos evangelhos. Isso reforça o ponto: em se tratando de história antiga, só o que foi escrito se preserva. Qualquer um que defenda o contrário tem a obrigação de nos mostrar essas parábolas não-escritas de Jesus, para começo de conversa.
 
Poderia ser diferente se tivéssemos uma gravação em vídeo ou em áudio do que Jesus e os apóstolos pregaram no primeiro século, como as pessoas daqui dois mil anos terão dos pregadores atuais (se o youtube não for pro saco). Mas os católicos não têm nada, rigorosamente nada que sirva minimamente de prova do que Jesus e os apóstolos falaram, e ainda dizem que temos que confiar em uma tradição que funciona pior que um telefone sem fio, e que mudou mais vezes que um camaleão muda de cor. Note o quanto isso contrasta com as Escrituras, que é por definição um documento, um registro que fica para a posteridade se for preservado (como de fato foi).
 
É por isso que podemos confiar no que foi escrito – nós sabemos quem disse e o que disse –, mas não numa tradição oral fantasmagórica, inteiramente desprovida de qualquer registro ou método confiável pelo qual possamos remontá-la até os apóstolos. Se um protestante diz para seguir a Bíblia e alguém pergunta “como eu posso saber que a Bíblia diz isso mesmo”, é só mostrar uma Bíblia pra ele e indicar o local (livro, capítulo e versículo) em que se encontra. Mas se um católico diz para seguir a tradição apostólica e alguém pergunta “como eu posso saber que os apóstolos disseram isso mesmo”, a resposta é “confia”. É essa a diferença básica entre a Sola Scriptura e a tradição romanista.
 
6. Se Deus pode usar pecadores para escrever uma Bíblia inspirada, certamente Ele pode usar homens pecadores para proclamar ensinamentos infalíveis na Tradição, pois isso é apenas uma proteção contra o erro, não uma qualidade positiva de inspiração.
 
Isso é apenas Dave sendo Dave: mudando o cerne da discussão como sempre faz para tentar provar alguma coisa argumentando outra. É lógico que Deus é poderoso o suficiente para «usar homens pecadores para proclamar ensinamentos infalíveis na Tradição», se Ele assim quisesse. A questão é se Ele realmente decidiu agir assim. O curioso é que os próprios católicos afirmam que não, pelo menos no que concerne ao AT (a maior parte da revelação, que constitui 3/4 da Bíblia e que abrange um período muito maior). Como eu mostrei neste artigo, os católicos também adotam a Sola Scriptura, embora a limitem ao AT (quando chega no NT, imitam o mesmo erro dos judeus que eles próprios criticam).
 
Pergunte a qualquer apologista católico se ele acredita nas tradições orais dos judeus que Jesus condenou (aquelas mesmas que supostamente remetiam a Moisés e foram preservadas incorruptivelmente de forma oral, mesmo sem nenhuma prova). Ele obviamente dirá que não, já que foi o próprio Jesus quem as condenou. Se ele não crê na tradição dos judeus, no que ele crê em relação ao AT? A resposta é óbvia: nas Escrituras, que é o que sobra. Note como eles usam a mesma lógica protestante em relação ao AT (a tradição foi corrompida ou não é confiável, então resta-nos as Escrituras), mas não toleram de jeito nenhum que se use a mesmíssima lógica em relação ao NT, como se tivesse mudado muita coisa de um tempo pro outro.
 
Imagine então Dave debatendo com um judeu ortodoxo que poderia usar o mesmo argumento dele contra ele mesmo, dizendo que se Deus pode “usar pecadores para proclamar ensinamentos infalíveis na tradição”, então Ele tem que ter usado nos tempos do AT também, e por consequência devemos seguir as tradições judaicas (incluindo aquelas que Jesus expressamente condenou). Se esse argumento tivesse alguma força para me tornar católico, teria muito mais para tornar Dave um judeu (a barba ele já tem).
 
7. A maioria das heresias primitivas (por exemplo, monofisismo e arianismo), acreditavam na Sola Scriptura, e a Igreja as refutou pelo método da “Bíblia interpretada pela tradição apostólica”, dentro da estrutura da sucessão apostólica.
 
Pura mentira! Na verdade, é exatamente o contrário do que Dave argumenta: a maioria das heresias tinha fontes extrabíblicas como apoio, e a Igreja (a cristã, não a católica romana) as refutava com as Escrituras somente, não com tradições orais fantasmagóricas ou apelando para a tática da cartola do mágico. Tome como exemplo a heresia mais destrutiva dos primeiros séculos, o gnosticismo, que exigiu de Irineu cinco grandes livros “Contra as Heresias”. Neles, Irineu detalha como os gnósticos acreditavam numa tradição oral paralela à Bíblia extremamente similar em todos os aspectos com a tradição oral romanista, e a condena justamente por não ser bíblica.
 
Nas palavras de Irineu, os gnósticos “alegam que a verdade não foi entregue por meio de documentos escritos, mas de viva voz” (Contra as Heresias, Livro III, 2:1). Ele escreve ainda sobre os gnósticos:
 
Leem coisas que não foram escritas e, como se costuma dizer, trançando cordas com areia, procuram acrescentar às suas palavras outras dignas de fé, como as parábolas do Senhor ou os oráculos dos profetas ou as palavras dos apóstolos, para que as suas fantasias não se apresentem sem fundamento. Descuidam a ordem e o texto das Escrituras e enquanto lhes é possível dissolvem os membros da verdade. Transferem, transformam e fazendo de uma coisa outra seduzem a muitos com as palavras do Senhor atribuídas indevidamente a fantasias inventadas” 
(Contra as Heresias, Livro I, 8:1)
 
Em contraste com a tradição gnóstica, que era essencialmente oral e não-bíblica, sempre que Irineu cita a tradição apostólica ele remete a ensinos que constam explicitamente nas Escrituras (como a existência de um Deus criador dos céus e da terra, de Jesus como o Filho de Deus, da sua encarnação através de uma virgem, de sua ascensão e glorificação, da salvação e do juízo vindouro, como eu mostrei aqui). Então, de um lado temos uma tradição eminentemente bíblica, a qual é chamada de «tradição apostólica», e do outro uma tradição sem fundamento bíblico, que era a tradição dos gnósticos.
 
Note que os católicos apenas chamam a sua tradição de “tradição apostólica”, quando a sua tradição realmente se assemelha não à verdadeira tradição apostólica (que se refere à preservação e transmissão daquilo que foi escrito na Bíblia), mas à tradição dos hereges – uma tradição oral paralela à Bíblia, que tinha por finalidade justamente dar fundamento a tudo aquilo que não podiam encontrar nas Escrituras. Era precisamente essa a estratégia dos hereges do passado, que é exatamente a mesma estratégia dos hereges do presente.
 
Dave não apenas mente sobre os hereges serem Sola Scripturistas, como também mente sobre a Igreja refutar suas heresias com a tradição (querendo dizer a tradição dele, ou seja, a tradição oral romanista). Qualquer um que tenha a menor familiaridade com os escritos de Atanásio e de outros Pais trinitarianos que foram fundamentais no combate ao arianismo sabe que eles não refutaram Ário citando uma fantasiosa tradição oral extrabíblica que Ário desconhecia ou deliberadamente rejeitava, mas, ao contrário, baseavam suas refutações e argumentações inteiramente nas Escrituras.   
 
Ninguém jamais chegou para Ário e disse: “Você está errado, porque o apóstolo Bartolomeu ensinou a doutrina da trindade oralmente enquanto pregava na Índia”. Não. O que você verá, e verá sucessivas vezes até se fartar, são textos bíblicos em cima de textos bíblicos, um atrás do outro, não só para refutar Ário, mas para refutar toda e qualquer heresia onde quer que estivesse. Se realmente existisse na Igreja antiga qualquer coisa parecida com uma tradição oral no sentido católico – ou seja, uma espécie de compêndio de ensinos apostólicos não-escritos – e isso fosse de conhecimento geral, seria estupidamente fácil refutar qualquer herege em qualquer época. Bastaria aludir a essa poderosa tradição oral, e não teria nem o que se discutir.
 
No entanto, nunca vemos isso acontecendo, em nenhum momento. Ninguém denuncia Ário por desconhecer a “tradição oral”, ninguém tenta conscientizá-lo do seu conteúdo, ninguém tenta usá-la contra ele ou contra qualquer outro herege. Pior do que isso, mesmo quando um Pai discutia assuntos teológicos com outro Pai (ou seja, um ortodoxo contra outro ortodoxo, e não contra um herege), como Agostinho e Jerônimo tanto fizeram, ninguém jamais aludia a uma suposta tradição oral para respaldar seus argumentos, mesmo quando usá-la teria sido fácil na perspectiva católica e encerraria facilmente o debate se ela existisse.
 
Em vez disso, o que eles faziam era concentrar sempre os debates na Escritura, que ambos reconheciam como a autoridade suprema. Interpretações diferentes podiam levar a divergências, mas ninguém tentava superar essas divergências citando a seu favor o que um apóstolo ou o próprio Jesus Cristo supostamente teriam pregado oralmente. Isso simplesmente não existe na história da Igreja, e qualquer mentecapto com o mínimo de estudo sabe disso. Talvez até Dave saiba, mas prefere iludir seus leitores, que sabem menos de história da Igreja do que ele mesmo.
 
8. Jesus contrasta a tradição humana com a palavra de Deus em Marcos 7:13, mas a palavra de Deus não só não se restringe à Bíblia escrita, como também é idêntica à Tradição Divina, desde que se faça uma exegese comparativa direta.
 
Note o quanto Dave é cínico: ele cita o mesmo texto onde vimos Jesus descer a lenha na tradição oral farisaica justamente por contrariar as Escrituras, que ele chama de «palavra de Deus», e tenta dar um jeito de virar esse texto a seu favor, dizendo que a palavra de Deus também inclui a tradição (que ele obviamente entende como a tradição oral romanista, baseada nos mesmos pressupostos da tradição oral farisaica). Eu só conheço três sentidos básicos para o termo “palavra de Deus” na Bíblia. São eles:
 
(1) Quando Deus está literalmente declarando algo a alguém (cf. 1Rs 12:22, 13:20; Ag 1:3, 2:1, etc).
 
(2) Em alusão a Jesus, a palavra de Deus encarnada (cf. Jo 1:1; Ap 19:13, etc).
 
(3) Em alusão às Escrituras, a palavra de Deus escrita (cf. Rm 9:6; 2Co 2:4; At 13:7, 18:11; Mt 15:6, etc).
 
Você pode folhear a Bíblia inteira do Gênesis ao Apocalipse (e até os apócrifos se quiser), e não encontrará neca de pitibiriba de “tradição” sendo chamada de “palavra de Deus” (muito menos a tradição romanista, que é uma perversão da tradição apostólica).
 
Portanto, não, Jesus não estava englobando a tradição oral romanista em Marcos 7:13 ao contrastar a tradição humana dos fariseus com a palavra de Deus, como se os fariseus estivessem errados por seguir a tradição oral deles e não a tradição oral dos papistas. Os fariseus estavam errados justamente por adicionar doutrinas à Bíblia vindas de fontes alheias, travestidas na forma de “tradição oral” – precisamente o mesmo tipo de coisa que fazem os católicos, apelando para a mesma estratégia farisaica.
 
9. A Bíblia aponta para uma tradição autorizada e uma Igreja autorizada (até mesmo para um papado). Tem sucessão apostólica; tem concílios infalíveis. Tem bispos autorizados. Está tudo lá. O catolicismo é bíblico: muito mais do que qualquer forma de protestantismo.
 
Isso aqui já é um desvio do tema (um novo desvio, mas dessa vez o próprio tema é abandonado, não só o cerne do mesmo). Como Dave não tem mais nada com que possa atacar a Sola Scriptura, começa a falar de sucessão apostólica, concílios, bispos e etc – uma tática típica da apologética católica, que é mudar rapidamente de um assunto para outro assim que é refutado em um. Eu tenho artigos e livros sobre tudo isso, mas não vou encher isso aqui de páginas e mais páginas, senão estaria mordendo a isca que foi deixada ali justamente com esse propósito, de tirar a atenção do foco principal.
 
Basta dizer que mesmo as igrejas protestantes têm concílios e bispos (que Dave não considera “autorizados”, porque tem um conceito totalmente antibíblico do que vem a ser um bispo autorizado). Dave pensa que um bispo “autorizado” é um bispo com “sucessão apostólica”, quando um bispo autorizado é simplesmente um bispo que cumpre todos os requisitos que Paulo transmite a Timóteo em 1ª Timóteo 3:1-10:
 
1ª Timóteo 3
1 Esta afirmação é digna de confiança: se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função.
2 É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, prudente, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar;
3 não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro.
4 Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade.
5 Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?
6 Não pode ser recém-convertido, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o diabo.
7 Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do diabo.
8 Os diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos.
9 Devem apegar-se ao mistério da fé com a consciência limpa.
10 Devem ser primeiramente experimentados; depois, se não houver nada contra eles, que atuem como diáconos.
 
Note que nenhum desses requisitos consiste em “tem que ter sucessão apostólica” ou “tem que ser ordenado por um apóstolo ou sucessor de apóstolo”. Ao contrário, todos eles podem ser perfeitamente cumpridos na pessoa de um pastor protestante. Na verdade, se usarmos como critério aquilo que o próprio Paulo transmitiu, são os bispos católicos que não são “autorizados”, já que Paulo permite que o bispo seja marido de “uma só mulher” (v. 2) e que tenha filhos (v. 4), e Roma exige o celibato do clero (um assunto no qual Dave já foi amplamente destroçado aqui, a ponto de ficar sem palavras e escrever um artigo com meia dúzia de parágrafos onde se limita a repetir tudo o que já havia sido refutado).
 
A atitude católica da qual Dave é um exemplo perfeito lembra muito a dos discípulos de Jesus diante de um homem que expulsava demônios em Seu nome sem fazer parte do grupo:
 
“’Mestre’, disse João, ‘vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos’. ‘Não o impeçam’, disse Jesus. ‘Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor’” (Marcos 9:38-40)
 
Para os apologistas católicos, João tinha toda a razão: se não era do grupo, só podia ser um herege “não-autorizado”. Mas Jesus responde exatamente o contrário, quando diz que «quem não é contra nós é por nós». Se isso era válido até mesmo para o próprio grupo apostólico original, imagine para supostos “sucessores” milênios mais tarde. A prova mais simples que a sucessão apostólica já não tem qualquer valor para identificar a doutrina apostólica (ou a “igreja verdadeira”) é que tanto a católica quanto a ortodoxa e a anglicana alegam ter sucessão apostólica, e pregam coisas totalmente distintas (isso para não falar da Copta, das ortodoxas orientais e de tantas outras por aí).
 
Para piorar, a própria doutrina da Igreja Romana muda, o que nos leva a perguntar de que modo a sucessão apostólica pode ser útil para identificar onde está a “doutrina verdadeira”. A não ser que a doutrina verdadeira seja uma hoje e outra amanhã, que se transmuta conforme a conveniência igual a transubstanciação da hóstia – como se os sucessores dos apóstolos estivessem autorizados a mudar a doutrina dos próprios apóstolos –, é evidente que o fato de ter sucessão é completamente irrelevante (isso para não entrar em um problema maior, que é quem tinha a “sucessão verdadeira” quando Roma tinha três papas, por exemplo).
 
A “Igreja verdadeira” é aquela que aceita o Concílio Vaticano II ou aquela que o rejeita? É aquela que pregava que os hereges tinham que queimar em praça pública ou a que pediu perdão público por isso e promove o ecumenismo com os mesmos grupos religiosos a quem antes queimava? É a que ordenava aos reis a submissão incondicional ao papa em assuntos temporais e via o papa como o imperador do mundo ou aquela onde o papa se limita à sua insignificância e já não exige a submissão de chefe de Estado nenhum? É a que proibia a leitura e tradução da Bíblia em língua vulgar ou a que permite e incentiva essa prática hoje?
 
É a que lutava ferozmente contra a liberdade de culto e de imprensa ou a que está imersa no “modernismo” que antes tanto condenava? É a que dizia que qualquer missa diferente da missa em latim jamais seria tolerada ou a que aceita a Missa Nova em português? É a de Tomás de Aquino (que dizia que Maria contraiu o pecado original) ou a que transformou essa heresia em dogma? É a de Irineu e de todos os Pais da Igreja milenaristas ou a que adotou o amilenismo e declarou os milenaristas hereges? É a que praticava a pena de morte ou a que decretou que a pena de morte é moralmente errada? É a que praticava a tortura ou a que não a tolera mais? É a que segregava os judeus ou a que os trata amistosamente?
 
Para a maioria dos católicos – à exceção dos sedevacantistas, os únicos que levam a sério essas incoerências e por essa mesma razão declaram os papas modernos hereges – nada disso tem importância; o que importa é ter a tal da “sucessão apostólica”. As práticas podem mudar, a doutrina pode mudar, a moral pode mudar, a liturgia pode mudar, o catolicismo pode até se transformar num espiritismo se a Igreja quiser, o que importa é que ela tem “sucessão apostólica”. E se ela tem sucessão apostólica, qualquer coisa é o certo, mesmo quando contradiz a si mesma.
 
10. Pedro em Atos 2, em seu sermão no Cenáculo, e em outros sermões registrados, deu uma interpretação autoritária da história da salvação da Nova Aliança. Era obrigatório antes de se tornar “escriturado”, porque era de um apóstolo.
 
Eu realmente não entendi bulhufas desse argumento (se é que foi escrito na intenção de ser um “argumento”). Se alguém entendeu alguma coisa, peço gentilmente que me informe nos comentários. A mente de Dave está tão à frente da nossa que às vezes é até difícil para os pobres mortais entenderem um raciocínio tão profundo, que de alguma forma – sabe-se lá como – prova de forma contundente a tradição oral romanista e refuta cabalmente a Sola Scriptura (a despeito de quantas cambalhotas, bananeiras e malabarismos tenham que ocorrer no processo).
 
Os outros 15 argumentos nada mais são do que repetições dos outros 10 (isso quando não se trata de “argumentos indecifráveis”, como esse 10º). Eu deixo que o próprio leitor tenha o desprazer de lê-los aqui, comparar com o que foi exposto e ver se há qualquer coisa que já não tenha sido refutada. De vez em quando eu também gosto dessa brincadeira de mandar perguntas sobre a tradição e a Sola Scriptura, por isso elaborei 28 “Perguntas de um protestante curioso sobre a tradição oral romanista”, cuja leitura eu fortemente recomendo – principalmente ao Dave, cujo trabalho é justamente responder perguntinhas como essas (espero que não me decepcione).
 
Paz a todos vocês que estão em Cristo.


Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (youtube.com/LucasBanzoli)

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18 comentários:

  1. Lucas, qual sua opinião sobre a idade da terra? Parece difícil conciliar a história de que a terra tem bilhões de anos com a bíblia, e também dos fósseis humanos datados de milhares de anos e das várias espécies de hominídeos, o que você acha que eles eram realmente?

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    1. Quando eu entrei para a apologética eu era um "evoteísta" (evolucionista teísta, que tenta conciliar a Bíblia com os bilhões de anos do evolucionismo, alegorizando o Gênesis), e eu mudei de ideia não por uma questão bíblica, mas por ver que o criacionismo é muito mais defensável cientificamente falando. Eu recomendo o livro "Como Tudo Começou", do Adauto Lourenço, lá ele explica tudo direitinho. Mas resumidamente, existem muitas evidências de que a terra não tem mais de dez mil anos, a datação evolucionista parte do pressuposto de que o dilúvio nunca existiu para chegar nesses "milhões de anos" das datações dos fósseis, e a vasta maioria desses supostos antepassados do Homo sapiens (o "elo perdido") foram comprovados mais tarde serem fraudulentos, e os que não são possuem outras explicações mais razoáveis (por exemplo, o Homem de Neandertal vivia encurvado devido a uma deformidade óssea resultante da deficiência de vitaminas que os habitantes das cavernas sofriam por falta de luz solar, e não por serem um "intermediário" entre o homem e o macaco).

      Eu costumo fazer uma analogia pra deixar as coisas mais simples: imagine que você chega numa casa aparentemente desabitada e encontra uma torneira pingando em um balde quase cheio. Você faz os cálculos, e descobre que naquele ritmo, devia estar vazando água da torneira há “x” dias. Mas o que você não sabe é que alguns minutos antes de você chegar alguém tinha aberto a torneira propositalmente e enchido o balde, e os pingos que você viu cair são apenas a “sobra” que continuou pingando desde então. Neste caso, o balde obviamente não se encheu ao longo de muitos dias, mas de apenas alguns minutos, e o seu erro foi ter presumido que o volume de água era constante desde sempre, quando não era.

      Assim ocorre com os evolucionistas. Nenhuma rocha ou fóssil tem uma data estampada na cara, tipo a etiqueta de uma camiseta que vem com o preço junto. Todo mundo que mexe com datação segue determinadas metodologias pra fazer esses cálculos, metodologias essas que partem de pressuposições. A pressuposição que os evolucionistas seguem é a do uniformitarianismo, ou seja, de que as coisas são hoje como sempre foram, e o dos criacionistas é a do catastrofismo, ou seja, de que uma grande catástrofe global (o dilúvio) é a responsável pela esmagadora maioria dos fósseis, dos movimentos das placas tectônicas e etc (e não que ocorreram lentamente ao longo de milhões de anos). Dependendo de qual é o seu pressuposto metodológico, a “idade” de qualquer fóssil muda dramaticamente. Não se trata de negar a ciência, mas de negar o PRESSUPOSTO no qual ela se estabelece hoje (por negar o relato bíblico).

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  2. Luca, boa noite. Olha só, o Mil Gibson já escalou o elenco do primeiro filme, A Paixão de Cristo, para filmar a continuação esse ano, que vai começar na primavera e tem previsão de estreia em 2024. O roteirista que trabalha com ele é o mesmo que fez Coração Valente. Vai ser um filmaço.

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    1. Dois filmaços, espero que essa continuação seja ótima também!

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  3. Excelente artigo Lucas. Uma carta de Agostinho em claro apoio a Sola Scriptura, que é ótimo citar também, é a carta 82 de Agostinho a Jerônimo:

    "Em tais termos, podemos nos divertir sem medo de ofender uns aos outros no campo das Escrituras, mas eu poderia muito bem me perguntar se a diversão não foi às minhas custas. Pois confesso à vossa caridade que aprendi a render esse respeito e honra *APENAS AOS LIVROS CANÔNICOS DA ESCRITURA: SOMENTE DESTES, ACREDITO FIRMEMENTE QUE OS AUTORES ESTAVAM COMPLETAMENTE LIVRES DE ERROS*. E se nestes escritos fico perplexo com qualquer coisa que me parece oposta à verdade. Não hesito em supor que o manuscrito está com defeito, ou o tradutor não captou o significado do que foi dito, ou eu mesmo não entendi. *QUANTO A TODOS OS OUTROS ESCRITOS, AO LÊ-LOS, POR MAIOR QUE SEJA A SUPERIORIDADE DOS AUTORES SOBRE MIM EM SANTIDADE E ERUDIÇÃO, NÃO ACEITO SEU ENSINO COMO VERDADEIRO PELO MERO FUNDAMENTO DA OPINIÃO QUE SUSTENTAM*; mas apenas *PORQUE ELES CONSEGUIRAM CONVENCER MEU JULGAMENTO DE SUA VERACIDADE POR MEIO DESSES PRÓPRIOS ESCRITOS CANÔNICOS*, ou por argumentos dirigidos à minha razão. Eu acredito , meu irmão, que esta é a sua própria opinião, assim como o meu. Não preciso dizer que não suponho que você deseje que seus livros sejam lidos como os de profetas ou apóstolos , a respeito dos quais seria errado duvidar que eles estão livres de erro. Longe esteja tal arrogância daquela humilde piedade e justa estima de si mesmo que eu sei que você tem, e sem a qual certamente você não teria dito, se eu pudesse receber seu abraço, e que pela conversa pudéssemos ajudar uns aos outros no aprendizado!" ( Agostinho de Hipona - carta 82, a Jerônimo, capítulo 1, 3)

    Fonte:
    https://www.newadvent.org/fathers/1102082.htm

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    1. Muito bom, Valdecir, obrigado por compartilhar o texto aqui!

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  4. Lucas me ajuda por favor, preciso muito as vezes estou debatendo sei de algumas coisas já mas as vezes fico sem saber o que argumentar.

    O argumento dele:
    1- Você cita historiadores que poeventura se digam catóólicos (sqn).
    Mas são pagão e falsos católicos.que negam (segundo você) o que a igreja por séculos afirma desde a sua fundação.
    Vc escolheu esses historiadores nao católicos de modo seletivo, logo os católicos que creem no papado vc rejeita

    (Lucas ele diz isso porque sitei historiadores (tirei do seu artigo), que negam o papado)

    1 - Peteus é Pedra ou você pode chamar de coluna sustentação, Cristo é a Pedra angular, procure o que é pedra angular na análogos de Cristo.
    (Lucas ele alega que a Pedra angular fica em cima e une todas e Pedro que é Rocha que significa firmeza é a base entao fica em baixo) 
    Depois ele diz: Por metonímia pode se afirmar que o Senhor construiu a sua igreja sobre a profissão de fé de Pedro (uma vez que tal profissão de fé. Foi o motivo que levou a escolha do pescador para ser o chefe dos apósrolos.

    3- Se não fosse a santa igreja vcs nao teriam o evangelho, outra coisa que vcs nao aceitam Lutero, ao traduzir para sua língua mãe Lutero que era Alemão fez um tradução ruim por mau caratismo.


    Duvida minha (Lucas a Igreja Católica romana traduziu a bíblia? O protestantismo ajudou nisso? Sou leigo nesse assunto.







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    1. Vamos lá:

      1) Eles não negam o papado, eles negam que o papado existia na era apostólica, o que é bem diferente. Eles sabem que o papado foi um desenvolvimento posterior e estão bem com isso, porque acham que a doutrina pode se “desenvolver” com o tempo e ser verdadeira mesmo assim. O problema dessa ralé da apologética católica é que (1) eles são completamente ignorantes da literatura acadêmica e séria (mesmo da católica), e (2) eles acreditam com muita facilidade em contos de fada contados por outros apologistas tão leigos e desonestos quanto eles, que preferem mudar toda a história da Igreja a reconhecer que alguma doutrina não se encontrava lá desde o início. É por isso que eles pensam que esses teólogos e historiadores que eu citei são “falsos católicos” (mesmo que alguns deles tenham o Imprimatur da Igreja, ou seja, a confirmação oficial de que a obra não tem nenhuma heresia), eles estão tão presos dentro da bolha apologética que ficam surpresos e escandalizados quando se deparam com o fato de que os teólogos da própria Igreja dele dizem as mesmas coisas que a gente.

      2) Jesus não é chamado apenas de pedra angular, ele é chamado de FUNDAMENTO também (e não somente isso, mas como o ÚNICO fundamento; cf. 1Co 3:11). Ao invés de se prender no termo em si que é usado, o que ele deveria fazer é buscar entender o PROPÓSITO de ambas as analogias. Quando Jesus é chamado de fundamento ou de pedra angular, ambas as analogias tem o mesmo significado básico: o de que ele é o principal e que não há ninguém acima dele na Igreja. A ideia nunca foi que Jesus é apenas uma “pedra angular” por estar edificado sobre um fundamento maior que ele; isso é pura blasfêmia, é colocar a criatura acima do Criador descaradamente, como se Jesus estivesse edificado sobre Pedro e não o contrário (tornando Pedro maior que Jesus). É por isso (e por muitas outras razões) que a pedra não pode ser Pedro.

      3) Claro que teríamos. 99% dos manuscritos gregos sobreviventes (e nos quais baseamos o NT) não foram preservados pelos católicos romanos, mas pelos bizantinos. Se este argumento devesse ser levado em conta, deveríamos agradecer aos ortodoxos, não aos romanos (só que eles não sabem de nada disso, por serem completamente ignorantes de manuscritologia e Crítica Textual). A acusação de que Lutero fez uma “tradução ruim” precisa ser provada; será que ele realmente leu o alemão? Pelo jeito não sabe nem ler em português direito, imagina em alemão pra saber se a tradução de Lutero é boa ou não. É o que eu sempre digo: esses caras são adestrados pra repetir os mesmos discursos uns dos outros, não pra pensar com a própria cabeça.

      Sobre a sua dúvida: a “Igreja Católica” nunca traduziu nada, quem traduz são indivíduos, não uma organização. Até hoje a única versão que Roma tem como oficial é a Vulgata Latina, traduzida por Jerônimo numa época em que a ICAR sequer existia. E durante toda a Idade Média e Moderna ela reprimiu severamente qualquer outra tradução da Bíblia (para as línguas vernáculas, ou seja, a língua que as pessoas falavam), porque como ninguém sabia o latim, ficava muito mais fácil de manipular as massas. Eu escrevi amplamente sobre isso aqui:

      http://www.lucasbanzoli.com/2018/04/conheca-toda-perseguicao-e-proibicao-da.html

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  5. Lucas muito obrigado de coração por tirar um tempo pra responder a essas questões que foram muito importantes pra mim, reconheço que são poucos os que fariam isso, a maioria dos Blogs nem respondem seus leitores.
    Sinto uma gratidão imensa.

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  6. Me lembro que na desde a época de lançamento do Paixão de Cristo os católicos vivem reclamando que é um filme católico, e também não gostavam muito de evangélicos divulgando o filme.

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    1. Os católicos vivem reclamando de qualquer coisa, eles reclamam até do fato de usarmos a Bíblia contra eles porque a Bíblia é um livro escrito "por católicos e para católicos", agora querem se apropriar até de um filme, só porque seu diretor é católico. Eu me pergunto se eles usam o mesmo critério quando o padre Marcelo Rossi pega as nossas músicas e grava os CDs dele.

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  7. Sobre a Tradição (com T maiúsculo, também chamada Grande Tradição, ou Sagrada Tradição pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa), tenho uma posição meio católica e meio evangélica. Vou explicar.

    A única fonte da fé para católicos e evangélicos é a Palavra de Deus. Nisso concordamos. Contudo, distinguimos quanto à compreensão da Palavra de Deus.

    Enquanto para os evangélicos Palavra de Deus é apenas a Bíblia, para os católicos Palavra de Deus é a Bíblia e a Tradição oral.

    Concordo com a posição católica, mas com uma ressalva que deixarei clara mais adiante.

    Palavra de Deus, como o próprio nome diz, é tudo que sai da boca de Deus. Umas coisas Deus ordenou que fossem escritas para nossa instrução (cf. Rm 15.4). Outras, por alguma razão, não foram escritas. Vemos isso em 2Jo e em 3 Jo: “Tendo muito que escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar face a face, para que o nosso gozo seja cumprido.” (2Jo1.12); “Tinha muito que escrever, mas não quero escrever-te com tinta e pena. Espero, porém, ver-te brevemente, e falaremos face a face.” (3João 1.13,14)

    Não há dúvidas de que o fato de o apóstolo ter escolhido falar oralmente a instrução de Deus em vez de pô-la por escrito não retira da mensagem divina sua condição de Palavra de Deus, pois não veio do apóstolo, mas do Espírito Santo, que inspira os profetas (2Pe 1.21).

    O apóstolo Paulo deixa isso bem claro quando diz: “Por isso é que também nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, QUE DE NÓS OUVISTES e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como PALAVRA DE DEUS, que age eficazmente em vós, os fiéis.” (1 Tessalonicenses 2.13)

    Embora na teoria este posicionamento católico/ortodoxo esteja correto (ao menos pra mim parece correto), na prática é quase impossível encontrar um exemplo de autêntica Palavra de Deus transmitida oralmente pelos apóstolos.

    Com efeito, o Catecismo da Igreja Católica com acerto diz (e eu concordo):

    “A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação. (…) A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito Santo. De facto, a primeira geração de cristãos não tinha ainda um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o processo da Tradição viva.
    É preciso distinguir, desta Tradição, as ‘tradições’ teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais, nascidas no decorrer do tempo nas Igrejas locais. Elas constituem formas particulares, sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diferentes épocas. É à sua luz que estas podem ser mantidas, modificadas e até abandonadas, sob a direção do Magistério da Igreja.” (Catecismo da Igreja Católica, 81 e 83)

    Fonte: https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c2_50-141_po.html

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  8. Vejam que é a própria Igreja Católica, em documento oficial, quem diz que é preciso distinguir a Tradição (com T maiúsculo, que é Palavra de Deus) da tradição (com t minúsculo, que não é Palavra de Deus). Igualmente, é a própria Igreja Católica, no mesmo Catecismo, quem afirma que a Tradição que é Palavra de Deus é apenas aquela que foi transmitida pelo Espírito Santo ou por Jesus aos apóstolos e estes repassaram oralmente, e não qualquer outro ensino ou mensagem passada oralmente ainda que por um dos pais da Igreja.

    Vejam que O Catecismo católico afirma que é à luz da Sagrada Tradição que a tradição dos homens deve ser analisada para ser mantida, modificada ou abandonada.

    Por analogia, também será à luz das Escrituras que a tradição dos homens deve ser analisada para ser mantida, modificada ou abandonada.

    O erro da Igreja Católica não foi considerar a Bíblia e a Tradição como fontes da fé, mas de (pasme) confundir o que eles mesmos definem e chamar de Tradição o que não passa de tradição dos homens.

    Em mais de 20 anos acompanhando debates de católicos com evangélicos, e depois de ler centenas de textos do Magistério da Igreja, inclusive do famoso livro de Denzinger, que tenho em casa, JAMAIS vi qualquer afirmação de que a tradição trazida para argumentar a favor de certa doutrina tenha vindo de algum dos apóstolos que a recebeu de Jesus ou do Espírito Santo.

    Se não li em lugar algum essa afirmação (de que a tradição mencionada veio de um dos apóstolos por inspiração divina ou por revelação de Jesus), muito menos li qualquer tentativa da Igreja ou de apologetas católicos de provar tal proveniência.

    Eles simplesmente pegam a tradição (dos homens) como se fosse Tradição (de Deus).

    Não havendo qualquer prova da existência da Sagrada Tradição, somos obrigados a crer na Sola Scriptura, levados a isso pelo próprio Catecismo católico.

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  9. A Igreja Católica admite que a Igreja Ortodoxa possui sucessão apostólica e compartilha com ela a tradição da Igreja una de Cristo:

    “AS IGREJAS ORIENTAIS que não estão em comunhão plena com a Igreja Católica [ou seja, a Igreja Ortodoxa] celebram a Eucaristia com um grande amor. ‘Essas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam unidos a nós por vínculos estreitíssimos’. Portanto, ‘uma certa comunhão in sacris é não só possível, mas até aconselhável em circunstâncias oportunas e com aprovação da autoridade eclesiástica’.”
    (Catecismo da Igreja Católica, 1399)

    Fonte: https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1210-1419_po.html

    “3. A nossa relação deve refletir a comunhão verdadeira e profunda em Cristo que já existe entre nós, mesmo se ainda não é plena. DE FATO, RECONHECEMOS COM ALEGRIA QUE PARTILHAMOS A TRADIÇÃO DA IGREJA UNA, centrada no mistério da Eucaristia, da qual são testemunhas os santos que temos em comum nos nossos calendários. Por outro lado, as numerosas testemunhas da fé no tempo da opressão e da perseguição do século passado, que mostraram a sua fidelidade a Cristo, são uma semente de esperança nas dificuldades de hoje.”
    (Declaração conjunta do papa João Paulo II e do patriarca Teocisto, em 12 de outubro de 2002)
    https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/2002/october/documents/hf_jp-ii_spe_20021012_john-paul-ii-teoctist.html

    “14. DURANTE NÃO POUCOS SÉCULOS, AS IGREJAS DO ORIENTE E DO OCIDENTE SEGUIRAM POR CAMINHOS PRÓPRIOS, UNIDAS, contudo, pela fraterna comunhão da fé e da vida sacramental. Quando entre elas surgiam dissensões acerca da fé ou da disciplina, era a Sé de Roma quem, de comum acordo, as resolvia. Entre outras coisas de grande importância, é grato ao sagrado Concílio trazer à memória de todos o fato de que no Oriente florescem muitas Igrejas particulares ou locais, entre as quais sobressaem as Igrejas patriarcais; não poucas delas se gloriam de ter origem nos próprios Apóstolos. Por isso entre os orientais prevaleceu e prevalece a solicitude e o cuidado de conservar na comunhão de fé e caridade aquelas relações fraternas que devem vigorar entre as Igrejas locais como entre irmãs.
    SEMELHANTEMENTE, NÃO SE DEVE ESQUECER QUE AS IGREJAS DO ORIENTE TÊM DESDE A ORIGEM UM TESOURO, DO QUAL A IGREJA DO OCIDENTE HERDOU MUITAS COISAS em liturgia, tradição espiritual e ordenação jurídica. Nem se deve subestimar o fato de que os dogmas fundamentais da fé cristã sobre a Trindade e o Verbo de Deus encarnado da Virgem Maria, foram definidos em Concílios Ecumênicos celebrados no Oriente. Para preservar esta fé, muito sofreram e ainda sofrem aquelas Igrejas.”
    (Concílio Vaticano II - Decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo, n. 14)
    https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html

    Se a Igreja Católica reconhece em documentos oficiais que compartilha da mesma tradição que a Igreja Ortodoxa, essa tradição não pode ser a Sagrada Tradição, dadas as diferenças doutrinais existentes nelas.

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    1. Muito bom! Eu apenas destacaria que isso que a ICAR chama de "Tradição" (com "T" maiúsculo) não é uma tradição de fato (no sentido de algo que é preservado com o passar do tempo), mas apenas uma fonte de transmissão (i.e, a oralidade). Como não existe nenhuma evidência de que esse conteúdo pregado oralmente foi preservado e ninguém nem mesmo sabe o seu conteúdo, não dá nem pra chamar de "tradição" propriamente dita.

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  10. Lucas, boa noite gostaria de fazer-lhe umas perguntas: Porque a Igreja Ortodoxa nunca teve uma Inquisição no mesmo estilo que a Igreja Católica? (pelo que li, os ortodoxos também praticavam perseguição religiosa, mas nunca foi de forma institucionalizada como a Inquisição da ICAR) Porque apesar de ter convertido os povos eslavos, a Igreja Ortodoxa nunca proibiu traduções da Bíblia igual à ICAR fez durante muito tempo proibindo traduções do latim pra língua vernacular? (Inclusive pelo que li, as Igrejas Ortodoxas eslavas eram bilíngues usavam tanto grego koiné quanto o eslavo eclesiástico nas missas e cultos, se você não sabe o eslavo eclesiástico é uma língua litúrgica que tem origem no proto-esclavo antigo dos séculos VI ao VIII)

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    1. Acredito que seja porque a Igreja Ortodoxa nunca teve no Oriente a força e a independência que a Igreja Romana conseguiu ter no Ocidente. Enquanto no Ocidente os papas mandavam nos imperadores e ganhavam nessa queda-de-braço, no Oriente os patriarcas sempre foram capachos do imperador, ou seja, nunca tiveram autonomia suficiente para fazer o tipo de coisa que a Igreja Romana fazia à rodo.

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